Do antigo sobrado residencial ainda é possível identificar as duas grandes janelas na fachada frontal e o recuo lateral. Mas o desenho típico de um partido tradicional de vila, comprido e exíguo, ganhou novos contornos, à medida que o programa interno se adaptou a um ateliê e escritório de um casal.
"A maior necessidade estava em projetar espaços amplos, para que o ambiente pudesse ser flexível. Assim, a solução foi liberar os dois pavimentos. Todas as paredes internas e escadas existentes foram demolidas, e o piso ganhou unidade ao ser executado em granilite. Essas transformações resultaram em dois salões com plantas totalmente livres", conta a arquiteta Paula Zemel.
Os pavimentos foram estabelecidos com acessos independentes a partir da área do recuo lateral. Esse trecho atua como um hall comum de entrada e permite o fluxo tanto para o escritório inferior quanto para o superior, por meio de uma escada.
“Sob esse conjunto fizemos uma passarela de nove metros que toma a área da copa inferior e, ao mesmo tempo, serve como piso da copa e dos banheiros no pavimento superior. Tudo isso está coberto por um telhado de vidro incolor, que permite a entrada indireta da luz natural nos salões”, explica a arquiteta.
O principal elemento dentro do projeto é a estante de concreto aparente, composta por várias prateleiras fixadas em montantes e preenchidas por livros, mas que exerce duas funções básicas.
“Ela organiza o espaço, ao definir a área mais pública do escritório, como a circulação, as copas e os banheiros, além do ambiente mais reservado, que é o próprio salão de trabalho. Mas também possui uma função estrutural, pois sua concepção pré-fabricada é, na verdade, um conjunto de pilares em lâmina que forma os montantes verticais destinados a segurar a viga metálica”, explica o arquiteto Eduardo Chalabi.
“No mais, a estante de concreto é uma espécie de biblioteca, um espaço destinado ao conhecimento, além de ser visualmente muito bonita”, complementa Paula Zemel.
O projeto também implicou na retirada do estuque, no salão superior, e na restauração das tesouras de madeira que ficaram aparentes, o que contribuiu para dar maior amplitude ao local. Já as áreas molhadas da edificação, banheiros e copas, foram locadas em uma torre de concreto ripado pigmentada na cor preta.
Duas áreas livres e permeáveis mantiveram-se no lote, como o espaço de recuo frontal, que serve de estacionamento para veículos. Nos fundos, uma área aberta é destinada às reuniões de caráter mais informal.
Eduardo conta que na parte da frente foi colocada uma porta pantográfica. A ideia partiu do proprietário, um artista plástico. “Embora no início não considerássemos uma alternativa adequada, depois percebemos que não havia como deixar de usar esse elemento, que deu um visual incrível e personalizado ao projeto".
As grandes aberturas nas fachadas frontal e dos fundos, enquadradas por caixas de concreto aparente, permitiram a entrada da luz natural, assim como da ventilação cruzada. Mas a substituição das telhas também teve influência marcante nesse quesito.
“Retiramos as telhas e o beiral que estavam arruinados e substituímos por uma telha metálica ‘sanduíche’ para garantir a propriedade de isolamento termoacústico. Ela também serve como refletor de luz, já que priorizamos o uso da luz indireta. O forro branco permite uma iluminação diáfana, que domina o ambiente de forma mais agradável”, afirma Eduardo.
O espaço também dispõe de sistema de ar condicionado com condensadores localizados na cobertura da torre de concreto, e luminárias “régua”, que direcionam a luz ao teto branco e às superfícies de trabalho.
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