A moderna obra de Auguste Rodin, escultor francês, encontrou um porto seguro no Brasil, na cultural, eclética e receptiva capital da Bahia, Salvador, sob a batuta arquitetônica do escritório Brasil Arquitetura.
Antes mesmo da decisão de instalar o Museu Rodin em terras nordestinas, o francês teve duas exposições em São Paulo e uma em Salvador, onde, surpreendentemente, o sucesso foi absoluto. A partir desse fato, Emanuel Araújo – ex-diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte da Bahia – e Jacques Vilain – diretor do Museu do escultor, em Paris – encamparam a ideia de uma filial baiana.
Para abrigar o acervo de 62 matrizes em gesso do Museu Rodin Bahia, foi escolhido o Palacete Comendador Catharino, de 1,5 mil metros quadrados, localizado em uma região concentradora de casarões construídos entre os séculos 19 e 20. O espaço, embora generoso, não era suficiente. Além da reforma, havia a necessidade de uma edícula para servir de depósito.
Para tratar a acústica, revestimos as superfícies com madeira. Mas o melhor de tudo foi poder tornar esse local fantástico em um espaço público Marcelo FerrazMarcelo Ferraz, um dos sócios no Brasil Arquitetura, conta que a intenção era usar o palacete para abrigar a coleção permanente. “Já o anexo receberia exposições temporárias”, explica.
Dois acessos no térreo do Museu Rodin Bahia conduzem à gratificante experiência de explorar o imponente casarão. Neste pavimento, a loja do museu e as salas para arte-educação de crianças dão boas-vindas. Dividido em salas, o primeiro pavimento, que antes era o setor social da residência, hoje é palco de várias exposições, distribuídas em cinco ambientes.
Assim, peças nobres como “O Pensador e o Beijo” foram reservadas para as duas salas maiores, com 150 metros quadrados, ornadas por afrescos rebuscados e piso de marchetaria com madeiras de lei. As salas menores abrigam exposições permanentes. Durante a reforma, este andar foi o mais preservado. Ele também oferece em seu programa um centro de documentação e um memorial com fotos e documentos.
O sótão do Museu Rodin Bahia, com um privilegiado pé-direito de 4,5 metros, transformou-se em sala de concertos. “Para tratar a acústica, revestimos as superfícies com madeira. Mas o melhor de tudo foi poder tornar esse local fantástico em um espaço público”, alegra-se Ferraz.
Todas as intervenções feitas para adaptar o imóvel residencial ao novo uso só foram possíveis com a autorização do Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. As patologias apresentadas pela construção há mais de 10 anos sem reforma precisaram ser descritas minuciosamente em um relatório apresentado pelo escritório Brasil Arquitetura.
Do antigo prédio permaneceram o piso e o forro de cada quarto, os afrescos das salas principais e os pisos de pastilhas e marchetaria. As paredes externas receberam tinta branca.
Da rua enxerga-se o novo bloco anexo acomodado entre árvores frutíferas logo atrás do casarão. O projeto desenvolvido buscou todo o tempo o planejamento de espaços flexíveis. “Criamos ambientes prontos para se adaptar a qualquer exposição, em vez de moldar as mostras ao espaço”, reflete Ferraz.
A circulação também oferece experiências democráticas. O visitante escolhe o trajeto que quer fazer no Museu Rodin Bahia sem ser obrigado a seguir uma trilha. Para possibilitar essa independência, os arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci acrescentaram ao casarão um volume de concreto que concentra parte da circulação vertical, com escadas e elevador.
O extremo cuidado é essencial para preservar totalmente as esculturas de gesso do Museu Rodin Bahia, uma vez que elas podem se deteriorar facilmente Marcelo FerrazCom a mesma área do casarão – 1,5 mil metros quadrados –, a edícula é uma construção de estrutura robusta, de concreto aparente, fechamentos de vidro e treliças de madeira. A ligação entre o novo prédio modernista e o velho palacete vai além da passarela de concreto protendido de 20 metros, que interliga as edificações. Ambas têm personalidade arquitetônica, cada uma em sua época.
No interior do bloco novo, o piso de concreto é resistente ao vai e vem de pessoas. A sala principal, com aproximadamente 200 metros quadrados, tem pé-direito duplo e mezanino com três outras salas. O pátio integra-se à área interna por panos de vidro que podem abrir-se ou fechar-se, dependendo da ocasião. A temperatura e iluminação ideais são controladas por haletas; basta fechá-las para que painéis protejam os grandes panos de vidro, regulando a intensidade da luz e o calor nos ambientes internos.
No prédio antigo, um sistema de monitoramento de temperatura e umidade do ar envia, por satélite, informações para a sede do museu, em Paris. “O extremo cuidado é essencial para preservar totalmente as esculturas de gesso do Museu Rodin Bahia, uma vez que elas podem se deteriorar facilmente”, informa Ferraz.
Com um belo jardim, a área externa está preparada para receber exposições ao ar livre. Nesse espaço, o paisagista Raul Pereira explorou espécies existentes como as mangueiras, caramboleiras e palmeiras, criando um paisagismo tropical. Como as árvores foram plantadas aleatoriamente pelo antigo dono da residência, o profissional ordenou o espaço por meio de caminhos para carros e pedestres. No piso, foram usadas placas quadradas de mosaico branco e vermelho.
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