Afastamentos frontal, posterior e lateral em relação ao curso d’água e quantidade máxima de pavimentos foram as condições urbanísticas que definiram o projeto para o Museu da Tolerância da Universidade de São Paulo (USP). A proposta, do arquiteto Carlos Maia, sócio do escritório Vasconcellos Maia Arquitetos Associados, em parceria com Carlos Alberto Maciel, Débora Vieira e Igor Macedo, foi especialmente projetada para concorrer no Concurso Público Nacional, promovido em 2005.Tendo o concreto como material predominante, a superestrutura é destacada pela grande cobertura iluminada apoiada em grandes empenas perimetrais, que constituem ao mesmo tempo estrutura e vedação, editadas como forma e imagem do edifício a partir da exploração da materialidade. Os sheds – tipo de armação utilizada em coberturas para facilitar a iluminação e ventilação – e as vigas-calha em concreto, utilizadas para o escoamento da água, reeditam o modelo do território coberto: o teto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), local previsto para a implantação do museu. Iluminado e ventilado, o teto cria ambientação adequada para os espaços de trabalho. Em todo o museu, o revestimento foi dispensado. Carlos Maia explica que a integridade física e o rigor construtivo são revelados pela exposição dos materiais brutos: pisos em concreto polido, tetos em concreto ou aço, grelhas metálicas estruturais e grelha em concreto da cobertura. “Todas as partes que asseguram a unidade da construção são elementos expressivos. Eles Todas as partes que asseguram a unidade da construção são elementos expressivos. Eles caracterizam os espaços a partir da oposição entre a superestrutura pesada e os elementos internos metálicos e leves Carlos Maia caracterizam os espaços a partir da oposição entre a superestrutura pesada e os elementos internos metálicos e leves”, declara o arquiteto.
Todo o projeto faz uso da dialética entre a superestrutura pesada e atectônica da grande caixa externa em concreto aparente moldado in loco e a estrutura dos planos internos de piso, que se mostra leve e tectônica. Montada de modo preciso, a estrutura interna é constituída por malha de perfis metálicos laminados de seção ‘I’, suportando painéis leves de laje tipo steel deck.No mesmo projeto coexistem a superestrutura atectônica – quando a interação entre carga e suporte é negligenciada visualmente – e a estrutura interna tectônica, que gera o espaço arquitetônico e define sua aparência. “A exploração de opostos, entre leve e pesado, contribui para evidenciar as relações entre carga e suporte, utilizando a estrutura como expressão do edifício, e não como mero esqueleto”, explica Carlos.Na superestrutura, a angulação imposta a todo o volume cria a tensão e o desequilíbrio, explorados como meio de impor à paisagem do campus um radical desafio à gravidade que revela o domínio sobre as forças e formas cósmicas. Extrai dos contrastes a tensão que caracteriza a edificação, em oposição à harmonia clássica trabalhada pelo arquiteto Vilanova Artigas: do peso do grande volume em oposição à completa ausência de estrutura visível; da estabilidade estrutural que assegura a flutuação no espaço e a instabilidade da forma oblíqua.
No interior, os espaços de estudo e apoio foram separados. Biblioteca, laboratórios, salas de aula, depósitos e apoios para montagem das exposições localizam-se no subsolo. Áreas de exposição e de uso público – restaurante, loja, auditório, cinema – ficam no topo do edifício, que ainda abriga a administração e coordenação. Embora no mesmo pavimento, esses espaços ganharam acesso e ambientação diferentes, que exploram o teto iluminado da grande caixa e os ambientes de trabalho.No topo do edifício as exposições são separadas apenas por um peitoril elevado, que não permite a visualização, mas integra no mesmo espaço todas as atividades. Funciona como escritório paisagem, com divisórias baixas, de modo a estimular a interação e viabilizar grande flexibilidade funcional. “O layout aberto reforça o sentimento de responsabilidade no usuário ou visitante. Se ele der um grito dentro do prédio, sentirá o peso de interferir em todo o ambiente. Aí, A exploração de opostos, entre leve e pesado, contribui para evidenciar as relações entre carga e suporte, utilizando a estrutura como expressão do edifício, e não como mero esqueletoCarlos Maiao indivíduo se instrui, se urbaniza, ganha espírito de equipe”, interpreta o arquiteto. Apenas os locais de reunião e de diretoria serão isolados, com fechamento do tipo aquário, para maior privacidade.Nas áreas de cinema, auditório e foyer/exposições, o controle de privacidade e luz é dado por painéis corrediços acústicos que se recolhem nas extremidades, instalados no plano inclinado entre o piso e o teto em forma de rampa, e por painéis tipo blackout, em vidros duplos nos fechamentos transversais. A solução de fechamento favorece a visualização integral a partir do plano inclinado e ainda permite o funcionamento conjunto do cinema como plateia estendida do auditório, com sonorização integrada ao mesmo.
Um único núcleo de apoio se localiza entre dois grandes planos internos também com função estrutural. Dispostos de modo assimétrico em relação ao grande espaço interno, demarcam espaços de diferentes tamanhos, ordenam fluxos e abrigam elevador público, com capacidade para 20 pessoas, escadas de emergência, elevador de carga e hall de serviços, sanitários, prumadas para instalações e para ventilação mecânica, depósitos e casas de máquina para ar-condicionado de auditório, cinema e exposições temporárias.
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