Texto: Naíza Ximenes
Iquipari, cujo nome é de origem indígena, é um distrito do município de São João da Barra, no Rio de Janeiro, que abriga um grande tesouro nacional: a Lagoa de Iquipari. De águas limpas e tranquilas, a lagoa faz parte de uma grande reserva ambiental. Se antes o local já era conhecido pela imensa biodiversidade de fauna e flora, hoje divide a fama com a Reserva Particular do Patrimônio Natura (RPPN) Caruara, um complexo projetado pelo escritório ST Arq.
Stephan Steyer, arquiteto sócio-fundador da ST Arq, é quem conta sobre o projeto transformador, que aconteceu em 2021. Ao receber o convite da SUM Engenharia para desenhar o espaço, ele e a equipe de arquitetos do escritório se viram frente ao desafio de aprimorar um projeto preexistente, dentro do orçamento. "Recebemos um projeto simplificado, mas enxergamos potencial para algo grandioso”, ele conta.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Caruara, pertencente ao Porto de Açu, emergiu como um refúgio natural crucial. Além de seu compromisso com a preservação das tartarugas marinhas, a RPPN buscava redefinir sua interação com a comunidade local. O desafio era grande: modernizar suas instalações enquanto mantinha o equilíbrio ecológico.
Nossa missão foi transformar a RPPN em um santuário moderno sem comprometer a integridade ambiental do local Stephan Steyer, arquiteto sócio-fundador da ST Arq
O terreno, embora plano, apresentava desafios únicos. Com uma área delimitada pelas regulamentações ambientais, a equipe apostou em uma implantação em semicírculo, orientada para otimizar a experiência do visitante.
Além disso, o projeto foi concebido com um compromisso inabalável com a sustentabilidade. Da escolha dos materiais à integração de estratégias de iluminação e ventilação natural, cada decisão foi guiada pelo respeito ao meio ambiente.
A busca por certificação Green Building levou a soluções inovadoras, como o uso de madeira local e telhados com alta resistência aos ventos.
Um dos aspectos mais cativantes do projeto é sua simplicidade elegante. Utilizando da alvenaria e da madeira maciça, a equipe criou uma estética atemporal e acolhedora. A integração harmoniosa desses elementos naturais é o verdadeiro coração do empreendimento.
Logo na entrada, o empreendimento recebe os visitantes com uma área de estacionamento marcada por um piso de brita – uma escolha que visava garantir a permeabilidade no chão. Uma vez dentro do complexo, eles são recebidos por uma estrutura de apoio, incluindo vestiários e uma área destinada a um restaurante ou museu, além de espaços de recreação infantil – o primeiro dos três edifícios.
Os outros dois prédios têm usos distintos: um deles com uma área dedicada ao tratamento das tartarugas – composta por piscinas e caixas d'água adaptadas para atender às necessidades desses animais – e o outro ocupado pelo prédio principal, que abriga um auditório, áreas administrativas e um rooftop com vista panorâmica para a reserva. Para garantir a acessibilidade ao espaço, a equipe apostou em grandes portas de correr e uma plataforma de acesso ao rooftop.
Outro ponto interessante foi a construção de um anfiteatro ao ar livre, decorado com arte temática de tartarugas, oferecendo um espaço acolhedor para os visitantes. Um deck foi construído até o nível da lagoa, garantindo acesso facilitado para aqueles que desejam utilizar barcos ou embarcações. Essas instalações foram planejadas com cuidado, visando não apenas o entretenimento, mas também a preservação e o conforto dos visitantes da reserva.
Alessandro Sciulli, que também é arquiteto da ST Arq, comenta que a alvenaria com pintura foi a escolha perfeita para o revestimento das estruturas, por ser uma estratégia que reunia princípios como estética, economia e sustentabilidade em uma única ação.
“Além da alvenaria com pintura, os acabamentos internos de piso ganharam revestimento em cerâmica, tijolo, cera e tijolo maciço como piso”, explica Steyer. “Nós só passamos um pouco do estipulado na estrutura metálica e na telha sanduiche no teto, por questões ambientais. Foi um método que diminuiu a incidência de calor, aumentou o sombreamento do local e diminuiu a necessidade de ar-condicionado. São materiais muito simples, assim como a caixilharia toda em madeira maciça, que representou um grande esforço da construtora de procurar fornecedores locais para que tudo que fosse utilizado, fosse desenvolvido nos arredores”, ele conta.
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