Na cidade de Curitiba (PR), ao lado do bloco de Arquitetura na Universidade Positivo, uma obra ímpar convida à reflexão. São dezenas de totens em aço inox espelhados e automatizados, que se movimentam em conjunto com a fundação externa – uma estrutura capaz de suportar os seis metros de balanço do arco – conforme o caminhar do transeunte.
A obra dança e convida a dançarGustavo Utrabo “O projeto nasce da intenção de estudar a repetição arquitetônica; não por meio da repetição de elementos, mas espacial, na qual o ambiente se desdobra dentro dele mesmo”, explica o arquiteto Gustavo Utrabo, do escritório Aleph Zero + Juliano Monteiro. Reflexo do próprio nome – [DES]dobrar – o memorial convida as pessoas a se deslocarem por uma área pública e possibilita o desdobramento para uma complexidade latente em meio a uma situação de aparente simplicidade.
O movimento dos objetos espelhados (totens) simboliza um constante vir a ser, que não acontece de maneira independente, pré-programada, mas em ressonância ao fluxo de observadores ao local onde ele se encontra. “A obra ‘dança’, e – o mais importante – convida a dançar. Busca-se inverter a ordem automática das coisas. Ao andar por esse inusitado passeio, têm-se claramente a consciência da própria existência por meio da reflexão (eu me vejo, recordo que existo) e da influência do indivíduo no espaço, reproduzida por seu movimento (eu me movo e modifico o mundo externo a mim)”, explicam os autores no memorial do projeto.
Um importante elemento do projeto é aquele que ativa e dá significado aos totens: o usuário/observador. Ao contrário de um mero espectador, ele é responsável por compor a peça a partir de seu posicionamento e mobilização no espaço. “Tal movimento é refletido por objetos que ‘dançam’ conforme a passagem dos transeuntes e os acusa de serem, também, atores de uma realidade múltipla, dinâmica e interligada”, observa Utrabo.
O espaço fundamentado por elementos reflexivos torna-se nebuloso, limitado, mas aberto às mais A faculdade de espelhar dos totens transforma a paisagem existente e potencializa ainda mais as condições em seu entorno imediato, propagando a luz do momentoGustavo Utrabo diversas percepções: dentro e fora, longe e perto, frente e costas, único, múltiplo, reflexão real. Tudo parte do conceito de que a reflexão é uma repetição distorcida. Distorce, inverte e multiplica o espaço ao redor, embaralhando referências locais.
A obra no campus universitário abre a possibilidade de um espaço singular onde essa mesma repetição multiplica-se exponencialmente e materializa-se como objeto que, ao mesmo tempo, influencia e é influenciado.
Propõe-se que o movimento seja o elemento de conscientização da própria existência, e a reflexão sirva exclusivamente à modificação do espaço. A partir da deslocação dos totens – a dança –, o objeto pré-concebido como inanimado responde instantaneamente ao observador seguindo-o e acusando-o de lá estar.
Por um instante, turva-se a distinção entre indivíduo e realidade externa, entre sujeito e obra. O observador toma consciência de sua ontologia como ator conectado em uma complexa rede de relações normalmente ocultas. Seu papel é ativo, sua ação é capaz de transformar, e essa transformação exige energia: desejo, tensão, movimento.
O projeto trabalha com diferentes tecnologias. Mistura programação e automação com fabricação artesanal do aço e vidro em uma estrutura metálica. Os totens são feitos de chapas de aço inox, e a propriedade de refletir do material leva, a partir da própria arquitetura, a um pensar filosófico.
Até o paisagismo ao redor ganha uma nova dimensão. “A faculdade de espelhar dos totens transforma a paisagem existente e potencializa ainda mais as condições em seu entorno imediato, propagando a luz do momento”, declara Gustavo.
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