Não há como dissociar Luiz Gonzaga e Sertão. Aspectos históricos intrínsecos os unem no museu que retrata a trajetória do icônico cantor e compositor, o Rei do Baião, dentro do contexto cultural nordestino. Um local que reúne vasto acervo e exposições sobre o estilo de vida sertanejo, sua relevância e influência para o Brasil e o mundo.
Próximo à beira da água, quase junto ao mar, o museu está localizado exatamente onde nasce a cidade do Recife, o que lhe rendeu o nome de Cais do Sertão.
Sua implantação tira proveito de uma antiga área destinada aos galpões do porto. Um deles dá origem ao partido. Como explica o arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz, “trata-se de um galpão que estava condenado, por isso resolvemos reconstruí-lo. Foi preciso colocá-lo abaixo e montá-lo novamente. É o espaço dedicado à exposição permanente do museu”.
Ao lado situa-se um novo edifício responsável por abrigar exposições temporárias, salas de aula para cursos, auditório para show e cinema, além de um restaurante sertanejo na cobertura com um grande jardim para combater a forte incidência solar da região.
“O telhado com camadas de proteção térmica ajuda bastante e viabiliza o restaurante com vista para o mar e a cidade. No grande terraço, um projeto interessante de paisagismo faz uso de camada de terra, plantas e tudo o mais. Isso reduz a carga térmica na laje e deixa o ambiente interno mais arejado”, retrata Francisco de Paiva Fanucci.
A execução reaproveita parte dos materiais originais, como a estrutura metálica da cobertura e alvenaria, embora a recomposição priorize o uso de concreto aparente, mantendo a linguagem dos materiais utilizados. Seu predomínio encontra explicação na performance estrutural, que permite grandes vãos livres, a resistência e durabilidade ao longo do tempo. Este último atributo é fundamental por se tratar de ambiente agredido pela maresia e corrosão. Mas há também a questão estética, que remete à simplicidade. No final, o concreto aparente atua simultaneamente como estrutura, fechamento e acabamento.
“Nas novas intervenções dentro do galpão, utilizamos o concreto pigmento em amarelo bem forte, muito quente. É uma tentativa de buscar a proximidade com a luz do Sertão, a tonalidade do solo e da pedra”, conta Marcelo.
O bloco grande e elevado em concreto criou uma generosa área sombreada para o pedestre que caminha pela cidade. Um volume que revela a presença do oceano, do mar ao lado, quase como um convite para se aproximar da água.
“Essa área sombreada grande tem 60 metros de vão e 6 metros de altura. É uma grande sombra, na verdade, promovida como ato de gentileza do edifício para a região. Ou seja, é possível estar a beira do mar, sentindo a brisa na sombra de Recife. Realmente é um gesto bem amistoso do empreendimento com a cidade”, diz Francisco.
As duas fachadas do edifício são contornadas e protegidas por um véu de cobogós. Sua escolha recai, inicialmente, por tratar-se de um elemento peculiar da arquitetura pernambucana e, depois, pela sua capacidade de filtrar a luz, servindo para amenizar o impacto da pedra amarela de concreto na cidade.
Marcelo explica que os 2,2 mil cobogós com a galhada das árvores secas são uma referência à região nordestina seca. “Quando a pessoa se embrenha no Sertão, ela enxerga tudo através do filtro dos galhos. Mas tem outra proposta, que é a de proteger os equipamentos do museu, todos de alta tecnologia e multimídia. Assim como as obras de arte, eles exigem controle de umidade e temperatura. Para isso, nos espaços internos, especificamos sistemas de ar condicionado”.
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