Há mais de 100 anos, o italiano Filippo Ponzio trouxe para o Brasil a sua receita mais saborosa, que hoje é uma das mais famosas de São Paulo. Nomeada de Pão Basilicata em homenagem à região de mesmo nome onde Ponzio nasceu, a iguaria tornou-se carro-chefe da tradicional padaria localizada no coração do bairro do Bixiga. Usamos os tabuleiros de pães como expositor de produtos e os fixamos em estruturas metálicas para remeter aos suportes originais de ferro feitos pelos ferreiros da família Equipe SuperLimão StudioRecém-reformado pelo SuperLimão Studio, o Basilicata - Pão, Empório e Restaurante acaba de ganhar um novo projeto arquitetônico, mas mantém a essência de seu fundador.
O time de arquitetos composto por Lula Gouveia, Thiago Rodrigues, Antonio Carlos Figueira de Mello, Juliana Marcato, Renato Assada e Leticia Domingues criou uma atmosfera que imerge o cliente na história da imigração italiana. Uma balança antiga, o “pendura” – onde literalmente se penduravam as contas –, cartazes escritos a mão e fotografias que contam o percurso da família que saiu do sul da Itália até chegar às terras brasileiras são alguns dos elementos presentes na casa.
O Basilicata foi reformado para atender a todas as necessidades dos clientes e ao novo programa, ao mesmo tempo em que resguarda a tradição da antiga arquitetura. O primeiro projeto era apenas um corredor, uma pequena padaria. Com a compra do terreno ao lado, foi incorporada à outra estrutura, tornando-se duas.
Para melhorar a circulação, as áreas de atendimento ao público ficaram mais abertas, e o planejamento foi organizado em dois pavimentos: no andar inferior está o empório e a padaria, e no superior, o restaurante.
Logo na entrada, fica o empório, rodeado por detalhes que contam a história da família italiana. “Usamos os tabuleiros de pães como expositor de produtos e os fixamos em estruturas metálicas para remeter aos suportes originais de ferro feitos pelos ferreiros da família”, contam os arquitetos. Ao lado dos caixas, há um painel de cortiça com o mapa da Itália desenhado com fios de lã, ilustrando o início da trajetória.
“Conta-se que, enquanto o navio se afastava do porto, o imigrante levava uma das pontas do novelo de lã e os familiares em terra seguravam a outra, na esperança de um dia poder unir essas duas pontas”, revelam os autores.
À esquerda da entrada do empório do Basilicata, há uma mesa de corte de provolone que separa a passagem para o outro salão. Conta-se que, enquanto o navio se afastava do porto, o imigrante levava uma das pontas do novelo de lã e os familiares em terra seguravam a outra, na esperança de um dia poder unir essas duas pontas Equipe SuperLimão StudioNesse outro espaço, ficam as variadas opções de azeites e queijos, os produtos refrigerados que, além das geladeiras em inox, estão acomodados em um móvel biscoiteiro da família e em mesas desenhadas especialmente para o Basilicata.
Os arquitetos contam, ainda, que durante as obras descobriram afrescos do início do século XX nas paredes do salão e decidiram mantê-los no novo projeto.
O forro do salão não passa despercebido, pois foi feito com pás que servem para fornear. Penduradas sob a laje, elas formam espécies de baffles acústicos, difundindo a iluminação do ambiente.
Ainda no andar inferior, uma área foi destinada para as refeições rápidas, com um amplo balcão e mesas-bistrô, que acomodam propositalmente o carro-chefe da casa, os pães.
Uma mercearia mais à frente disponibiliza os produtos que ficam à venda. Integrada a ela, está a área externa, com três coqueiros que foram mantidos e mesas dispostas para receber e acomodar os clientes.
As peças herdadas de todas as gerações da família decoram a ambientação desse andar. Entre elas, as portas dos fornos a lenha forjados pelos ferreiros da família, ferramentas como a bigorna, balança, grelhas das cinzas dos fornos transformadas em balaústres no vão aberto para o segundo pavimento, e até alguns objetos pessoais, como um caderno de anotações, óculos, cédulas e moedas.
O andar de cima recebeu a grande atração do novo projeto, o restaurante. Para chegar lá, os clientes podem usar a escada – reformada e adequada às novas normas de segurança – ou o elevador, instalado para garantir a acessibilidade.
O salão não tem paredes, compondo um ambiente completamente integrado. O mobiliário tem cadeiras, mesas e sofás – também assinados pela equipe do escritório SuperLimão. Os autores explicam que o assento do sofá faz referência a um momento familiar pós-Segunda Guerra, em que o governo italiano racionava produtos como farinha e açúcar. “Certa vez, ao receber fiscais do governo em sua casa, os Ponzios arrumaram uma cama no canto do quarto com sacos de farinha cobertos por uma colcha”, revelam sobre a inspiração do design dos sofás. Acima deles, estão as luminárias industriais, que iluminam diretamente cada mesa.
A varanda é separada do restaurante por portas-balcão de madeira, que garantem a ventilação cruzada do espaço quando abertas. Na cobertura, com telhas de fibrocimento tipo calhetão, foram feitos rasgos e criada uma série de claraboias para a iluminação natural nos ambientes.
Além disso, as cores das tintas aplicadas nas paredes remetem às da Itália, mas trabalhadas em tonalidades suaves. Os tradicionais verde, vermelho e branco, além de amarelo e azul, compõem a coloração.
Comandada pelo chef Rafael Lorenti, herdeiro da quinta geração da família Ponzio, a cozinha do Basilicata - Pão, Empório e Restaurante não nega as origens italianas e tem no menu comidas típicas do sul da Itália, com uma variedade de 30 pratos. Atualmente, está sob o comando da quarta geração de descendentes de seu fundador Filippo Ponzio. São eles: Toninho Laurenti, Nicola, Vittorio e Angelo Lorenti.
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