Quando os executivos da agência internacional de publicidade AKQA convidaram o Estúdio Penha para projetar o primeiro espaço da marca no Brasil, fizeram um pedido muito especial: que o escritório tivesse o clima de aconchego de uma casa e a mesma alma dos demais projetos da equipe de arquitetos.
Por ser uma agência de publicidade, nos pediram um pouco de irreverência e espaços flexíveis, que permitissem outros usos, assim como essa arquibancada que projetamos Vitor PenhaEsse desejo ficou claro já na escolha do imóvel que abrigaria a empresa na cidade de São Paulo: um charmoso sobrado de 1970, o qual foi completamente reformado para se transformar no espaço corporativo da marca, que, vale dizer, foi fundada em 1995 em Londres e hoje já se faz presente em diversos países.
A estrutura da casa em que a agência foi implantada é marcada por arcos e paredes estruturais em tijolo maciço, criados pelo antigo proprietário e preservados durante as obras. A premissa foi manter essa essência construtiva do local, integrar os novos volumes aos existentes, ter um jardim por toda a extensão e aplicar soluções sustentáveis de consumo.
Além disso, o novo programa deveria atender às necessidades do escritório e seus 40 funcionários, incluir espaços de convívio para os clientes e equipes, salas de reunião e área de apoio, tudo de forma integrada. Para isso, a reforma exigia uma ampliação horizontal e vertical.
Todos os recuos foram usados como ambientes permeáveis do lado externo, criando o tão desejado jardim que contorna a edificação. A antiga piscina do sobrado foi transformada em uma arquibancada para projeções de filmes e apresentações de trabalhos. “Por ser uma agência de publicidade, nos pediram um pouco de irreverência e espaços flexíveis, que permitissem outros usos, assim como essa arquibancada que projetamos”, menciona o arquiteto Vitor Penha.
A irreverência do projeto começa já na fachada, cujo muro não encosta no chão – a vegetação passa por debaixo dele e cria a leveza necessária que equilibra com a altura. O acesso principal ao escritório é feito por uma caixa de ferro oxidado que leva para a recepção e para o espaço de exposições com um pé-direito triplo que vai até o teto inclinado. Para a arquiteta Simone Balagué, esse é o ponto mais convidativo da AKQA. “Da recepção é possível olhar para o teto e ver os outros dois andares. E também tem um mezanino na área de trabalho a partir do qual se vê a cozinha”, conta.
O corredor se expande para as salas de reunião, distribui as tubulações aparentes de toda a infraestrutura e, no fundo, se encontra com a sala de reunião principal. Da recepção é possível olhar para o teto e ver os outros dois andares. E também tem um mezanino na área de trabalho a partir do qual se vê a cozinha Simone BalaguéEste é um volume novo do projeto de arquitetura e de interiores, com divisórias em caixilhos de vidro que permitem a contemplação do jardim desde a entrada.
A nova circulação vertical, localizada onde era uma antiga escada, ganhou destaque pelos elementos vazados como degraus e guarda-corpos feitos em tela metálica. Ela está entre esquadrias de vidro, uma com visão do jardim lateral e outra para o pátio interno.
Portas camarão foram utilizadas para integrar o interior e o exterior no térreo, permitindo uma abertura maior, além de uma boa ligação visual e física entre as salas e o jardim. É nesse pavimento que ficam as áreas de atendimento e apoio aos clientes.
O primeiro andar é voltado para o fundo da agência, onde está a área de staff. Parte dessa sala possui um pé-direito duplo interligado com o refeitório, localizado no último pavimento e iluminado por grandes caixilhos. Na frente, o volume novo em balanço, que abriga as salas de brainstorming, serve de cobertura para a entrada e a garagem da AKQA.
O pavimento superior é constituído por dois mezaninos. Um é a área de lazer, que se comunica com a recepção, e outro o refeitório de frente para o staff –ambos integrados por uma grande laje verde com plantas de porte médio.
Entre os materiais predominantes na agência estão a madeira de reúso (certificada) e outros que já compunham a antiga casa, como os azulejos
O acesso ao jardim externo é feito por dois grandes portões de madeira que substituem as paredes e se abrem de forma a integrar o exterior com o interior e também a proteger da entrada do sol face leste e oeste. Em dias de chuva ou frio, uma pequena abertura neste painel permite uma circulação protegida dos colaboradores pelo local.
A cobertura tem toda a recolecção de águas pluviais, que descem para um reservatório perto da recepção, responsável pelo abastecimento das caixas d’água destinadas aos banheiros e irrigação Veronica MolinaFoi feita uma cobertura com telha termoacústica inclinada para a face norte para controlar a insolação. Já na fachada sul, um grande caixilho envidraçado permite a entrada de luz natural em todo conjunto através dos mezaninos. “Usamos bastante vidro na parte sul e o novo telhado com a telha termoacústica ao norte, justamente para ter bastante luminosidade ao invés do sol direto”, menciona Balagué.
Para minimizar o consumo de energia elétrica e água tratada, placas solares ajudam no recolhimento da água da chuva para reutilização, e a iluminação é toda em LED. “A cobertura tem toda a recolecção de águas pluviais, que descem para um reservatório perto da recepção, responsável pelo abastecimento das caixas d’água destinadas aos banheiros e irrigação”, explica Molina.
A adaptação do novo projeto à volumetria antiga exigiu um reforço estrutural. Para isso, foi usada a estrutura metálica onde os pilares fizeram a ligação vertical de todos os pavimentos, elementos novos e remanescentes.
Apesar de a integração permear todo o projeto, foi preciso pensar em soluções que garantissem a privacidade e a tranquilidade para o trabalho. Assim, foram adotadas nuvens e portas acústicas nas salas de produção e de reunião principal.
O elemento que traz identidade para a edificação é o patchwork de antigas grades de ferro que, além de decorar a fachada, funciona como brises para os novos volumes da edificação. A solução desenha o piso como uma renda feita pela luz do sol da manhã.
Um dos objetivos foi deixar claro e harmônico o contraste entre o clássico e as novas intervenções. Assim, as paredes antigas foram descascadas, e os tijolos, deixados aparentes. As novas paredes, receberam bloco de concreto estrutural com paginação linear, contrapondo com a paginação amarrada dos tijolos existentes. “Decidimos aproveitar as paredes que eram de tijolo maciço, por isso tivemos que usar a estrutura metálica, porque foi preciso demolir várias paredes”, conta Balagué.
Na parte externa, as paredes e muretas novas, incluindo fechamento de janelas existentes, foram feitas de concreto moldado in loco. Os vãos das janelas antigas foram conservados e fechados por vidros novos.
[...] Como a agência é internacional, precisava ter ‘cara’ global, então incorporamos muito o estilo escandinavo para essa atmosfera Ricardo SouzaUma malha complexa de dutos e cabos foi projetada para passagem de elétrica, hidráulica, iluminação, rede, som, sprinklers e ar-condicionado, tudo de modo aparente, deixando claro a infraestrutura complexa que faz a agência AKQA “funcionar”.
Os grandes caixilhos de ferro do tipo industrial permitem a entrada de luz natural durante o dia e a integração constante com os jardins externos, bem como a vista da cidade quando se está na cobertura
O design de interiores foi montado a partir de quatro fontes: designers que assinam peças icônicas brasileiras, como Sergio Rodrigues e Lina Bo Bardi; brasileiros contemporâneos como Jader Almeida, Marcus Ferreira e Felipe Protti, cujas obras conversam diretamente com as dos primeiros citados; e ainda peças internacionais, principalmente do mobiliário escandinavo, como as cadeiras de Hee Welling e Hans Wegner e as luminárias de Fabien Dumas, Ingo Maurer e Tom Dixon. Completando a proposta, algumas peças foram desenhadas pelo Estúdio Penha para tarefas específicas do cotidiano da agência.
“Havia a necessidade de desenhar algumas peças, porque nem sempre as que são oferecidas no mercado conseguem atender a todas as demandas. Como a agência é internacional, precisava ter ‘cara’ global, então incorporamos muito o estilo escandinavo para essa atmosfera”, revela o arquiteto Ricardo Souza.
Apesar de a decoração ser fragmentada em diferentes cômodos, cores e materiais (como o ferro e o couro natural, a madeira, as pedras e os tecidos em tons neutros) conseguiram manter uma unidade conceitual e visual que não compete com a arquitetura marcante da AKQA. “Ao contrário, eles se assimilam e se complementam”, concordam os arquitetos.
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