A Wish School é uma escola bilíngue que existe desde 2008 com o propósito de oferecer aos alunos uma educação holística, ou seja, um método em que a pedagogia é construída por meio da visão geral do indivíduo: aspectos físicos, emocionais, sociais etc.
O processo de projeto se desenvolveu em conjunto com os usuários, na busca de soluções para que a nova sede pudesse vir a ser justamente um reflexo da sua pedagogiaErico BotteselliCom o crescimento da escola e do número de alunos, em 2016 surgiu a necessidade de construir um novo prédio no bairro do Tatuapé, zona leste da capital de São Paulo. O escritório convidado para desenhar a estrutura de 1.166 m² foi o Garoa Arquitetos Associados.
“O processo de projeto se desenvolveu em conjunto com os usuários, na busca de soluções para que a nova sede pudesse vir a ser justamente um reflexo da sua pedagogia”, comenta o arquiteto Erico Botteselli, que divide a autoria do projeto com Alexandre Gervásio, Lucas Thomé e Pedro de Bona.
Segundo Botteselli, para entender a complexidade de interações envolvidas nessa abordagem de ensino foram realizadas dinâmicas com todos os envolvidos. “Colocamos numa sala quatro arquitetos, cada um em uma mesa. Grupos misturados de alunos, professores, coordenadores e responsáveis pela manutenção sentavam e discutiam conosco um assunto determinado pelo responsável da dinâmica, o professor Caio Vasão. Assim, criamos não somente um panorama de questões práticas e funcionais a serem abordadas, mas também de expectativas sensoriais, algumas abstratas, outras literais; às vezes irrealizáveis; às vezes precisas e factíveis.”
Sobre o sítio, tratam-se de dois terrenos – um baldio e outro que continha dois galpões – que somam 1.275 m². Os arquitetos resolveram aproveitar as construções preexistentes, o menor com o pé-direito mais alto e o maior com o mezanino de estrutura de concreto independente da estrutura envoltória. “Dentro desse contexto foram elencadas operações pautadas por ações de demolição e enxerto, retirando excessos de construção e inserindo novos elementos, de forma a atualizar a tipologia industrial em uma ferramenta educacional”, explica Erico Botteselli.
A partir disso, a planta em nenhum momento foi encarada como uma construção fixa, mas sim como um território composto por zonas de concentração e expansão, em que existem fronteiras e bordas tênues, permitindo e incentivando a transgressão, e tornando as crianças sujeitos que se apropriam desse espaço.
“Os corredores, locais em que a única função é o movimento contínuo do ir e vir, não existem. Todos os ambientes são expansões da sala de aula formal e propícios para a assimilação de conhecimento. Consequentemente, para chegar de um ponto ao outro, é possível escolher diferentes percursos, diferentes interações, escolher o que encontrar e o que não”, filosofa Botteselli.
As principais bordas são compostas pelo conjunto de salas com duas tipologias: as de vedo fixo/translúcido e as de vedo móvel, onde painéis pivotantes fazem a delimitação dos espaços. Os painéis coloridos dão suporte às atividades que acontecem à sua volta, servindo de armário, apoio de mochilas, instrumentos, livros e trabalhos dos alunos. Por serem pivotados, os painéis mudam a configuração do espaço à sua volta, abrindo a sala de aula para os ambientes adjacentes – eles expandem para receber atividades com mais interação, e contraem para atividades introspectivas.
Segundo os arquitetos, as salas de aula são vistas como um ponto de apoio em meio a tantas atividades que acontecem ao redor. Apesar disso, elas foram desenhadas de maneira não ortogonal, por isso geram inflexões que desdobram, em suas bordas, espaços ao mesmo tempo contínuos e distintos, sem discriminação clara, delimitada aos usos. Somados aos espaços de aprendizado informal, a planta visa atender às diversas demandas de ambientes que a pedagogia aberta possa necessitar.
Pouco tempo depois de o escritório entregar o prédio pronto, eles fizeram uma pesquisa para analisar a pós-ocupação. O resultado foi completamente satisfatório, já que mostrava a apropriação dos diferentes espaços pelos alunos e educadores.
“Havia crianças desenvolvendo uma pesquisa na sala, aulas expositivas acontecendo fora das salas, alguém jogando xadrez no banco, uma menina lendo escondida embaixo da escada, um sarau na rampa ou uma reunião de professores nas mesas do refeitório”, diverte-se o arquiteto.
Essas apropriações acabam por validar o projeto como catalizador de apropriações e como aparato que expõem os alunos aos conflitos inerentes do convívio coletivo. Para além do conteúdo das disciplinas, o entendimento das vontades e aptidões da criança são usados para ressignificar e efetivar o aprendizado.
Escritório
Termos mais buscados