Texto: Naíza Ximenes
Fruto da colaboração entre o escritório de arquitetura Estúdio Guto Requena e a marca de café Dolce Gusto, da Nestlé, a Flagship Dolce Gusto marca a cidade de São Paulo como um projeto repleto de inovação e sustentabilidade.
A nova flagship da Dolce Gusto — uma loja conceito pensada tanto para aproximar marca e cliente, quanto para proporcionar uma experiência de compra especial — é uma proposta que vai além da criação de um espaço esteticamente atraente. Isso porque o projeto surgiu do desejo de inovação em todo um ecossistema, do desenho à implementação, compartilhado por ambos os colaboradores.
A equipe envolvida conta que, além de criar uma arquitetura forte e impressionante, buscou desencadear uma corrente de pensamento transformador, envolvendo fornecedores, tecnologias emergentes e materiais sustentáveis. “É uma arquitetura que se propõe a convidar as pessoas a olharem por uma fresta de um futuro possível”, afirma o arquiteto Guto Requena.
A inspiração para o projeto surgiu da própria essência do café: a flor do café, com cinco pétalas simétricas. Ela serviu como metáfora e guia para a criação da arquitetura da flagship, contribuindo para a idealização de um espaço que não apenas cativasse visualmente, mas também convidasse as pessoas a vislumbrar um futuro sustentável.
Em entrevista à Galeria da Arquitetura, o arquiteto Guto Requena conta sobre o início do projeto. “A Dolce Gusto nos procurou com a proposta de projetar uma flagship que, além de representar o conceito da empresa, fosse o palco de um lançamento global totalmente sustentável”, explica.
“Eles contaram que chegaram a uma solução para um problema que aflige a indústria há tempos: as cápsulas não-biodegradáveis. Depois de anos de pesquisa, a Dolce Gusto criou uma cápsula literalmente biodegradável, que mantém a qualidade do café, não oxida e não prejudica o ecossistema em que está inserida. Pensando nisso, nossa primeira ideia foi: ‘E se nós criássemos uma arquitetura que, assim como a cápsula, também fosse biodegradável? E se usássemos a tecnologia do nosso tempo a nosso favor?’ e assim surgiram os dois pilares do nosso projeto”, complementa.
O método construtivo escolhido para isso foi a impressão 3D, por reunir beleza e sustentabilidade em um único material. No entanto, mesmo com o intuito de imprimir toda a loja em 3D, os desafios técnicos fizeram com que a abordagem fosse adaptada. Devido às limitações tecnológicas, a equipe optou por imprimir apenas as formas, preenchendo-as posteriormente com gesso.
A regulamentação foi outro obstáculo significativo na construção da loja, pelo simples fato de não existirem normas para obras impressas em 3D. Para garantir a conformidade com a legislação, os arquitetos também apostaram na inclusão de elementos estruturais em madeira, transformando uma limitação em uma solução criativa.
“O que nós conseguimos com a tecnologia disponível quando começamos o projeto foi a impressão das formas em 3D, que foram recheadas com gesso e, depois, desenformadas. Nós escolhemos o gesso por ele ser um excelente isolante térmico, tradicionalmente utilizado na arquitetura biodegradável, e que depois pode ser triturado para virar adubo”, explica o arquiteto. “Como ainda não existia uma legislação específica para casas impressas em 3D no Brasil, nós entendemos que era obrigatório, por lei, que um projeto tivesse pilares e vigas. Assim, o que nós fizemos foi criar esse sistema de pilar e viga interno em madeira cortada em CNC, criando um elemento estético e funcional da obra. É um grande esqueleto de madeira.”
O contrato com a construtora da flagship também ganhou uma cláusula inédita: a responsabilidade pela demolição do projeto. Tanto o Estúdio quanto a Dolce Gusto entenderam a necessidade de um ciclo de vida finito para a loja, fazendo necessário o compromisso com a trituração da estrutura e a transformação desse descarte em adubo para o agronegócio.
Em um projeto definido pela acessibilidade, a Flagship Dolce Gusto ganhou formato inspirado na flor do café e um deck de madeira que envolve todas as cinco entradas (as pétalas) do estabelecimento. A proposta era criar um acesso unificado e democratizado para todos os visitantes, oferecendo café de qualidade e produtos para venda por todas as paredes internas.
Adaptado para receber eventos, palestras e aulas de ioga, o ambiente também foi descrito por Requena como um café que “se torna um equipamento urbano”, já que ele enriquece a experiência do público e contribui para a revitalização da praça circundante.
Utilizando da impressão 3D, gesso, madeira e carpete feito de plástico reciclado dos oceanos, o ambiente é definido pelo esqueleto de madeira, que forma a abertura zenital na loja. Essa abertura distribui a luz natural por todo o interior e ressalta as opções de cafés, com a ajuda de LEDs por baixo das prateleiras, criando toda uma abordagem minimalista, natural e acolhedora. Além disso, o design da loja permite uma ventilação natural eficiente, eliminando a necessidade de ar-condicionado e aumentando a eficiência energética do espaço.
Desde os workshops iniciais até a implementação final, a Flagship Dolce Gusto representa uma jornada de descoberta e inovação contínua. Além disso, os quiosques derivados do projeto principal estendem essa experiência única aos shoppings, promovendo a conscientização sobre sustentabilidade e design inovador. Essa colaboração entre a Nestlé e o Estúdio Guto Requena não apenas redefine o conceito de uma loja de café, como também inspira uma nova era de arquitetura sustentável e acessível.
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