Recuperar a ideia original de passar um dia na praia e, principalmente, retomar o ‘glamour’ vintage do surfe eram propostas dos proprietários para um clube de praia bem diferente, com infraestrutura impecável, complementada por um hotel. Esporte, lazer, cultura e descanso deveriam estar entre as diretrizes na hora de a equipe do Studio MK27 criar o projeto Potato Head Bali Beach Club+Hotel, em Canggu, Bali.
As pessoas contemplam não só a vista da costa, mas uns aos outros, aumentando a atmosfera social e animada do lugar Marcio KoganMarcio Kogan, arquiteto e autor da obra, explica que um exemplo significativo dessa preocupação é a proposta de vender kits para piquenique e churrasco ao público no local. Sem falar na oferta natural da prática de surfe, em função da qualidade excepcional das ondas em frente ao terreno. “Ainda entram nesse clima de férias as redes de vôlei, o aluguel de bolas para esportes diversos e a gastronomia, recheada de diferentes restaurantes e drinques, além de piscina, spa e shows de música”, complementa o arquiteto.
Para orquestrar tantos atributos, os profissionais do Studio MK27 tornaram-se maestros definindo cada elemento no lugar e na hora certos. Nasce, então, um clube à beira da praia onde se encontram desde famílias com crianças até jovens ‘baladeiros’. O fato de haver ainda um hotel diretamente conectado ao clube exigiu dos profissionais soluções arquitetônicas cuidadosas que mantivessem a privacidade dos hóspedes. “Tudo isso precisava estar em função da natureza e da cultura exuberantes do lugar. A harmonia entre o complexo e o entorno era fundamental”, explica Kogan.
Para integrar a construção na paisagem foi necessário considerar a geometria específica do site. “Estávamos em um terreno irregular, em frente ao mar e a um rio”, relembra Marcio Kogan. A solução revela uma grande e sinuosa marquise de concreto que se estende por todo o terreno e permeia as árvores. Ela liga e protege uma variedade de usos e alcança até a área do hotel, originando pátios internos com vistas para os quartos que não estão em frente ao mar.
O arquiteto relata que, diferentemente de outros projetos para hotéis que, na implantação dos quartos, visam apenas a vista para o mar, o Potato Head busca também a socialização entre hóspedes e usuários do espaço. “Assim pessoas contemplam não só a vista da costa, mas uns aos outros, aumentando a atmosfera social e animada do lugar”. Kogan revela que a inspiração e principal referência veio da Marquise do Ibirapuera, referência por seu formato generoso.
Os dormitórios ganham identidade extra ao contemplarem o uso de brises e painéis revestidos de bambu – material abundante na região, que os transforma em caixas. À noite, quando a luz interna transpassa o fechamento irregular de bambu, eles parecem pequenas lanternas. Os quartos ficam espalhados por baixo da laje de concreto da marquise, transformando o hotel em uma vila sob lajes curvas. Sem corredores fechados, cada dormitório tem um terraço exclusivo com vistas privilegiadas: para a praia, para o rio ou para os pátios interiores de vegetação densa.
Na medida que nos afastamos da praia, acrescentamos lajes para viabilizar a quantidade de quartos solicitada, diminuindo assim o impacto visual do edifício à beira do mar Marcio KoganA verticalização acontece somente no fundo do terreno criando, na faixa de areia e na área próxima a ela, uma escala muito mais agradável para aqueles que estão no térreo. “Na medida que nos afastamos da praia, acrescentamos lajes para viabilizar a quantidade de quartos solicitada, diminuindo assim o impacto visual do edifício à beira do mar, onde existirá uma única laje”, declara o arquiteto.
O programa divide-se em zona pública, semipública e privada de forma singela. Existem áreas técnicas e de serviço em um pavimento semienterrado. Já o clube de praia encontra-se à frente do mar e do rio, onde em sua grande maioria existe um quebra-mar. A seu lado, os arquitetos estão propondo um alargamento do passeio para aumentar a área pública. “A ideia é ser amigável e garantir o acesso livre, tanto quanto possível, a convidados, turistas e moradores”, reflete Kogan.
A piscina localiza-se em uma cota um pouco mais alta, separando área pública e semipública, enquanto a vegetação densa delimita área semipública (clube de praia) da área privativa (hotel). Todos os espaços do projeto podem ser acessados por rampas ou elevadores.
Como o local encontra-se em uma zona de terremotos, a estrutura requereu no projeto alguns cuidados construtivos especiais. Um exemplo disso, conta Marcio Kogan, são os pilares que, a princípio, deverão ter sessões maiores do que as utilizadas usualmente. Outra questão é o risco de inundação devido à influência das marés e o regime de chuvas intensas em determinados meses. Isso demandou uma análise combinada e complexa para a determinação do nível máximo que o rio pode chegar.
Entre os materiais utilizados destacam-se o concreto na grande marquise, o mosaico português no piso e o bambu como fechamento dos quartos.
A ideia é ser amigável e garantir o acesso livre, tanto quanto possível, a convidados, turistas e moradores Marcio KoganO uso de materiais locais, como pedra e bambu; recursos naturais a exemplo do sol e da água pluvial; e o paisagismo com espécies nativas, contribui para a sustentabilidade. O clima ensolarado de Bali favorece a iluminação natural nas áreas comuns e nos quartos do hotel, assim como células fotovoltaicas e aquecimento solar. A projeção da marquise protege os quartos do sol, diminui a necessidade do uso do sistema de ar condicionado e aumenta a eficiência térmica.
O local de implantação do projeto é outro ponto importante. Inserir os dormitórios ao longo do terreno, principalmente na parte de trás, além da vegetação, permite que o ruído proveniente da área comum (beach club) seja ‘filtrado’, chegando na área dos quartos com menor intensidade.
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