Para o arquiteto Sergio Sampaio, a Casa Maria & José foi um trabalho mais que especial. Projetada para seus pais – os anfitriões da família nos finais de semana em Itu (SP) – a edificação deveria ser eminentemente térrea, sem nenhum tipo de desnível, até por causa da idade deles. Esse, no entanto, foi um complicador, tendo em vista a topografia acidentada do lote, que contava com um caimento de 8 metros de um lado ao outro.
Quem vê de fora imagina uma casa fechada e escura, mas na verdade ela é o oposto disso internamenteSergio SampaioA maneira que o arquiteto encontrou para nivelar a edificação foi descolar o volume do declive do terreno. Com isso, parte da residência mantém-se a 2 metros do solo através de uma estrutura em pilotis de cores neutras. “Dessa forma, parece mesmo um corpo suspenso, que se aproxima do chão, mas não o toca”, acentua Sergio. Apesar de estar mais próxima ao lote, a outra parcela da morada também conserva uma distância da superfície – cerca de 70 cm.
Segundo o arquiteto, o principal objetivo era construir uma residência “vistosa”, que por fora exibe uma estrutura em balanço e por dentro segue organizada por um longo pátio aberto.
A partir da estrutura em balanço, criou-se um vazio central considerado por Sergio como o coração e o pulmão da Casa Maria & José. De acordo com ele, o entorno não desfrutava de nenhum chamariz muito importante, então a melhor opção foi voltar todos os ambientes para dentro da residência, mais precisamente para o pátio.
A coordenadora do projeto, Patricia Zeppini, comenta que é possível avistá-lo de qualquer lugar do imóvel por conta do vidro e, principalmente, dos brises que tramam diferentes efeitos de luz e sombra. “Garagem, rampa, sala, copa, enfim, todos os cômodos são banhados pela iluminação natural que vem do pátio”, expõe Patricia. Sergio complementa que, além de setorizar os espaços, bem como conferir iluminação e ventilação naturais, o vazio trouxe os principais visuais da casa. “Quem vê de fora imagina uma casa fechada e escura, mas na verdade ela é o oposto disso internamente. As sensações mudam ao longo do dia. Nas noites de céu aberto, por exemplo, nós sentimos o ar e observamos as estrelas”, divaga o arquiteto.
Arrematando o programa, a piscina é uma caixa de quase 7 metros de comprimento, que projeta-se na parte mais extrema do terreno sob um volume de concreto armado aparente. “Como a premissa do projeto era dispensar qualquer degrau, decidimos elevar essa estrutura. Além disso, ela penetra no pavilhão da casa, onde está a varanda, separando-se do estar através de sete painéis deslizantes”, descreve Sergio. No lado oposto foi posicionada a ala íntima.
Abaixo dali estão as dependências de serviço e outros ambientes, como sauna e academia. A conexão entre os dois pavimentos acontece por meio de uma rampa de acesso, que desce do hall de entrada e vai até a garagem. Deste patamar, que dispõe de um espelho d’água com seixos, nota-se o belo painel geométrico criado pelo artista Alexandre Mancini.
A Casa Maria & José tem embasamento de concreto e foi erguida em estrutura metálica aparente, com todas as vedações em painéis pré-fabricados de pinus em CLT (madeira laminada colada) de 6 cm. Para manter o material em bom estado, esses painéis modulares foram tratados com stain – um verniz que não gera película, pois impregna na fibra da madeira. “A expectativa é que somente daqui a três anos façamos uma nova pintura”, analisa Sergio.
Em relação ao desempenho térmico, a madeira dos painéis externos garante por si só a eficiência da residência. Isso se intensifica com as divisórias internas que foram revestidas em drywall.
Na cobertura evidencia-se a estrutura metálica, que em alguns momentos ganha vigotas de madeira fazendo as vezes de forro. Acima desse sistema existem painéis de chapas OSB com isolamento de poliuretano, que também contribuem para o isolamento térmico da residência. Em outra camada aplicou-se a manta termoplástica, que confere a impermeabilização do telhado e ainda auxilia no desempenho térmoacústico.
Segundo o arquiteto, o conjunto do CLT, o pátio e as chapas de gesso acartonado resulta num eficiente isolante térmico. Esteticamente, a casa tem uma certa dualidade: escura pelo lado de fora mas toda branca internamente. “Essa foi nossa intenção desde o início, pois queríamos deixar o exterior mais sóbrio e os ambientes internos mais luminosos.”
Desde a garagem até a piscina, o piso permanece o mesmo. Como detalha Patricia, ele é feito de placas de aglomerado cimentício, com uma pequena granulometria. O objetivo de unificar o assoalho era manter a fluidez do caminhar pela arquitetura, sem estabelecer nenhuma hierarquia entre os ambientes sociais. Apenas nos dormitórios adotou-se o piso de madeira por ser um material mais quente, portanto, mais aconchegante para a área íntima.
Quanto à opção em deixar os materiais aparentes, Sergio reforça: “não queríamos enfatizar muitos materiais de acabamento, mas, sim, o espaço e a técnica construtiva utilizada. Por isso, escolhemos uma arquitetua crua, sem adorno”.
Luzes pontuais marcam os principais elementos da Casa Maria & José, sobretudo, os painéis de CLT, a caixa de concreto da piscina e o piso. No interior, a ideia era manter o plano da residência, sem colocar luminárias no forro. “Então, optamos por arandelas feitas sob medida, que destacam principalmente a sala, com a iluminação mais indireta, preservando o clima intimista do espaço”, conclui Patricia.
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