Uma das características mais fortes da Praça das Artes – complexo educacional/cultural – é o poder de surpreender as pessoas – não só por ser uma instalação cultural, mas por promover a requalificação urbanística do centro da cidade de São Paulo. Ela está localizada entre a avenida São João, a rua Conselheiro Crispiniano e o Vale do Anhangabaú. “Como se fosse um polvo pronto a estender seus tentáculos e ocupar espaços”, reflete o arquiteto Francisco Fanutti, do escritório Brasil Arquitetura, uma vez que o projeto tem caráter irradiador e pretende ter outros braços em formação.
O complexo cria um novo diálogo com a vizinhança e com os edifícios históricos que, reformados, Trata-se de uma região com enormes problemas, mas com grande vitalidade e potencial de novos usos Marcelo Carvalho Ferraz irão pouco a pouco se incorporar ao conjunto. “Trata-se de uma região com enormes problemas, mas com grande vitalidade e potencial de novos usos”, pontua o arquiteto e sócio do escritório, Marcelo Carvalho Ferraz. Em parceria com o arquiteto Marcos Cartum, da Secretaria Municipal da Cultura, eles abraçaram o desafio de criar um novo espaço destinado a atividades musicais e de dança.
O conjunto arquitetônico oferece um pavimento térreo totalmente livre, de forma que as construções de concreto aparente se organizam em volumes, garantindo um espaço de circulação aberto e livre, qualificado por vazios e passagens, como se fossem ‘a continuação natural das ruas’, compara o arquiteto Marcos Pasquim. O elemento central é o grande edifício de concreto pigmentado de mais de 28 mil metros quadrados que irá receber a sede da Orquestra do Balé da Cidade, a do Quarteto de Cordas e a das Escolas Municipais de Música e de Dança, entre outras.
A concepção geral do projeto baseia-se em um estudo elaborado inicialmente pela Secretaria Municipal da Cultura, um conjunto de edifícios que abriga os anexos do Teatro Municipal: Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, Corais Lírico e Paulistano, Balé da Cidade, Escolas de Música e de Dança, Centro de Documentação Artística, Museu do Teatro Municipal, Administração, Salas de Recitais, áreas de convivência e estacionamento.
Um grande edifício em concreto aparente pigmentado ocre é o elemento principal para estabelecer o novo diálogo não somente com a vizinhança, mas com os prédios remanescentes que permanecerão, uma vez reformados, como parte integrante do conjunto, como o Conservatório Dramático e Musical, seu edifício anexo aos fundos e a fachada do Cine Cairo. As atividades profissionais estão no Módulo Corpos Artísticos – Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Coral Lírico, Coral Paulistano, Balé da Cidade, Quarteto de Cordas – no bloco a ser construído na área da rua Formosa.
Em um segundo momento do projeto, alguns edifícios da esquina da rua Formosa com a avenida A intricada e original inserção no coração da metrópole surtirá um efeito mais que positivo na vida do cidadão que frequenta o centro. Poderá significar o reencontro do paulistano com o núcleo original da sua cidade, Francisco Fanutti São João deverão também sair de cena, dando lugar a novos blocos que liberarão mais espaço na cota das calçadas para a livre circulação dos transeuntes, reforçando o caráter público e de vida urbana do interior desta importante quadra. O novo bloco a ser construído no terreno lateral abrigará o acervo artístico e os arquivos históricos – Módulo Estacionamento – com acesso pela rua Conselheiro Crispiniano e saída na rua Formosa.
As atividades educativas serão concentradas no Módulo Escolas – Escola de Música, Escola de Bailado, restaurante, área de convivência e Conservatório, que engloba, além da restauração e adequação do edifício histórico, um espaço dedicado a exposições artísticas, eventos e apresentações musicais.
Construções antigas remanescentes também fazem parte da Praça. Elas foram restauradas e aproveitadas na obra, como a fachada do Cine Cairo que, embora não seja tombada, foi mantida como memória e testemunho de outra época vivenciada pela cidade. Já o edifício do centenário Conservatório Dramático e Musical, além de ganhar uma nova personalidade, deixa de ser um objeto isolado na cidade para se tornar parte da Praça das Artes, abrigando uma sala de concertos, música de câmara e auditório com grande qualidade acústica.
O programa é complexo. Para se ter uma ideia, na sala de ensaio de dança, cem dançarinos poderão atuar e, logo abaixo, um violinista fará o ensaio de seu solo. Tudo isso sem haver qualquer vazamento de som. Com tamanha eficiência, o edifício busca reproduzir em escala menor todas as condições técnicas e de ambientação existentes no Teatro Municipal, com condições acústicas excepcionais. Para isso foram utilizados até mesmo amortecedores para absorver ruídos e vibrações que pudessem repercutir nos ensaios.
“A intricada e original inserção no coração da metrópole surtirá um efeito mais que positivo na vida do cidadão que frequenta o centro. Ela poderá significar o reencontro do paulistano com o núcleo original da sua cidade”, reflete Francisco. Com um programa de dimensões generosas, mais que conquistar o prêmio APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte – de 2012, de melhor Obra de Arquitetura, o projeto aspira vencer a paisagem castigada e esquecida da área central de uma das maiores metrópoles do mundo, restituindo-lhe beleza e vida.
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