Se a Copa do Mundo de futebol reflete a manifestação cultural de um país, a Arena da Amazônia – sede de quatro jogos do campeonato – incorpora essa máxima com maestria. O partido arquitetônico foi totalmente inspirado no que há de mais representativo na região: a natureza, as cores vivas e o elemento artesanal.
A arena representa um grande cesto de palha, objeto tradicionalmente utilizado na cultura indígena para os afazeres domésticos. A fachada é permeada por recortes no formato da letra “X”, que diminuem de tamanho à medida que se aproximam da cobertura. Internamente, os assentos são marcados pela mistura de tons amarelos, laranjas e vermelhos em referência à rica fauna e às frutas típicas.
Maurício Reverendo, arquiteto do Grupo Stadia – escritório responsável pelo projeto executivo –, ressalta que as peças de artesanato da Amazônia são criações artísticas inerentes à região. “Elas possuem formas e soluções estruturais complexas usadas como ponto de partida para a criação de uma arquitetura ímpar. Ao longo do desenvolvimento do projeto, algumas especificações de materiais e cores foram definidas com base na diversidade de tons presentes nos elementos naturais do lugar".
O programa beira importantes vias de acesso, fica próximo ao pólo comercial formado por hotéis, hospitais, bancos, shoppings, supermercados e restaurantes, além de estar a apenas 6 km do centro histórico da capital e da famosa orla do Rio Negro. Outros lotes vizinhos estão interligados, como o Sambódromo de Manaus, o Centro de Convenções do Amazonas e a Arena Poliesportiva Amadeu Teixeira.
Sua implantação viabiliza-se com a demolição do Estádio Vivaldo Lima, o “Vivaldão”, que teve 95% dos materiais removidos e reaproveitados na nova construção. Os resíduos restantes foram destinados a obras de aterros.
A Arena da Amazônia é um equipamento multiúso que segue todos os padrões da FIFA para a Copa do Mundo. Tem capacidade para mais de 42 mil pessoas e instalações hospitaleiras, com camarotes, elevadores, 400 vagas de estacionamento – no subsolo – e restaurante.
“A entrada principal de público acontece por uma praça elevada com 72 mil m² que ‘abraça’ todo o perímetro do estádio. Com excelente sinalização visual e tátil, a construção possibilita acesso fácil aos pontos de chegada e saída, todos controlados por catracas e monitorados por um circuito fechado de TV”, descreve.
Há, ainda, um sistema de bilhetagem munido com sistemas e equipamentos eletrônicos de última geração. Ele oferece segurança, comodidade e praticidade aos espectadores, de acordo com os requerimentos da FIFA.
“No subsolo do setor oeste, o público conta com modernos vestiários. Enquanto jogadores, comissão técnica, árbitros, imprensa e demais responsáveis pela realização do evento têm à disposição estúdios de imprensa, sala de conferência multiúso, bares e zona mista”, aponta Maurício.
O concreto utilizado como elemento estrutural de fundação, pilares, vigas, lajes e arquibancadas, também serve como apoio e travamento horizontal da estrutura metálica de cobertura.
Já o aço está presente na parte estrutural da cobertura – que abriga todas as áreas de circulação de público e arquibancadas –, e ainda como forma metálica para vigas e pilares pré-moldados, garantindo qualidade e rapidez na montagem e desmontagem dos elementos de concreto fabricados durante a obra.
“O aço é o material mais indicado para compor a cobertura das modernas arenas esportivas, que pedem um sistema estrutural capaz de vencer grandes vãos livres tão necessários a uma eficiente visualização e ao máximo conforto”, cita.
O reaproveitamento dos entulhos gerados pelo antigo complexo faz parte do programa ambiental adotado, que engloba desde a etapa da demolição até a racionalização de energia e água para atender a certificação LEED – Leadership in Energy and Environmental Design.
“O projeto da Arena da Amazônia já nasce com a proposta de utilizar sistemas construtivos e materiais que possibilitem boas práticas sustentáveis. Isso inclui o reúso de água, a estação de tratamento de esgoto, a ventilação natural para redução da carga térmica e do consumo de energia, e outras iniciativas”, afirma.
Exemplo disso é a reciclagem da água de chuva a partir da cobertura. O líquido é estocado em uma cisterna subterrânea e destinado a vários usos: na irrigação do gramado – após o tratamento –, nos vasos sanitários e até mesmo no resfriamento e aquecimento do sistema de ar condicionado.
“O conceito sustentável também é marcante na escolha de alguns elementos construtivos, como a membrana especial de PTFE (politetrafluoretileno), de característica translúcida e cor branca, que reveste a estrutura metálica do teto e permite uma solução leve, com ótima eficiência térmica e transparência. O resultado é a fácil manutenção do partido arquitetônico”, complementa.
O arquiteto destaca que o projeto da Arena da Amazônia foi criado de acordo com as regulamentações das normas de acessibilidade, principalmente a NBR 9050.
“Essa iniciativa garante o acesso sem barreiras para todo tipo de público e em qualquer dependência do estádio. São rampas, elevadores, plataformas e outros equipamentos que permitem o livre trânsito a todos os espectadores.”
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