Mais que um simples projeto, a arquitetura esportiva deve propor formas simples, mas que se destaquem, integrem espaços naturais e urbanos e ainda seja executada em tempo recorde. Com esse desafio nas mãos, o escritório BCMF, dos arquitetos Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi projetaram e executaram o Complexo Esportivo Deodoro, no Rio de Janeiro, para os Jogos Pan-americanos de 2007. As instalações compreendem infraestrutura para a prática de Tiro Esportivo, Hipismo, Tiro com Arco, Hóquei sobre Grama e Pentatlo Moderno em um terreno do Exército brasileiro de 1 milhão de m², com área construída de 100 mil m². O complexo custou aproximadamente R$ 120 milhões e atende aos padrões de competições internacionais, minimizando complementos das áreas para os Jogos Olímpicos de 2016.A arquitetura precisava ir além, sendo capaz de absorver as prováveis mudanças de usos com flexibilidade, mas em um curto período de tempoBruno Campos “Para corresponder ao evento temporário internacional e às demandas futuras, a arquitetura precisava ir além, sendo capaz de absorver as prováveis mudanças de usos com flexibilidade, mas em um curto período de tempo”, declara Bruno Campos. “Por isso privilegiamos a ideia de um “complexo” totalmente interligado em vez de cinco instalações esportivas independentes”, complementa.
Esse conceito se reflete no próprio sistema construtivo misto que engloba poucos elementos, como o concreto fundido ‘in loco’ (pilares, contenções e muros de proteção) e o pré-moldado (degraus e “vigas jacaré” das arquibancadas e lajes em geral). Para a estrutura metálica, foram usadas coberturas de vigas treliçadas revestidas com telha sanduíche. Já as vedações comportam alvenaria, drywall, painéis de telha, brises e vidros; todos independentes da estrutura. Marcelo Fontes explica que essa forma construtiva garante agilidade, economia e unidade visual das edificações, pois elas repetem proporções, ritmos e escalas. O emprego de poucos materiais (concreto aparente, telha termoacústica, bloco de concreto, cobogó, brise e vidros) somados à repetição de soluções dos pórticos, beirais, forros e sheds conferem unidade às cinco instalações esportivas e construções de apoio. “Também evitamos, quando possível, o uso de ‘revestimentos’. Parodiando o arquiteto Niemeyer, podemos dizer que, quando toda a estrutura ficou pronta, a arquitetura também estava finalizada”, acrescenta Sílvio Todeschi.
Segundo os arquitetos, o fato de o complexo estar localizado na região de Bangu, uma das áreas mais quentes da cidade, norteou particularidades nas instalações esportivas como grandes vãos livres com isolamento termoacústico, entre outras peculiaridades construtivas impostas. Exemplo disso é a cobertura que se desdobra em forro, e este em parede, gerando uma série de elementos contínuos de "forte impacto visual com linhas retas e simples, às vezes violentamente exacerbadas em contraste com a paisagem natural, mas de fácil construção e manutenção", evidencia Bruno.
Inserido em uma paisagem natural e surpreendente, ora formada por muitos morros, colinas e encostas convexas ora pontuada por típicos elementos suburbanos, como campos sujos e floresta alterada, várias vezes a arquitetura suplantou o entorno, tirando máxima vantagem dele. Marcelo observa que “uma incrível coincidência proporcionou um enquadramento perfeito do céu e dos morros a partir da circulação principal do Centro de Tiro. Com isso, a sequência de vigas dos campos de prova esconde a visão desordenada do bairro na paisagem.”Em outro caso, no Centro de Hipismo, a topografia e a vegetação natural da região onde foi implantada a trilha de 5 km do Cross-Country sugeriram um percurso sinuoso e uma série de obstáculos que parecem fazer parte da paisagem original. Ainda no CHI, uma área em torno de um afloramento rochoso, resultado de um antigo desaterro coberto de mato, revelou-se o espaço ideal para um campo de treinamento único e especial. Na região do Centro de Hóquei, ao suspender a piscina olímpica por causa do lençol freático, ganha-se uma vista inesperada da vegetação Essa forma construtiva garante a agilidade, economia e unidade visual das edificações, pois elas repetem proporções, ritmos e escalasMarcelo Fontes exuberante ao fundo.
Com mais de 50.000 m² de área projetada, o Centro de Tiro é a instalação de maior impacto por suas proporções e implantação privilegiadas. Seguindo o Masterplan, a implantação é extremamente linear e horizontalizada, com os diversos campos de prova conectados ao longo de um grande eixo de circulação no sentido leste-oeste composto por corredores e rampas ao longo de quase 500 m de extensão. O acesso principal do público acontece a partir da marginal da Avenida Brasil, por meio de uma longa e suave rampa no sentido norte-sul, conectada perpendicularmente ao grande eixo de circulação geral, até o segundo pavimento da edificação principal. Com exceção do campo de 10 m, totalmente coberto e condicionado, todos os demais (25 m, 50 m, finais e pedanas de Tiro ao Prato) são voltados para o Sul, para que os atletas não atirem contra o sol. Assim o acesso principal de público acontece na direção dos tiros que partem dos campos de prova. Os diversos desníveis foram induzidos pela topografia, compensando os volumes de corte e aterro e a necessidade de separar as áreas de atletas (nível inferior) das áreas de público (nível superior). Bruno esclarece que dessa forma “esses fluxos nunca se cruzam, mesmo quando ocorrem no mesmo nível, no caso do acesso para as Pedanas de Tiro ao Prato”.
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