O prédio da Biblioteca Mário de Andrade é mais que um simples edifício tombado pelo patrimônio Entendemos o uso contemporâneo como uma condicionante para a preservação do patrimônio arquitetônico, e isso exigiu análise cuidadosa do funcionamento da Biblioteca para definir as diretrizes do projeto Renata Semin histórico, localizado na quadra entre a Rua da Consolação, Av. São Luiz e Rua Bráulio Gomes, na Praça D. José Gaspar, em São Paulo. É um ícone da história da construção civil, pois inclui no projeto original, com mais de 70 anos, técnicas modernas como estrutura de concreto armado para edifícios altos e prumadas para distribuição de instalações. Ao mesmo tempo, exala o estilo art déco, caracterizado pelos detalhes de ornamentação e acabamento. Um exemplo da ‘boa construção’, principalmente em sua inserção urbana. Com a imponência reforçada pelo pé-direito de 17 m e o vazio central que envolve três pavimentos do edifício, a Biblioteca também representa um testemunho do surto de verticalização vivido pela cidade na década de 1940, tendo como autor o arquiteto francês Jacques Pilon, radicalizado no Brasil e responsável pelo projeto de grande parte das construções da época.
Diante da escala do edifício e da importância desse equipamento para a cidade, o escritório Piratininga Arquitetos Associados, responsável pela reforma de modernização do edifício, elaborou um plano de integração de diversas disciplinas técnicas: arquitetura, restauro, acústica, engenharia de fundações, de estruturas e de instalações. “Desde o início, entendemos o uso contemporâneo como uma condicionante para a preservação do patrimônio arquitetônico, e isso exigiu análise cuidadosa do funcionamento da Biblioteca para definir as diretrizes do projeto”, conta Renata Semin.
Atender as recomendações de conservação e preservação dos 300 mil itens do acervo, demandou A galeria deixa à mostra uma esquadria de alumínio com desenho minucioso, recoberta com vidro transparente. Note que a leve inclinação impede o espelhamento da fachada Renata Semin a instalação de dispositivos de climatização, de segurança predial e patrimonial. A operação exigiu a interação entre a diretoria da Biblioteca e a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Elas elaboraram um plano para articular a movimentação e os tratamentos físico e técnico do acervo durante as obras. O projeto de modernização previu a expansão das áreas de acervo de periódicos, por isso foi necessária a reforma de outro edifício – um anexo. O restauro abrangeu componentes da construção – instalações elétricas, hidráulicas, prevenção e combate a incêndio, circuito fechado de TV, telecomunicações, proteção a descargas atmosféricas e climatização – e o mobiliário. “Tudo feito com base em um abrangente estudo de patologias e danos do edifício”, ressalta Renata.
Na primeira fase o espaço teve fundações, estrutura, instalações elétricas e hidráulicas restauradas. O ambiente foi climatizado de forma adequada à conservação das obras e ao conforto dos frequentadores. Também foram direcionadas 16 novas salas individualizadas para a pesquisa. Para estudo em grupo, o projeto dispensou duas salas preparadas e equipadas para consulta de multimeios. A intervenção proporciona o restauro de elementos decorativos e do mobiliário original, especialmente projetado.
A segunda fase integrou a Biblioteca Mário de Andrade a um anexo, o edifício IPESP, cedido pelo Governo do Estado de São Paulo. A conexão foi feita por uma galeria subterrânea, e o novo prédio comporta laboratórios de microfilmagem, restauro e encadernação, que possibilitam o crescimento do acervo em 100%.
Desde o início, a integração e inclusão do prédio do IPESP como espaço suplementar foi uma premissa da direção da Biblioteca e Secretaria Municipal de Cultura, por meio do plano integrado. A importância do anexo estava em viabilizar e qualificar a classificação do acervo. A área de 7.000 m² do anexo comporta o crescimento de 100% da área ocupada pela coleção de periódicos da biblioteca – unificado ao acervo localizado na Biblioteca Presidente Kennedy, em Santo Amaro. O novo espaço permite organizar e classificar o acervo da coleção geral e de obras raras. Com uma diferença: higienizado e disponível em uma condição mais segura e ágil.
Par dar mais dinâmica ao espaço, os arquitetos incorporaram a biblioteca circulante, antes Tudo foi conservado e restaurado. A entrada principal da edificação art déco permaneceu intacta. Pisos e paredes de mármore foram recuperados, o anel central recebeu novo projeto de iluminação e o interior das salas exibe pisos parquet originais, além de estantes de madeira e mesas desenhadas por Jacques Pilon recuperados Renata Semin instalada em outro local. Organizada no pavimento térreo, onde funcionava o setor de leitura, ela tem acesso exclusivo pela Avenida São Luís, como se fosse uma antesala. No mezanino, o pé-direito e a volumetria da edificação foram preservadas, e a biblioteca circulante teve a capacidade aumentada para 52 mil volumes. E mais: enquanto antes 100 pessoas eram atendidas diariamente, após a reforma esse número subiu 10 vezes. Para evitar o acesso por dentro do espaço, uma nova estrutura integrada à base do conjunto liga os halls da Avenida São Luís à Rua da Consolação. Renata Semin chama a atenção para a fachada. “A galeria deixa à mostra uma esquadria de alumínio com desenho minucioso, recoberta com vidro transparente. Note que a leve inclinação impede o espelhamento da fachada”. No local, um terraço acomoda mesas de leitura.
Para modernizar o projeto original, foram contratadas consultorias de restauro (laboratório das partes física e química), instalações, estrutura e acústica. “Tudo foi conservado e restaurado. A entrada principal da edificação art déco permaneceu intacta. Pisos e paredes de mármore foram recuperados, o anel central recebeu novo projeto de iluminação e o interior das salas exibe pisos parquet originais, além de estantes de madeira e mesas desenhadas por Jacques Pilon recuperados”, destaca a arquiteta.
Argamassas de recobrimento de fachada foram removidas e substituídas por argamassa recomposta com pedras novas (dolomita e basalto) no percentual original. No próprio local, as janelas da torre restauradas preservam a aparência externa. Já o acervo ganhou proteção com a instalação de esquadrias com chapas opacas de aço, pintadas de preto, para não serem vistas de fora.
A rampa de acesso à biblioteca circulante, na Avenida São Luís, garante a acessibilidade e respeita a escada na qual se assenta. Esse e muitos outros elementos metálicos receberam a cor vermelha por A Biblioteca Mário de Andrade reafirma sua vocação como espaço público, sendo referência para a requalificação do centro de São Paulo. Com o restauro e a modernização, a população volta a ter acesso à história e à cultura ali reunidas Renata Semin ser econômica – uma vez que é uma cor pronta – e pela facilidade de manutenção.
Na praça Dom José Gaspar, uma plataforma permite o acesso a portadores de necessidades especiais e oferece uma relação mais estreita com a cidade.
Projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon, em 1935, o prédio da Biblioteca Mário de Andrade foi concluído em 1942, passando por reformas em 1973 e 1991. O acervo inicial de 15 mil livros data do ano de 1925 – quando ela funcionava na rua 7 de abril, no Centro de São Paulo. Na inauguração da nova sede, já eram 70 mil livros, e hoje a Mário de Andrade é a segunda maior biblioteca pública do País. Apenas a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro está à frente.
O tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) aconteceu em 1992. Em 2005, livros, periódicos, mapas e multimeios somavam os mais de 3 milhões de itens e exigiam uma readequação do espaço para organização do acervo e maior conforto dos leitores. “A Biblioteca Mário de Andrade reafirma sua vocação como espaço público, sendo referência para a requalificação do centro de São Paulo.
Com o restauro e a modernização, a população volta a ter acesso à história e à cultura ali reunidas”, finaliza Renata.
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