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A Casa - Museu do Objeto Brasileiro

A Casa - Museu do Objeto Brasileiro
O escritório RoccoVidal Perkins+Will encarou o desafio de trazer para a arquitetura a expressão cultural popular brasileira. Imagens: Daniel Ducci
A Casa - Museu do Objeto Brasileiro
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Fachada artesanal

Texto: Gabrielle Victoriano

No museu A Casa, criamos tramas que fazem referência à arte da cestaria, só que com a utilização de brises Luiz Fernando Rocco

A história do projeto A Casa – Museu do Objeto Brasileiro começou com Renata Mellão – diretora do espaço –, que abrigava em sua residência exposições relacionadas ao artesanato brasileiro. Hoje, a nova sede dessa associação sem fins lucrativos ocupa um terreno em uma área nobre da cidade de São Paulo, na Avenida Pedroso de Moraes, próximo ao Instituto Tomie Ohtake. O projeto é do escritório RoccoVidal Perkins+Will, que encarou o desafio de trazer para a arquitetura a expressão cultural popular do país – de gênese artesanal, semiartesanal ou industrial.

“A Renata sempre propiciou uma história com o artesanato brasileiro. No museu A Casa, criamos tramas que fazem referência à arte da cestaria, só que com a utilização de brises”, conta Luiz Fernando Rocco. As peças em terracota extrudada têm entre 30 e 50 centímetros. O arquiteto Douglas Tolaine complementa: “Elas são intercaladas e formam painéis de 1,50 metro de comprimento sobreposto no brise. A maneira como estão arrumados – um cheio, um vazio – dão origem à textura artesanal”.

Terreno e acessibilidade

Localizado em uma esquina, o terreno conecta a área residencial do bairro de pinheiros a uma área de comércio já consolidada. “Ele é uma ponta, uma esquina ingrata da Avenida Pedroso de Morais com a Rua dos Tamanás, porque você tem dois recuos frontais, então a área útil que sobrou foi um pequeno triângulo”, explica Rocco.

Essa era apenas uma das condicionantes para o desenvolvimento do projeto, a outra residia no recuo de cinco metros em todas as faces, e ainda havia as restrições de acesso. Douglas Tolaine explica que para uso comercial, a entrada só poderia ser feita pela Avenida Pedroso de Morais. “Assim, os acessos acontecem em diversos patamares, tanto por suaves rampas quanto pela escada, permitindo que portadores de necessidades especiais possam circular livremente pelo museu”.

As peças de terracota são intercaladas e formam painéis de 1,50 metro de comprimento sobreposto no brise. A maneira como estão arrumados – um cheio, um vazio – dão origem à textura artesanal Douglas Tolaine

Os limites do terreno triangular fazem divisa com um sobrado, que se tornou a administração da instituição – e com uma pequena praça pública, local que converge duas vias lindeiras. A autorização para incorporar a área livre da praça ao projeto dependia da prefeitura. “Descobrir como conseguiríamos integrá-la no projeto foi um desafio, e a aprovação demorou dois anos”, expõe Tolaine.

Com o ganho de área, eliminou-se qualquer tipo de obstrução, favorecendo uma transição contínua e única, como se construção e praça fosse extensão uma da outra. A parte edificada está localizada mais aos fundos, enquanto o bico do terreno foi estendido. “Para isso, usamos o mesmo piso tanto na calçada quanto na praça. Para valorizar o passeio, a paisagista Isabel Duprat lançou mão de vários recursos e soluções, como o destaque dado ao flamboyant existente no local. O resultado é um paisagismo mais integrado”, declara Fernando Vidal.

Volumetria e estrutura

Esta série de desafios – soluções paisagísticas, a circulação proposta para os pedestres e a volumetria do prédio – exigiu 40 versões de estudos durante quatro anos até o projeto chegar na versão final. A construção pousou no ponto mais alto do terreno, voltada para a área residencial do bairro. No pavimento de acesso aos pedestres, uma viga de borda do térreo em concreto, no formato 'V', tem sua fresta voltada para o exterior do edifício. Curiosamente, as vigas desempenham também a função de bancos desde o acesso principal do museu até o final da edificação, quando oferecem suporte aos caixilhos metálicos pivotantes, preenchidos com aletas cerâmicas horizontais.

Os painéis móveis – próximos ao principal acesso da galeria de exposições –, têm a função de melhorar a circulação do ar e a luminosidade da área. Enquanto isso, os demais painéis fixos cuidam da vedação da sala de exposição. Quando abertos, facilitam a manutenção das instalações no miolo da fachada.

Escada articulada

Além do espaço expositivo existe no subsolo uma área locável capaz de acomodar um evento autônomo. “E se for necessário um espaço maior, com o dobro do tamanho, é possível alugar o salão inteiro. Essa possibilidade garante o funcionamento e a preservação do museu”, explica Rocco.

Para fazer a integração entre o subsolo e a área de exposição, sem um atrapalhar o outro, eles recorreram a uma solução implementada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha no projeto da loja Forma, localizada no bairro Cidade Jardim, em São Paulo. Nesse caso, uma escada articulável de acesso interliga o estacionamento à entrada. “Gostamos muito do projeto, e copiamos a solução do Paulo, então a escada metálica articulada desce e sobe, sempre que necessário, sem nenhum mecanismo eletrônico, com o funcionamento determinado apenas pelo contrapeso”, conta Rocco.

Estrutura metálica

As paredes foram feitas de alvenaria, com fechamentos de vidro, estrutura metálica e brises de cerâmica Foto: Daniel Ducci

O projeto é todo desenvolvido em estrutura metálica. A estrutura aparente tem laje maciça de 30 centímetros e exibe uma proteção de alvitra. A escolha deve-se à leveza, plasticidade e funcionalidade exigidas no projeto. A técnica construtiva escolhida permite fácil intervenção a cada nova mostra que chega. Outra grande característica são os brises laterais, que demarcam a entrada e qualificam o pátio aberto do térreo inferior, cujo pórtico recobre o museu com estrutura espacial metálica revestida com painéis industrializados de cimento, cobertura de vidro e fechamentos laterais feitos com tela metálica perfurada.

Para valorizar o passeio, a paisagista Isabel Duprat lançou mão de vários recursos e soluções, como o destaque dado ao flamboyant existente no local. O resultado é um paisagismo mais integrado Fernando Vidal

A combinação do material com aparência de concreto e com a cerâmica das fachadas atribui uma linguagem única que remete à simplicidade e sutileza do objeto brasileiro. Além do efeito estético, os brises criam um conforto térmico de insolação dentro do museu. Fernando Vidal revela que à noite, quando as luzes estão acesas, é possível enxergar de fora para dentro e de dentro para fora.

“Entre os materiais que se destacam, há algumas paredes de alvenaria, bastante vidro, estrutura metálica e esse grande brise com conceito cerâmico inédito, porque ninguém sabe que é uma cerâmica”, conta Vidal.

Iluminação e ar condicionado

Na caixa triangular, que é o museu, funcionam as áreas de exposição, a copa de apoio, uma pequena lavanderia de manutenção, os sanitários e um mezanino. “Como o museu precisa ser o mais maleável possível, a iluminação e a ventilação foram comedidas, principalmente o uso da luz do sol, responsável por danificar as peças e descorar os objetos. Outro fator para o cuidado com a luz é a necessidade de ter uma reprodução de cor perfeita em qualquer exposição”, explica Rocco. Assim, o museu não precisa de uma iluminação natural tão generosa. Todo o maquinário do ar condicionado está no subsolo, sendo distribuído através de dutos e insuflado pelas paredes do mezanino.

Escritório

  • Local: SP, Brasil
  • Início do projeto: 2009
  • Conclusão da obra: 2014
  • Área do terreno: 532 m²
  • Área construída: 1100 m²

Ficha Técnica

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