Em 1986, após a desativação da linha férrea que impulsionou a economia de Passo Fundo (RS), o Parque da Gare passou ocupar a antiga estação de trem do município. O local, porém, nunca havia sido finalizado e se encontrava praticamente em estado de abandono. Através do Programa de Desenvolvimento Integrado de Passo Fundo (PRODIN), foi desenvolvido, em 2013, o projeto de revitalização do espaço, cuja autoria é da IDOM (empresa espanhola de arquitetura com escritório no Brasil). A proposta abrange a parte paisagística e urbanística, com a inclusão de diversos equipamentos de usos esportivos e de lazer.
De acordo com Pedro Paes Lira, diretor de arquitetura e urbanismo da IDOM no Brasil, trata-se da transformação de um parque existente no principal espaço público da cidade. O projeto arquitetônico contempla a construção de um novo prédio para a Feira do Produtor, novas pistas de skate, quadra poliesportiva, pista de bicicross, brinquedos em um parque acessível, anfiteatro, assim como a revitalização do Lago da Gare e a preservação das áreas verdes.
Com mais de 69 mil m² de área, ainda houve espaço para uma biblioteca, chamada PRISMA: Estação Cultural da Gare. “Foi um desafio oferecer um programa tão extenso como esse dentro do orçamento limitado”, revela o profissional, indicando que as obras para a restauração do Parque da Gare custaram apenas R$ 9 milhões.
Além das novas instalações, todas as infraestruturas tombadas – que já existiam no terreno – foram inseridas no desenho do projeto e requalificadas, mantendo os traços originais. Da mesma forma acontece com o lago, que foi revitalizado após limpeza e caracterização (estudo de qualidade) para o recebimento das águas naturais do parque.
O Parque da Gare abrange alguns prédios, como o da Feira do Produtor, que está localizado entre duas vias paralelas – a Avenida Sete de Setembro e a Rua Capitão Bernardo. Implantado em uma zona com declive de aproximadamente quatro metros, a edificação se articula através de rampas e escadas de acesso. O interior é dividido em três espaços: o primeiro, que se interliga à avenida, abriga a zona de apoio (banheiros, depósitos e instalações); abaixo está a praça de alimentação, que se liga ao acesso leste pelo parque; e em patamar inferior estão as zonas fixas dos frios, com acesso à Rua Capitão Bernardo e ao estacionamento da feira. A proximidade com essas áreas facilita a carga e descarga de mercadorias.
A estrutura do Prédio da Feira do Produtor é composta por um sistema misto de concreto e metálico. O embasamento, feito de concreto, possui pilares e vigas, muros de arrimo e lajes pré-moldadas. A partir dele, se solta a estrutura metálica, com a formação de pilares e vigas para fechamentos laterais e de cobertura, a qual organiza espacialmente a edificação e origina um grande espaço central aberto e isento de colunas. O telhado, por sua vez, foi executado em telhas metálicas sobre estrutura de terças metálicas, assim como o fechamento exterior, que dá continuidade de material entre o forro e a fachada. Além disso, a edificação é marcada por grande aberturas – sobretudo no topo –, que favorecem a ventilação e iluminação naturais e geram uma sequência espacial do exterior para o interior e vice-versa.
Outra edificação do projeto é o Prédio da Biblioteca, que está dividido em dois níveis. O inferior, semienterrado na topografia e aberto para o lago, se notabiliza pelo uso do concreto armado. Este volume concentra as áreas molhadas, como os sanitários públicos, e a escada externa de acesso ao pavimento superior. Todos esses usos se situam junto ao muro de arrimo e estão voltados para uma grande área livre e coberta, onde ocorrem eventos. A partir da laje de cobertura (intermediária da biblioteca) se desenvolve um prisma de forma singular, que explora a estrutura metálica e os fechamentos em alvenaria com algumas superfícies envidraçadas. Já o pavimento superior do Prédio da Biblioteca – que conta com dois acessos em suas extremedades – corresponde a um espaço polivalente de usos diversos.
O terceiro edifício é o Prédio da Lanchonete, cuja implantação partiu da demolição de um prédio existente. Projetado para a zona de acesso ao Parque da Gare, o volume surge como uma extensão que se integra à praça. A sua colocação em uma das extremidades da praça fecha visualmente o local, deixando a praça mais íntima, protegendo-a do exterior.
A edificação se estrutura em três espaços distintos: uma zona de informação aberta para a praça e bem visível no acesso ao parque; a área da lanchonete, caracterizada por uma grande parcela de vidro que supõe a continuidade espacial da praça; e um espaço exterior coberto, para a colocação de mesas e a realização de eventos.
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