A Japan House, construída em São Paulo pelo escritório FGMF Arquitetos em parceria com o arquiteto Japonês Kengo Kuma, é um projeto oficial do ministério das relações internacionais do Japão para difundir a cultura japonesa para a comunidade internacional. A capital paulista foi a primeira de três localidades escolhidas para sediar este centro equilibrado, inovador e diferenciado – as outras duas são Londres, na Inglaterra, e Los Angeles, nos Estados Unidos.
Como o objetivo era promover um intercâmbio intelectual entre o Japão e o resto do mundo, a começar pelo Brasil, a implantação do edifício no país precisava ser desenvolvida por um escritório brasileiro em conjunto com um arquiteto japonês.
“O projeto é centrado na figura do Japão, do ponto de vista de identidade, mas também traz uma contribuição local, não só através da nossa força de trabalho, mas também através de elementos brasileiros que foram incorporados na arquitetura”, conta o arquiteto Lourenço Gimenes.
Localizado na icônica Avenida Paulista, o edifício que abriga a Japan House passou por uma reforma que incluiu uma série de intervenções, inclusive estruturais, para permitir a instalação de elevadores, escadas, reforços estruturais, vãos, entre outros.
“Estruturalmente falando, as maiores intervenções foram a instalação da caixa de escada e elevadores. Tivemos aí um grande trabalho de reforços estruturais, de cortes de elementos para o edifício de concreto armado, que já tem décadas de existência. Nossa premissa foi entender como era a estrutura existente”, explica Gimenes.
A fachada traz uma homenagem à arquitetura modernista brasileira, por meio dos cobogós feitos de concreto com fibra de altíssimo desempenho, fino e resistente ao mesmo tempo. Além disso, a fachada também conta com madeira japonesa, fabricada e montada no Japão e remontada no Brasil, através de uma técnica milenar da cultura oriental, junto com uma tecnologia nova de fibra de carbono.
“Minha parte preferida são as fibras de carbono. Elas estão combinadas com a madeira e tornam-se transparentes e leves quando possível. É uma mistura harmoniosa entre o método tradicional japonês com uma nova tecnologia”, comenta o arquiteto Kengo Kuma.
Um dos desafios do projeto foi garantir conforto térmico à edificação, uma vez que a Japan House receberá exposições, aulas, palestras, entre outros eventos. Para tanto, os arquitetos estudaram qual fachada deveria ser protegida da insolação e ventilação e qual deveria ser aberta.
Além disso, os profissionais se preocuparam em buscar o máximo possível de iluminação natural, sendo permitida a entrada de luz do dia mesmo nos locais em que foi colocada proteção contra a insolação.
O projeto também contou com consultoria acústica, sobretudo para garantir desempenho adequado às áreas especificas de cursos e treinamentos.
O programa foi divido de forma muito fluida, sendo que poucas áreas foram pré-definidas, como a administração, a biblioteca, a loja e o restaurante. Os demais ambientes são bastante flexíveis.
A administração (assim como o restaurante) fica no segundo andar, mas no fundo do pavimento, escondida do público. Já no primeiro pavimento estão os ateliês multiúsos, que são salas com uma divisão bastante flexível, criadas para receber palestras, treinamentos e cursos relacionados à cultura japonesa.
No térreo ficam os ambientes de exposição e o café, que são abertos para a rua. Neste local, grandes portas se abrem para uma pequena praça que é quase uma continuação da praça Osvaldo Cruz e, também, uma continuação da calçada. Quando as portas da Japan House se abrem, esse espaço permite uma integração quase que absoluta dos ambientes internos e externos. “A proposta do projeto é que ele permita essa flexibilidade de programas”, conta Gimenes.
O que eu mais gosto nesse projeto é que ele é extremamente simples e despojado Lourenço GimenesO andar térreo conta também com divisórias feitas de telas translúcidas e chapa expandida metálica mergulhada em papel japonês. Para sua realização, os arquitetos convidaram o artesão japonês Kobaia Shisan, que veio para o Brasil para treinar pessoas que pudessem realizar a técnica. Trata-se de algo extremamente artesanal e que funciona como divisão de ambientes, a exemplo de um biombo.
“Minha intenção era mostrar a possibilidade do uso de material natural em uma cidade grande”, expressa Kuma.
“O que eu mais gosto nesse projeto é que ele é extremamente simples e despojado e, ao mesmo tempo, tenta comunicar uma coisa que é fundamental, que é a tradição japonesa da construção”, conclui Gimenes.
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