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Estação Antártica C. Ferraz II

Estação Antártica C. Ferraz II
Estrutura em aço e material resistente a chamas são apenas alguns atributos do projeto da nova estação antártica brasileira. Imagens: Divulgação
Estação Antártica C. Ferraz II
Estação Antártica C. Ferraz II
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Estação Antártica C. Ferraz II

Resistência a toda prova

Texto: Tais Mello

Quando a natureza cria condições adversas para o corpo humano, é necessário pensar um edifício quase como se fosse uma vestimenta, um artefato que protege e conforta. Com esse desafio, a equipe de arquitetos do Estúdio 41 projetou a nova casa do Brasil na Antártica como um lugar de proteção e reunião de pessoas responsáveis pela produção de conhecimento científico. O projeto, vencedor do primeiro lugar no concurso internacional Estação Antártica Comandante Ferraz, promovido pela Marinha do Brasil, com organização do Instituto de Arquitetura Brasileiro (IAB), propõe uma arquitetura elevada em quase sua totalidade, onde apenas as áreas técnicas e a garagem tocam o solo.

“Isso traz uma série de vantagens”, justifica João Gabriel, arquiteto coautor do projeto. Ele explica que elevando-se a estação, o impacto no meio ambiente é muito menor, uma vez que o contato com o solo se dará apenas pelos apoios verticais, ao mesmo tempo em que auxilia no comportamento estrutural do edifício e evita o acúmulo de neve nas extremidades. De olho nas questões ambientais, primordiais para uma região frágil como a Antártica, projeto estrutural e sistema construtivo foram escolhidos a dedo.

Da estrutura de aço vem a alta capacidade de reciclagem, facilidade de montagem e desmontagem. Já o sistema construtivo prevê peças leves e pré-montadas. Aliado a isso os compartimentos internos serão módulos com medidas semelhantes a conteineres. João relata que a ideia é construir o máximo da estação sob condições ambientais normais, para diminuir o tempo de montagem na Antártica. E completa: “A pré-fabricação é o principal diferencial. Ela traz uma série de dificuldades e desafios na etapa de projeto, mas facilitará a execução”. Para envolver o edifício, serão utilizados painéis compostos de chapas de aço e recheio em pur. Internamente, a prioridade é a escolha de materiais altamente resistentes a chamas”, conta o arquiteto.

Estruturas e materiais

A escolha por estruturas principais em aço de alta resistência à corrosão e ao clima frio, minimiza a necessidade de manutenção. A estrutura em aço de suporte aos pisos é constituída por treliças posicionadas em grelha e está modulada em painéis de 600 x 1.200 cm podendo ser pré-fabricadas antes de transportadas ao sítio de implantação.

O contraventamento das estruturas que sustentam as coberturas e paredes é realizado com paredes A pré-fabricação é o principal diferencial. Ela traz uma série de dificuldades e desafios na etapa de projeto, mas facilitará a execução João Gabriel treliçadas transversais posicionadas a cada, no máximo, 12 metros de distância. Internamente, diversos ambientes podem ser pré-fabricados em componentes modulares de madeira, como os camarotes e Unidades Isoladas, por exemplo. “Assim é possível transportar estes habitáculos já montados a partir do Brasil, inclusive com seu mobiliário específico”, informa João Gabriel.

Quanto ao comportamento dos solos para as fundações, a partir da interpretação dos ensaios triaxiais, já se pode perceber a necessidade de estabilização (contenção) das bordas das áreas das obras e a previsão de drenagens capazes de drenar a água infiltrada e superficial, auxiliando no processo de melhoria da estabilidade dos solos ao redor da área.

Calefação automatizada

Para a calefação está previsto um sistema radiante, com radiadores instalados em cada ambiente interno. Os radiadores são conectados individualmente em sensores de presença e termostatos que, por sua vez, enviam informações ao sistema de automação. São diversas as vantagens deste sistema em relação a um piso adiante, por exemplo. O sistema de radiadores é mais barato, mais fácil de instalar, com menor custo de operação, além de permitir uma setorização otimizada por ambiente, ou seja, caso um radiador não esteja funcionando, ele pode ser desligado de forma independente do resto do sistema.

Resistência em dobro

O fato de a base haver sido incendiada em 2012 influenciou, e ainda influencia, nas diretrizes da nova construção. “O trauma causado pelo incêndio é enorme. Tratamos o tema com muita sensibilidade e buscamos desde o início soluções que trouxessem uma sensação de segurança maior para o usuário”, revela João. Por causa da linearidade da construção, a saída foi compartimentar – separar – os diferentes setores que, por sua vez, possuem diferentes riscos. “Nesses interstícios implantamos saídas de emergência. São cerca de 10 na proposta enviada ao IAB”, conta João.

O acidente também carrega simbolismo à nova construção. Além de representar a presença As decisões devem ser tomadas de modo cuidadoso, pois é preciso respeitar a natureza e entender os desafios a serem superados, antes de se chegar ao edifício construído João Gabriel brasileira na Antártica como possibilidade de contribuição científica em conjunto com a comunidade internacional, significa a oportunidade de desenvolvimento tecnológico para a arquitetura brasileira e para a indústria nacional.

Por outro lado, o processo de criação do projeto leva a entender aos poucos a fragilidade da vida humana e como deve-se agir para resolver problemas construtivos, funcionais e sensoriais. Segundo João, “por isso as decisões devem ser tomadas de modo cuidadoso, pois é preciso respeitar a natureza e entender os desafios a serem superados, antes de se chegar ao edifício construído”.

Construção em blocos

Suspensos sobre pilares reguláveis de modo a adaptar-se às mudanças provocadas pela variação de temperatura e ao degelo, os edifícios estão divididos em dois blocos implantados em níveis diferentes. O bloco leste, mais próximo à praia, traz os laboratórios, áreas de convívio, operação e manutenção – todas compartimentadas, dependendo do uso. O bloco oeste contém os camarotes e o restante da área social. Implantada em uma cota superior, a construção permite visualizar a Baía do Almirantado.

Quando implantados, os blocos principais, em conjunto com heliponto, garagem e tanques de combustíveis, definirão uma praça de logística ao norte do complexo principal. A implantação é completada com as plantas de painéis fotovoltaicos, também ao norte, e de turbinas eólicas VAWT a sudoeste. A Marinha do Brasil espera inaugurar a nova base no final do verão de 2015.

Zoneamento Ambiental de Uso

A implantação dos edifícios é parte da interpretação do território e das condições geográficas da região, que leva em consideração a topografia da Península Keller e as necessidades de preservação das áreas de vida animal e vegetal do entorno, entre outros fatores.

Diversas condições previstas pelo Zoneamento Ambiental de Uso são respeitadas, para minimizar os impactos na natureza. Uma delas é o limite para a implantação do edifício, que seria na área já ocupada pela antiga estação ou impactada por ela. “Nossa proposta respeita todos esses limites traçados pelo zoneamento”, garante o arquiteto.

Escritório

  • Local: AN, Polo Sul
  • Início do projeto: 2013
  • Conclusão da obra: 2015
  • Área do terreno: 3.200 m²

Ficha Técnica

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