Em Sorocaba, interior de São Paulo, dois edifícios – onde funcionavam as fábricas Nossa Senhora da Projetamos uma cobertura nova sobre a antiga, deixando a original intacta e aparente Claudia Bassichetto Ponte e a Santo Antônio, que compunham a Companhia Nacional de Estamparia, conhecida por Cianê, inauguradas no final do século 19 e início do 20 – estão sendo restaurados para dar lugar ao Pátio Cianê Shopping. O empreendimento está localizado ao lado do terminal de ônibus da cidade, garantindo boa acessibilidade e fluxo intenso de pessoas. O conjunto de edifícios foi tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico de Sorocaba e, parte dele, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
Na fábrica mais antiga – Nossa Senhora da Ponte –, tanto a volumetria quanto as fachadas foram preservadas. A área dará espaço a um lifestyle com bares e restaurantes abertos ao exterior, como se fosse um comércio de rua. Mais adiante, a entrada principal do shopping é feita por um cubo em vidro transparente que deixa visível um cuidadoso trabalho de arcos de tijolos. Ainda na área da fábrica mais antiga foram instaladas parte da área de lojas e os cinemas. Na área da fábrica mais nova – Santo Antônio – serão instalados dois pisos de lojas, sendo a praça de alimentação no segundo piso, e um terceiro piso com área menor que os demais onde estarão a academia e as áreas técnicas do shopping. Os acessos são vários e podem ser feitos pelas ruas do entorno, inclusive o terminal de ônibus. Serão 207 lojas, academia, cinemas e dois estacionamentos, com capacidade para 1.203 vagas, divididas entre as duas edificações, o que permite a entrada de veículos por pontos distintos. A estrutura também prevê um bicicletário, uma vez que a cidade de Sorocaba conta com 106 Km de ciclovia.
O novo uso exigiu uma reforma não só estética, mas estrutural. Toda a estrutura foi refeita, pois a existente não respondia às cargas necessárias ao funcionamento de um shopping. A pedido do Condephaat, uma das estruturas de cobertura do galpão mais antigo da fábrica com, aproximadamente 1.900 m², permaneceu integralmente conservada. Metálica, delgada, de grande valor histórico e formada por quatro tesouras, ela pedia reforço. “Projetamos uma cobertura nova sobre a antiga, deixando a original intacta e totalmente aparente”, revela Claudia Bassichetto. O restante da estrutura e do telhado original precisou ser refeito, tendo a alvenaria reforçada com estrutura de concreto. O resultado é um novo esqueleto projetado com pilares, vigas, lajes em concreto e uma cobertura metálica, incluindo as zenitais. A passarela em aço, suspensa a 7 m do chão, une os dois prédios e tem fechamento lateral em caixilho de alumínio e vedação com vidro transparente. Especial, este tipo de reforma exige habilidade e uma ótima logística da obra. “No canteiro de obras convivem as edificações que serão mantidas e restauradas com a obra nova que tem que ser executada”, explica Cláudia, e exemplifica: “Um exemplo disso é o restauro das fachadas. Ele está sendo feito desde o início da reforma e será conduzido paralelamente até o final da obra”.
Na antiga entrada de um dos galpões, um trabalho minucioso em arcos de tijolos e a antiga “Mantivemos uma das entradas do shopping neste ponto, e a instalação do cubo de vidro valorizou o espaço Claudia Bassichetto chaminé chamam a atenção. “Mantivemos uma das entradas do shopping neste ponto, e a instalação do cubo de vidro valorizou o espaço”, comenta. O vidro usado é o 'Low-e', um baixo emissivo que controla a transferência de temperatura entre os ambientes externo e interno, sem criar o efeito espelho”, explica a arquiteta. A linguagem utilizada na estrutura e no fechamento em vidro evidencia uma área nova, sobreposta à antiga tombada, que é uma das diretrizes solicitadas pelo Patrimônio Histórico. Já a estrutura metálica utilizada responde pela leveza e rapidez na construção e ainda permite, no futuro, que a estrutura do cubo seja desmontada; e a edificação original, mantida intacta.
Tombadas pelo Patrimônio Histórico, as fachadas de tijolos aparentes foram restauradas integralmente. A tarefa do design foi integrar o conjunto arquitetônico existente às ampliações necessárias para a mudança de uso. Para serem preservadas, várias etapas de restauro precisam ser cumpridas. Um processo que consiste, resumidamente, em: mapeamento dos danos nas alvenarias; limpeza com sabão neutro (é usado detergente nas áreas pichadas); tratamento das infiltrações nas alvenarias por sistema de drenagem; tratamento dos tijolos com danos graves (com substituição, quando necessário) e restauro por obturação nas peças com danos mais leves. Para finalizar, é feito um leve lixamento na superfície, o tingimento dos tijolos, para a uniformização da cor, e, finalmente, a aplicação de hidrofugante. A obra contou com investigação arqueológica, e o material recolhido – ferramentas, utensílios domésticos e tijolos artesanais – foi devidamente catalogado e apresentado ao Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico de Sorocaba e aos representantes do IAB.
Durante a existência como tecelagem, a fábrica passou por reformas e por ampliações. O complexo começou com a Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Ponte, construída em 1881, e teve a primeira ampliação em 1913, com a construção, no terreno ao lado, da Fábrica de Tecidos Santo Antônio. Em 1991, elas foram desativadas. Ainda em 1991 parte da fábrica Nossa Senhora da Ponte foi demolida para a construção de um Terminal de Ônibus. O que restou – alguns galpões – abrigou feiras temporárias, festas e a Biblioteca Municipal. Já a Santo Antônio esteve depredada e ocupada por mendigos nos últimos anos.
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