Mais do que um retrofit, o restauro do conjunto do Ibirapuera exigiu do escritório paulistano Borelli & Merigo Arquitetura e Urbanismo, primeiramente, devolver a unidade da antiga construção Antes da recuperação, poucos notariam que a sede do Detran fazia parte do projeto original do Parque do Ibirapuera. A limitação de acesso por meio da passarela sobre a Avenida 23 de maio e a ocupação integral do terreno por um enorme estacionamento destruíram a percepção do edifício como parte do projeto Marcos Costa desenhada por Oscar Niemeyer e perdida ao longo dos mais de 60 anos de existência. Era preciso, também, transformar o prédio principal, do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) – conhecido como antigo Pavilhão da Agricultura 2 – no novo Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP).
“Antes da recuperação, poucos notariam que a sede do Detran fazia parte do projeto original do Parque do Ibirapuera. A limitação de acesso por meio da passarela sobre a Avenida 23 de maio e a ocupação integral do terreno por um enorme estacionamento destruíram a percepção do edifício como parte do projeto”, argumenta o arquiteto Marcos O. Costa.
O resgate do caráter genuíno do conjunto aconteceu a partir da restauração do acesso direto por meio de passarela e construção de um amplo jardim de esculturas com forte expressão paisagística. Toda a obra foi desenvolvida pela Companhia Paulista de Obras e Serviços e custou R$ 76 milhões à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Vale ressaltar que o próprio arquiteto Oscar Niemeyer chegou a apresentar um projeto de reforma e adequação ao conjunto. A proposta foi reprovada pelos órgãos Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) e Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) por entenderam que as intervenções descaracterizariam o bem tombado.
Três vezes tombada – pelo Conpresp, Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e Iphan –, a construção estava protegida contra prováveis demolições e alterações radicais, mas apresentava layout duramente modificado durante os anos nos quais abrigou o Detran. A busca pela configuração antiga levou os arquitetos do escritório Borelli & Merigo Arquitetura e Urbanismo a estudarem o layout autêntico, eliminando divisórias e restaurando estruturas. Integram o conjunto o prédio principal e o anexo, que passaram por reformas e um retrofit. Outros dois edifícios foram construídos: a reserva técnica, destinada ao acervo das obras de arte, e às instalações, que abrigam cabine primária, centro de processamento de dados e automação. As duas novas construções adotam tecnologias e detalhamento diferentes, se comparados aos edifícios projetados por Niemeyer. A intenção é destacar e valorizar tanto a construção antiga quanto a nova.
Com o retrofit, todas as instalações atendem às exigências do tombamento e dos órgãos internacionais de museologia. Um exemplo é a restrição à altura dos novos blocos, limitada a 3,50 m. Como os prédios localizam-se ao lado do edifício principal e há proximidade com o Instituto Biológico – outro bem tombado –a ressalva foi necessária. A responsabilidade de encarar a reforma de uma das obras mais importantes do modernismo é imensa e representa um desafio gigantesco, confessa Marcos Costa. “Para respeitar os gabaritos do conjunto existente, deixando a cobertura abaixo do edifício anexo de Niemeyer, semienterramos a reserva técnica, o anexo de serviços e as torres de ar-condicionado a partir de uma cota de 4 m abaixo do nível do solo”, conta. O novo MAC nada deixa a desejar se comparado a outros grandes museus no mundo. Completamente automatizado, ele oferece capacidade de gerar até 48 horas de energia por meio de seis grupos geradores a diesel. O sistema de climatização é dotado de controle de umidade e tem capacidade de 500 TRs. Além disso, o sistema de segurança e combate a incêndios é um dos mais modernos do Brasil.
Sem a necessidade de reforçar a estrutura, os arquitetos concentraram-se em recuperá-la. Para isso, iniciou-se um minucioso processo de remoção da camada superior de concreto, com a finalidade de liberar o acesso às armações. Todos os traços de ferrugem foram removidos, as barras limpas receberam uma película protetora e, posteriormente, aplicou-se uma nova camada de concreto para recuperar as dimensões da peça estrutural genuína.
A importância desse processo fica evidenciada na laje de cobertura, danificada por uma forte corrosão, pois o sistema de impermeabilização já não funcionava. O edifício também teve piso recuperado, divisórias internas removidas e ganhou dois anexos.
Inteiramente reformadas, as fachadas agora dispõem de um novo sistema de quebra-sol, que Para respeitar os gabaritos do conjunto existente, deixando a cobertura abaixo do edifício anexo de Niemeyer, semienterramos a reserva técnica, o anexo de serviços e as torres de ar-condicionado a partir de uma cota de 4 m abaixo do nível do solo Marcos Costa respeita as primeiras especificações. As pastilhas apresentavam pontos de descolamento. “Para substituí-las, buscamos peças novas, mas com características do revestimento genuíno”, revela Marcos Costa.
Também foram comprados novos vidros na mesma tonalidade dos existentes para repor os que faltavam. Isso gerou uma leve diferença nos tons entre o material novo e o antigo. Marcos informa que “A única alteração consiste na aplicação de uma película adesiva branca leitosa”.
Com os caixilhos recuperados e os vidros quebrados substituídos, outro elemento importante foi devolvido à fachada: os brises. Vale observar que, em uma reforma anterior, todos os caixilhos e brises autênticos foram removidos. Assim, os arquitetos inseriram um sistema de alumínio com perfil conhecido como ‘asa de avião’ que resgata a primeira concepção de Oscar Niemeyer e equipe. “A solução repete a adotada pelo próprio Oscar Niemeyer durante a reforma de outro edifício do conjunto do Ibirapuera: a Bienal de São Paulo”, lembra Marcos Costa. A instalação diminui a incidência de raios solares e garante a proteção térmica do museu. “Ele agora está completamente climatizado”, garante o arquiteto.
De autoria de Rodolfo Geiser, o paisagismo recupera alguns princípios da modernidade, como o uso de espécies nativas e sua integração aos elementos construtivos. As áreas livres foram priorizadas, recebendo tratamento paisagístico com grande relevância ambiental a partir da remoção de 13.523,89 m² de piso asfáltico. O espaço transformado em áreas verdes agrega ao paisagismo as obras de arte expostas ao ar livre.
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