Situada em Monte Mor, interior de São Paulo, a Casa Haras atende às expectativas de uma família que sonhava em ter um refúgio no campo, onde pudesse recarregar as energias, desfrutar da natureza e receber confortavelmente seus convidados. O grande diferencial desta morada está na sua volumetria, formada a partir de três pavilhões, transmitindo encanto e leveza, além de ser totalmente direcionada para a sustentabilidade.
A inspiração para o projeto arquitetônico nasceu após a visita do jovem casal de proprietários a uma vinícola durante viagem de férias. Eles ficaram encantados com os traços contemporâneos do local, em especial com as construções com lajes planas. Assim, decidiram convidar a dupla de arquitetos Giuliano Pelaio e Gustavo Tenca, para desenhar e dar vida ao recanto.
Foi um desafio, porque uma característica marcante dos nossos projetos é o uso de lajes planas e telhados embutidos, mas encaramos e fizemos do telhado o diferencial Giuliano PelaioComo o próprio nome sugere, a residência foi inserida dentro de um haras num terreno com, aproximadamente, 1.500 m². O lote era perfeito para abrigar esse refúgio tão desejado, com belos visuais – já que a ausência de muros de divisa proporcionava uma visão privilegiada – recuos generosos, grandes dimensões territoriais, orientação solar e, por fim, uma grande porcentagem de permeabilidade da terra.
Mas, ao lerem o regulamento de obra do condomínio, foram todos surpreendidos com uma restrição: laje planas e telhados embutidos não eram permitidos. Entretanto, os pontos positivos foram levados em consideração e os arquitetos fizeram da dificuldade o destaque da Casa Haras. “Foi um desafio, porque uma característica marcante dos nossos projetos é o uso de lajes planas e telhados embutidos, mas encaramos e fizemos do telhado o diferencial”, revela Pelaio.
O telhado de duas águas foi escolhido para otimizar a volumetria do conjunto e proporcionar o desejado aspecto de casa de campo. Para não interferir na estrutura e deixar livre o espaço de dentro do teto, a caixa d’água foi transferida para o lado de fora e enterrada no deck da piscina.
O programa da residência foi organizado em 450 m² e setorizado a partir de três pavilhões que se juntam na forma de um ‘H’ – dois blocos paralelos e o terceiro perpendicular. A distribuição espacial foi feita numa planta térrea, de forma que os ambientes tivessem a sensação de contato permanente com o entorno, já que todos contam com portas de correr envidraçadas que permitem total integração com a área externa.
A premissa era deixar o lazer no centro dos outros espaços e criar dois ambientes de convívio no lado de fora. A convivência principal tem um deck com piscina e uma cozinha gourmet. Já a secundária recebeu spa, espelho d’água e um fogo de chão. O interessante é que, apesar de serem distantes por causa do bloco perpendicular, os setores ficaram conectados visualmente devido à transparência das portas de vidro.
Este bloco não só conecta os outros dois, como também une a casa de maneira transparente, através das portas de vidro, com as áreas externas. No outro jardim, que fica na parte posterior deste pavimento, tem um fogo de chão e um spa, destinados para uso mais íntimo Gustavo TencaNo pavilhão principal foi concentrada toda a área de serviço, cozinha, garagem e apenas uma suíte. É nesse bloco que está o acesso social da Casa Haras, feito por uma porta envidraçada na fachada frontal e o hall de entrada. Os moradores e seus convidados são recebidos por uma robusta parede de pedra ao fundo e vistosos painéis de madeira que marcam as laterais – passando pelo espaço encontra-se, de forma oculta, a adega e uma chapelaria.
O pavilhão central ficou destinado para a área social, com a sala de jantar e a de estar com uma formosa lareira. “Este bloco não só conecta os outros dois, como também une a casa de maneira transparente, através das portas de vidro, com as áreas externas. No outro jardim, que fica na parte posterior deste pavimento, tem um fogo de chão e um spa, destinados para uso mais íntimo”, conta Tenca.
Já no terceiro pavilhão está a ala íntima com quatro suítes e a sala de TV. Uma varanda externa atende a todos os dormitórios, possibilitando uma circulação mais direta e dinâmica aos demais aposentos da residência, já que assim os moradores não precisam transitar pelo corredor interno.
O uso de materiais naturais foi essencial para fortalecer o estilo campestre da Casa Haras, sobretudo as aplicações de madeira e pedras.
A madeira laminada colada de pinus é predominante em todo o revestimento externo da residência, como nos painéis de portas e nos brises e ripados da fachada. Já o telhado recebeu madeira Itaúba. “O suporte da cobertura está apoiado em uma estrutura metálica internamente à casa, que aumenta um pouco mais o grado de industrialização junto com o tradicional sistema de pilares de concreto e fechamento em bloco cerâmico”, complementa Pelaio. Para o interior, a escolha ficou pelo forro de madeira cumaru para contrastar com o piso de cimento queimado.
A pedra natural foi colocada como revestimento nas paredes externas e internas, e nas empenas laterais dos três pavimentos, além dos calçamentos. E na parte de dentro, foi aplicada nos banheiros e, em especial, no banheiro da suíte principal, que traz uma sensação de descompressão interessante fora do contexto urbano.
As tecnologias incorporadas ao projeto foram escolhidas para aumentar os quesitos sustentáveis da casa.
Uma estação de tratamento de esgoto particular possibilita a remoção da matéria orgânica presente no esgoto (DBO) de 90 a 96%, transformando em água tratada e desinfetada. Também foi criada uma cisterna para o reaproveitamento da água d’chuva, que a reaproveita na irrigação do jardim através de sistema automatizado.
O grande volume de água da piscina no núcleo central da casa de um lado e o espelho d’água do outro possibilitam o resfriamento evaporativo, auxiliando na redução da temperatura no interior dos espaços, ao mesmo tempo em que aumentam a umidade relativa do ar nos meses mais secos e quentes.
A morada conta com sistema construtivo misto de estrutura metálica nos pilares, vigas e telhado, e concreto com fechamento em bloco cerâmico, aumentando o grau de industrialização. Esse método possibilitou que a casa fosse montada de forma mais rápida e sem desperdícios de material.
As envoltórias da residência são constituídas de blocos cerâmicos, ora rebocados, ora revestidos de pedra natural, o que garante um retardo térmico maior. Já nos ambientes sociais, o uso de vidro nas portas de correr é mais suscetível aos ganhos de calor, porém elas funcionam com ventilação cruzada em toda sua extensão, devendo serem mantidas abertas no verão e fechadas durante o inverno para aquecimento passivo da temperatura interna.
A implantação da residência foi projetada conforme a disposição em relação ao sol, por isso, cada pavilhão foi orientado para minimizar os ganhos de calor no verão. Os dois blocos paralelos foram voltados para NE-SO e o terceiro, perpendicular de ligação, foi orientado para NO-SE.
As janelas de madeira que foram construídas nos tetos conferem iluminação e ventilação naturais a todos os banheiros e lavabos. “Todas as janelas são feitas através da cobertura, e são elas que se abrem e iluminam de forma zenital os banheiros e os lavabos”, conta Pelaio.
O alto índice de permeabilidade do solo abriu espaço para fazer do projeto paisagístico uma peça importante, desde a ambientação externa. As plantas rodeiam os recuos frontais, laterais e de fundo, e avançam pelo núcleo central desconstruído da residência. A intenção era deixar os espaços mais naturais e os volumes mais imersos no entorno.
O paisagismo criou um cenário diferente em cada ambiente da casa, já que todos estão intimamente ligados aos jardins. Toda vegetação local foi respeitada, como o bioma cerrado e a mata atlântica, e foram usadas especiais vegetais ameaçadas de extinção, como o palmito juçara (Euterpe edulis) e algumas plantas raras, como o Angelim doce (Andira fraxinifolia) e o Ipê Verde (Cybistax antisyphilitica), além de árvores frutíferas brasileiras, como Jabuticaba (Plinia caulifora), Cambuci (Campomanesia phae) e Grumixama (Eugenia brasiliensis).
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