O projeto Edifício Corujas, do escritório FGMF Arquitetos, vai na contramão dos espigões comerciais, com formato de modernos cubos espelhados e localização em grandes centros de negócios como as avenidas Faria Lima e Berrini, em São Paulo. Ele surpreende ao oferecer um partido horizontal com 5.880 m² de área construída, de diversos tamanhos e formatos, repleto de varandas, jardins privativos e um café. E ainda ousa ao propor uma localização essencialmente residencial e cultural: a rua Natingui, no bairro da Vila Madalena. A concepção do projeto derivou-se do desejo de criar um edifício mais humanizado para o trabalho, com uma arquitetura que fosse além dos ambientes fechadosFernando Forte “A concepção do projeto derivou-se do desejo de criar um edifício de escritórios diferente, que se relacionasse com a paisagem circundante. Um espaço mais humanizado para o trabalho, com uma arquitetura que fosse além dos ambientes fechados – praticamente obrigatórios em empresas. Por isso privilegiamos avarandados generosos para reuniões externas, com jardins próprios”, explica o arquiteto Fernando Forte. Todo o planejamento da edificação valoriza o convívio a partir de infraestrutura com bicicletário, vestiários comuns e um café ideal para os usuários se divertirem, se conhecerem e – por que não? – trabalharem, criando quase uma microcomunidade. Fernando reforça: “No Corujas queremos que as pessoas se encontrem, se vejam. A interação é bem-vinda. A volumetria e ocupação da construção é uma espécie de resposta a essas questões".
A pequena área disponível levou a uma solução horizontal; já o formato estreito e comprido do lote – uma característica do bairro, com quintais desenhando uma malha intrincada de vizinhanças domésticas – exigiu desmembrar o prédio em duas edificações: frontal e posterior. Os arquitetos partiram da criação de um térreo comum, de onde originam os fluxos para os grupos de escritórios na cota zero e no primeiro pavimento. Por isso a implantação é dispersa, predominantemente horizontal, com vários tipos de composições e tamanhos dos espaços de trabalho. O projeto ainda oferece espaços de escritório ímpares, pois todos são dotados de varandas estruturadas para serem usadas em reuniões ao ar livre. No total, três pavimentos reúnem 26 espaços comerciais, com área a partir de 80 m². No térreo, os conjuntos têm pé-direito duplo com varanda e jardins privativos nos fundos. No primeiro pavimento, o pé-direito pode ser duplo ou simples, há jardins e as varandas localizam-se entre os conjuntos. Já no último andar, as varandas estão entre escritórios e acessos privativos à cobertura, que é um jardim.
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A estrutura do Edifício Corujas privilegia no primeiro pavimento pré-moldados de concreto com laje A própria estrutura é a forma final, a plástica do edifício. Provavelmente este é o único prédio de escritórios de alto padrão construído em elemento pré-moldado aparenteFernando Forte protendida in loco. O segundo pavimento exibe estrutura metálica, assim como as passarelas que ligam os blocos, a circulação, as escadas, a sustentação das paredes inclinadas, entre outros elementos. “É um prédio misto de pré-moldados, moldados in loco e estrutura metálica”, reforça Fernando.
O resultado do mix estrutural utilizado é um dos destaques observados pelo arquiteto. “A própria estrutura é a forma final, a plástica do edifício. Provavelmente este é o único prédio de escritórios de alto padrão construído em elemento pré-moldado aparente”, explica. Também chama a atenção o mix de materiais: madeira, concreto aparente, aço, vidro e elementos galvanizados, como os brises, responsáveis por controlar a temperatura e iluminação. Este último item mantém uma estreita relação com o paisagismo proposto por André Paoliello, que propõe vegetação em todos os níveis, com árvores no primeiro pavimento e até um telhado verde.
Fernando Forte descreve as instigantes fachadas da edificação como uma decorrência dos materiais e das plantas especificadas no projeto. “Não acreditamos em fachadas de mentirinha, ou falsas, ou mesmo em uma função apenas decorativa”, adverte. No caso do Corujas, elas são organizadas ora em circulações abertas ora na própria caixilharia de fechamento dos conjuntos, recuadas em relação aos pilares de borda. Na base, no volume que vai ao extremo do terreno, há um fechamento em madeira inclinada, com rasgos de iluminação que, no período noturno, provocarão efeito inverso ao diurno. “Em determinados locais, brises deverão ficar translúcidos à noite, revelando ainda mais o prédio para a cidade”, pontua o arquiteto.
Por fugir do estereótipo de edifício comercial, o Corujas nasce sob um slogan que promete aos usuários muito verde e jardins para plantar a empresa. Ele ganhou o prêmio AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) na categoria Edifícios de Serviços, modalidade não-edificados. Sua concepção parte de um movimento que tem ganhado força na zona oeste de São Paulo, com prédios que priorizam desenhos, iluminação, ventilação e interação com o espaço público. Somado a tudo está a arquitetura peculiar de Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz que prioriza a coerência entre estrutura, programa, paisagem, materiais e sustentabilidade.
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