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Casa Rex

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Ao colocar abaixo uma pacata construção de tijolinhos aparentes, o escritório FGMF Arquitetos expõe feridas, cria novas utilidades para materiais construtivos pesados e recria a identidade de uma empresa a partir de uma nova estética: a da demolição. Imagens: Rafaela Netto
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Estética reinventada

Texto: Tais Mello

O uso de materiais incomuns, a estética ousada e muita criatividade pautaram o projeto da Casa Rex, elaborado pelo escritório FGMF – Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz Arquitetos – para uma criativa agência de design gráfico. O retrofit executado em uma construção dos anos 1940, de tijolos aparentes, no Pacaembu, colocou em boa forma não apenas estrutura, fachada e instalações elétricas e hidráulicas, mas interferiu na forma de trabalho das pessoas.

Com um budget restrito e a necessidade de ter uma obra de execução rápida, os arquitetos e sócios Quem entra vivencia a sensação dessa aparente desordem Lourenço Gimenes Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz apostaram em uma solução econômica e incomum: a desconstrução do partido arquitetônico. “Desfizemos o espaço, fazendo da estética da demolição a identidade da própria empresa”, revela Lourenço.

Aparente desordem

Tudo começa no hall de entrada iluminado de forma cênica, com atmosfera escura e sombria, como se fosse uma espécie de calabouço, causando certa estranheza. Na recepção, vê-se as entranhas do prédio: tijolos, pilares, vigas, lajes aparentes e até os restos de entulhos no chão. As paredes desnudas também revelam a frágil estrutura da casa, composta por diversos tipos de tijolos provenientes das muitas intervenções realizadas ao longo dos anos. O arquiteto Lourenço Gimenes justifica: “Quem entra vivencia a sensação dessa aparente desordem e, à medida que circula pelo espaço, ao observar a exposição do trabalho da agência nas paredes, constrói a ideia de que o principal é o que a empresa produz”.

A obra prova também que é possível fazer um espaço interessante, rico e com baixo orçamento. “Esse é um dos aspectos de que mais gosto. Da apropriação de elementos pesados de infraestrutura, de demolição e da construção civil para realizar espaços leves e interessantes, com investimento restrito, mas com um resultado estético forte. A reinvenção das coisas me agradou muito”, relata Fernando Forte.

A desconstrução como construção

Na recepção, vê-se as entranhas do prédio: tijolos, pilares, vigas, lajes aparentes e até os restos de entulhos no chão. Foto: Rafaela Netto

Desde o princípio o partido foi dividido em três partes: duas salas de reuniões, onde ficam a Um dos aspectos de que mais gosto é a apropriação de elementos pesados de infraestrutura para realizar espaços leves e interessantes, com investimento restrito, mas com um resultado estético forte Fernando Forte recepção e a área de exposição dos projetos realizados pelo escritório; o estúdio aberto, sem divisórias, para favorecer o trabalho em equipe; e a fachada estanque, com acesso controlado.

No meio da aparente desordem, a interessante volumetria do espaço acontece por meio da construção de um grande pé-direito duplo, em mais da metade do ambiente, realçado por uma ‘nuvem’ de luminárias com a função de demarcar os espaços. No trecho restante, manteve-se o pé-direito simples original, cuja parte superior é ocupada por uma ampla sala da presidência sutilmente elevada, a admirar o trabalho da equipe.

A escada-estante feita com material de construção bruta – anéis pré-moldados de concreto, comumente usados em galerias hidráulicas, que empilhados dão origem à estrutura – desempenha funções híbridas ao servir de acesso entre os pavimentos inferior e superior e à passarela de fina espessura, revestida de resina de poliuretano, que liga a sala da presidência ao resto da agência.

A escadaria existente na casa original teve os degraus de concreto substituídos por madeira. Ela leva às salas de reunião e de diretoria, aberta para o fundo, onde se tem a área de produção. O grande estúdio superiluminado – em contraste à recepção – é ladeado por enormes panos de vidro voltados para o jardim. “Para deixar o espaço o mais livre possível, abrimos todas as paredes, acomodando as bancadas de trabalho. O layout foi realizado em conjunto com a agência Casa REX, que definiu as cores e a diagramação da fachada”, relembra Rodrigo.

O lugar nada tradicional é um fértil terreno para a produção criativa em equipe. “Nele, as pessoas são estimuladas pelo próprio espaço; em vez de o espaço funcionar como suporte para a atividade das pessoas”, observa Lourenço.

Fachada radical

A utilização de materiais comuns a obras de infraestrutura como acabamento na fachada mostra Para deixar o espaço o mais livre possível, abrimos todas as paredes, acomodando as bancadas de trabalho Rodrigo Marcondes Ferraz certa brutalidade em contraponto ao trabalho abstrato, minucioso e superqualificado de uma agência de design. Por uma questão econômica e de segurança – havia grande preocupação com esse quesito, por isso a escolha por uma estrutura fechada e blindada –, os arquitetos escolheram um sistema construtivo secundário muito usado para a contenção de encostas, composto por gabiões de pedra. “Tivemos desde o início o aval do dono da empresa. Ele já queria algo diferente, inusitado”, lembra Rodrigo. “Resolvemos, então, radicalizar”, complementa Lourenço.

A fachada com 8 metros de altura é revestida por grandes blocos de gabiões e detém uma paginação específica composta por dois tipos de pedra – arenito vermelho e brita cinza –, contidas em gaiolas metálicas. No lugar de um dos módulos, uma chapa com recortes em negativos exibe o nome do escritório. O destaque acontece não só pelo uso do material rústico, mas pelo contraste de materiais, de tons e em relação aos edifícios vizinhos. “A fachada estanque é meio poderosa e gera um impacto, surpreendendo os transeuntes ao ostentar riqueza e requinte inusitados”, resume Fernando.

Escritório

  • Local: SP, Brasil
  • Início do projeto: 2012
  • Conclusão da obra: 2012
  • Área do terreno: 631 m²
  • Área construída: 603 m²

Ficha Técnica

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