Com um partido adotado para responder a um só tempo às condições urbanísticas da cidade de Brasília – incluindo as características topográficas do terreno – e ao caráter da arquitetura pretendida, a nova sede do Sebrae Nacional é mais do que um edifício, é um conjunto arquitetônico. O projeto enfatiza a espacialidade interna, para promover a melhor integração dos usuários e da paisagem natural, propõe a máxima flexibilidade para a organização dos escritórios e preocupa-se em obter um ótimo desempenho ambiental e econômico.
Há uma escala serena que se encaixa ali na paisagem urbana de Brasília de maneira tranquila, como se fosse parte da arquitetura existente tão admirada por nós, arquitetos Alvaro PuntoniO arquiteto Alvaro Puntoni, do escritório Grupo SP, explica que o resultado do conjunto é uma arquitetura austera, mas não monumental. “Há uma escala serena que se encaixa ali na paisagem urbana de Brasília de maneira tranquila, como se fosse parte da arquitetura existente tão admirada por nós, arquitetos”, reflete.
Toda construção desenvolve-se a partir de uma espacialidade interior, o pátio. Trata-se de um vazio que adquire grande presença no interior do conjunto, no qual se localizam as atividades mais públicas. Tudo começou durante a conformação do terreno. “São dois lotes interessantes, porque estão situados entre o eixo rodoviário habitacional e o setor das embaixadas, em frente ao Lago Paranoá, e existe um declive de 9 metros que é típico da cidade de Brasília. A partir desse desnível foi possível organizar um térreo aberto, que chamávamos de superior e um térreo com atividades mais públicas, denominado de inferior”, conta Puntoni.
O térreo aberto e livre oferece uma proteção na chegada, um tipo de sombreamento. “Ele resguarda um pouco esse caminho, que atravessa o terreno quase de ponta a ponta. É um edifício sem portas, o que reflete essa ideia da extensão do chão ininterrupto da capital do Brasil”, analisa o arquiteto João Sodré. Ao redor desta praça interna, no térreo inferior, alojam-se o espaço de formação e treinamento, as salas multiuso, o auditório, a biblioteca e a cafeteria, enquanto no superior estão os principais acessos do conjunto, caracterizados por varandas abertas à cidade e ao lago. Sob esse térreo, ficam as áreas técnicas e de estacionamento; sobre ele, pairam os escritórios.
Flexível, o projeto dos espaços de trabalho admite alterações de arranjos, tanto para os espaços, quanto para os componentes de instalações prediais e de infraestrutura – piso elevado, forro e ausência de pilares no meio dos pavimentos. A área disponível para os escritórios é, realmente, livre. Para conectar todos os setores, criou-se uma estrutura periférica dupla – dois castelos de circulação vertical, infraestruturas e apoios diversos – com múltiplas possibilidades de ligação.
“Há escadas, varandas e elevadores coletivos ou privativos que promovem a comunicação entre os diversos espaços. A circulação incorpora e acentua no desenho do percurso cotidiano a presença do vazio central”, explica Sodré. Todas as redes de infraestrutura se distribuem para o conjunto a partir de lajes com instalações – forros e pisos elevados – e dutos verticais especializados – shafts.
As estruturas aparentes evidenciam a plasticidade do aço e do concreto. Os painéis metálicos quebra-sóis garantem a integridade do conjunto, permitindo o contraste entre a cor natural dos materiais utilizados, o branco da estrutura metálica, o azul do céu e o verde da paisagem envoltória. Mas não é só isso. Este elemento de alumínio microperfurado foi calculado para admitir uma possibilidade de incidência de iluminação natural. “E também para conter o excesso dessa luz, assim como a insolação, procurando preservar os espaços internos de um gradiente térmico característico de Brasília”, observa Sodré.
O projeto de ecoeficiência investe em espelhos d'água sempre sombreados. A razão disso, explica João, é a intenção de amenizar o microclima dentro do pátio. “Se você projeta um espelho d'água totalmente aberto, exposto ao sol, o líquido evapora rapidamente, sem que seja possível aproveitar essa água”. Com a cobertura, o espelho d'água se renova e sempre está com uma temperatura agradável, percebida facilmente quando se está no local ou fora do edifício. “É uma verdadeira proteção térmica para os espaços de trabalho, um projeto de climatização muito eficiente”, complementa Puntoni.
No sistema construtivo, o primeiro elemento de organização é a própria estrutura periférica dupla. São duas empenas estruturais em concreto moldado in loco, que conformam os ‘castelos de serviços’ – com circulação vertical, infraestruturas e apoios diversos.
Os engenheiros Jorge Zaven Kurkdjian e Julio Fruchtengarten descrevem que, para o subsolo, os térreos inferior e superior optaram por concreto moldado in loco com lajes protendidas de 25 cm, apoiadas diretamente nos pilares providos de capitéis. Enquanto isso, nas lajes do pavimento térreo superior, as vigas têm 80 cm de altura. “Já o auditório, apresenta estruturação independente com vigas protendidas espaçadas 2,50 metros, com 16,50 metros de vão e apoiadas nas paredes laterais, sem qualquer interferência na estrutura do subsolo”.
Este elemento de alumínio microperfurado foi calculado para admitir uma possibilidade de incidência de iluminação natural. E também para conter o excesso dessa luz, assim como a insolação, procurando preservar os espaços internos de um gradiente térmico característico de Brasília João SodréPara os dois pavimentos de escritórios optou-se por um sistema de estrutura em aço. “Ela é colocada como segundo plano em relação à estrutura de concreto e está revelada. As instalações acontecem nos planos horizontais – no caso de forros e pisos – e comportam toda a infraestrutura predial e as prumadas verticais, que estão contidas dentro da estrutura de concreto”, conta Puntoni. A interligação entre os dois blocos em nível acontece através de passarelas de concreto vinculadas às vigas superiores dos castelos, por meio de pendurais.
Em vez de complementar a arquitetura do edifício, o projeto de paisagismo interliga o ambiente construído e o natural. “O edifício interpreta as normativas de Brasília e trata com desvelo não somente o céu, mas o chão público da cidade. Assim, o paisagismo proposto interpreta o existente, enfatizando os aspectos mais importantes e reconstruindo relações. A manutenção dos percursos de pedestres é uma das considerações do projeto que oferta novas possibilidades de caminhos como gentileza urbana”, contam os paisagistas Fernando Chacel e Sidney Linhares.
Entre as ações do projeto paisagístico estão a complementação da vegetação arbórea existente no entorno, preservando a feição de cidade-parque de Brasília; a formação de pequenos bosques nas faces nordeste e sudeste, com a utilização de vegetação arbórea típica do cerrado brasileiro; a utilização de jardins de pré-arquitetura, com massas arbustivas em parte dos taludes, valorizando as visuais para o Lago Paranoá e o cinturão verde proposto; implementação de áreas gramadas ou relvadas, com forrações nos taludes e nas coberturas do auditório, contribuindo para o isolamento térmico desejável; e os espelhos d’água localizados no térreo superior.
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