Ao participar do Concurso Internacional de Arquitetura, denominado Propuestas de Diseño para Edifícios em La Ciudad Del Saber, no Panamá, em 2008, os jovens arquitetos Eduardo Crafig, Fábio Kassai, Juliana Garcias e Márcio Henrique Guarnieri aceitaram o desafio de projetar um alojamento para professores e estudantes. La Ciudad del Saber é um centro de fomento de conhecimento localizado em uma base militar americana que foi desenvolvida no começo dos anos 2000.
“A proposta do edital era construir os quartos em dois edifícios dispostos em um terreno superlongilíneo, permeado de vegetação e implantado em uma área mais ou menos central da universidade”, conta a arquiteta Juliana Garcias. O concurso aberto a arquitetos latino-americanos foi organizado em duas fases. “A primeira reunia propostas conceituais dos projetos; a segunda selecionava três finalistas que desenvolveriam o anteprojeto de arquitetura”, diz Eduardo Crafig, cujo escritório acabou vencendo o primeiro lugar na categoria ‘Dormitórios para Professores e Estudantes’.
Além da análise dos aspectos geográficos, climáticos e espaciais, foi solicitada uma construção em etapas, com implantação de um partido arquitetônico claro, no qual os blocos dos alojamentos fossem implantados no sentido transversal ao terreno, paralelos entre si, formando pequenos pátios. O pedido acabou não sendo cumprido à risca.
“Mudamos esse aspecto do edital porque o sítio que eles haviam destinado era um gramado bonito e extenso. Implantar os prédios daquela forma, criando praticamente uma frente e um fundo, ou uma rua e um quintal, era um desperdício”, conta Eduardo Crafig. A partir desse novo parâmetro, os arquitetos projetaram os pavilhões evitando a existência explícita de uma frente ou fundo.
Segundo Crafig, a subdivisão da construção em nove blocos (fases 1 e 2) trouxe a possibilidade de criar um térreo transparente, capaz de integrar o complexo ao extenso gramado ora visualmente, ora fisicamente. “Este é um tremendo patrimônio que eles possuem lá. Não tenho dúvidas de que o melhor nesse projeto é a implantação.” A distância entre os blocos, estabelecida de acordo com a vegetação existente no terreno, permitindo a preservação de grande parte das árvores, reforça a permeabilidade entre jardim e edificações. Para unificar o conjunto, cada construção encontra-se conectada a uma estrutura linear de circulação de uso comum, paralela à rua e presente ao longo dos alojamentos.
Juliana Garcias complementa: “O projeto proporciona escala humana, algo que muitas vezes se perde em obras extensas”. Este aspecto é fundamental porque há um contraponto muito grande entre as edificações locais – várias casinhas distribuídas pela área do campus inteiro, com prédios maiores – e o pavilhão, que se insere nessa paisagem verde de forma respeitosa.
Os edifícios ganham maior destaque à medida que cruzam com o eixo de circulação de pedestres, pré-estabelecido pelo ‘Plan Maestro’. Disposto entre os blocos, o pátio cresce, enquanto o piso térreo dos dois edifícios adjacentes tem a calçada alargada, para configurar um espaço público destinado a reuniões sociais e acesso. A partir dos desníveis cria-se uma nova referência para o sítio, desenhando as diferentes relações entre os espaços – público, semipúblico e privado, formando um vazio em que o conjunto edificado ganha uma nova centralidade: a praça.
O térreo atende e sugere programas de uso comum e apoio aos alojamentos. “Os 16 pavimentos somam 200 quartos nas duas faces aproximadamente. Oito blocos foram entregues na primeira fase construída. Como área de apoio, cada pavimento comporta uma copa no andar destinado ao preparo de refeições rápidas e aquecimento de alimentos”, explica a arquiteta Juliana Garcias.
Nele concentram-se estar, lavanderia, sala de leitura, café e pequeno auditório. O primeiro e segundo pavimentos destacam-se elevados por pilotis. Neles, ficam os alojamentos, a copa e o depósito, além de um espaço flexível, próximo à edificação linear, que oferece suporte a pequenas reuniões e estar.
Cada um dos blocos de alojamentos tem estrutura em concreto armado, moldado ‘in loco' com vãos de 7,50 x 3,60 m e dois balanços de 2,50 m. As medidas originam uma laje maciça, armada em uma única direção. A estrutura é equilibrada, na qual o momento negativo é igual ao positivo, e mais econômica na razão 1/5; 3/5; 1/5. No térreo poucos pilares possibilitam maior flexibilidade aos espaços de uso comum.
“Enquanto os edifícios dos alojamentos são de concreto, a circulação que une todos os blocos é de estrutura metálica”, conta Juliana Garcias. Eles estão conectados ao eixo, o edifício de circulação, estruturado por uma malha de 3,60 x 7,50 m, correspondendo à modulação fixada pelos edifícios de concreto dos alojamentos. Para vencer o vão entre eles foram usadas vigas metálicas, e as fundações rasas do conjunto são do tipo sapata, em concreto armado.
Com materiais de baixa manutenção, os pisos escolhidos são monolíticos, de granilite, exceto no térreo, no qual os arquitetos deixaram em aberto a possibilidade de usar um concreto ou até um piso cimentado, mais rústico. O alumínio foi empregado parcialmente nas esquadrias. As fachadas dos blocos são compostas por painéis corrediços com aletas perfuradas. “Elas otimizam a entrada de luz nos ambientes e facilitam a ventilação natural”, explica Eduardo Crafig.
O clima quente, muito parecido com o amazônico, com alto índice pluviométrico, ganho de calor nas edificações e alta umidade relativa do ar, levou os arquitetos a projetar uma arquitetura que amenizasse essas questões. Exemplo disso é a própria implantação do conjunto, feita com pequenos edifícios conectados por uma circulação comum, o que otimizou o aproveitamento da ventilação natural.
No bloco de alojamento, as aberturas localizadas nos dois extremos também favorecem o fluxo de ar por sucção. Outras soluções pensadas são as grandes aberturas protegidas da chuva e do sol e o sistema de grelhas para ventilação transversal dos ambientes, que ocorre entre os forros. “Elevados, esses painéis de argamassa armada sombreiam e ventilam as unidades, melhorando a temperatura local, além de reduzir consideravelmente o consumo de energia e a manutenção dos tratamentos de impermeabilização”, comenta o arquiteto Eduardo Crafig.
A construção dispõe de três formas de compensar a alta temperatura local: ora com a ventilação natural cruzada, ora com a ventilação cruzada induzida e, em último caso, com a utilização do ar condicionado. Na cobertura, painéis captam energia solar que serve para o aquecimento de água, reservada em acumuladores tipo ‘boiler’.
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