Não há nada mais acolhedor do que casa de avós: o cheirinho de bolo, as brincadeiras no quintal, todas as histórias e risadas. Foi por querer viver em contato com essas recordações que o atual morador deste sobrado decidiu comprá-lo. A casa, localizada no bairro paulistano Alto de Pinheiros, em São Paulo, pertencia a seu avô, e foi ali que ele passou boa parte de sua infância.
Após a compra em 2016, a Casa Beiral, como foi batizada, teve seus ambientes renovados pelo escritório Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, que ficou incumbido de preservar as memórias e, ao mesmo tempo, modernizar e ampliar a nova morada.
O antigo projeto arquitetônico exigia uma série de reparos na estrutura e nas instalações. Além disso, havia o desejo de ampliar a área construída para atender às necessidades dos novos moradores. “Era preciso resolver esse desafio e criar algo prático, acolhedor, que se valesse de recursos tecnológicos para o aproveitamento dos recursos naturais, mas que também carregasse certa nostalgia de experiências atemporais”, comenta o arquiteto Guilherme Ortenblad.
Três níveis organizavam o programa anterior – acesso, intermediário e dormitórios – e todos foram mantidos no projeto com a intenção de preservar a intimidade dos moradores. O nível de acesso tem um escritório e uma sala de televisão – ambientes considerados independentes dos demais. O intermediário recebeu as áreas de convívio, como salas de estar e jantar, cozinha e piscina. E no terceiro ficam os quartos.
Com a reforma, foi acrescentado um quarto nível, com mais duas suítes. Um beiral de madeira – diferencial da residência – liga os dois níveis superiores, formando um único plano inclinado, que, junto com os beirais de concreto dos dormitórios, destaca-se na fachada.
“O beiral é o elemento que integra a casa. Essa nova cobertura, que criamos para a ampliação, faz toda a amarração entre o antigo e o novo”, complementa a arquiteta Kathleen Chiang.
O beiral é o elemento que integra a casa. Essa nova cobertura, que criamos para a ampliação, faz toda a amarração entre o antigo e o novo Kathleen ChiangA grande cobertura se projeta em beirais em balanço que sombreiam as aberturas e as paredes, auxiliando para o conforto térmico da casa. Uma grande janela em fita contorna o pavimento superior, com beirais em concreto e painéis de muxarabis de madeira, ampliando significativamente a ventilação e a iluminação naturais, ao mesmo tempo que preserva a privacidade de área íntima e reforça a horizontalidade das novas intervenções.
Além disso, essa cobertura é o núcleo que concentra as placas solares – fotovoltaicas e térmicas, que garantem parte do abastecimento elétrico de toda a residência e proporcionam o aquecimento das águas – e é responsável pela coleta de água pluvial, armazenada abaixo do deck do térreo para irrigação do jardim. Ainda, as paredes verdes e a grande área ajardinada tornam o terreno bastante permeável.
Segundo Ortenblad, o trecho térreo da Casa Beiral teve seu telhado original preservado. A laje sob este teto foi demolida e as tesouras antigas foram restauradas, criando um pé-direito alto junto ao ambiente aberto para o jardim. “O jogo entre esses telhados, níveis e pés-direitos distintos gera uma diversidade de ambientes acolhedores”, comenta.
A criação de diferentes ambiências é reforçada através de distintos materiais e texturas. A materialidade parte do restauro das texturas existentes, como a pedra e a madeira, de elementos que foram expostos em sua forma bruta, como o tijolo e o concreto, e dos novos revestimentos, com reforços estruturais aparentes, madeira e ladrilho hidráulico.
A intenção foi aproveitar a estrutura existente e requalificá-la. “Queríamos preservar ao máximo a casa, até por uma questão de reutilização dos materiais, aproveitamento e sustentabilidade, umas das premissas que o cliente havia nos passado”, menciona Chiang.
Por ser uma construção antiga, as paredes que foram mantidas são espessas, o que garante uma grande inércia térmica aos ambientes internos. Isso, em conjunto com os beirais e elementos vazados, permite uma boa incidência de iluminação natural e, ao mesmo tempo, dispensa a necessidade de ar-condicionado.
Um fogão à lenha em concreto armado foi construído no limite entre a cozinha americana e a sala, bem no centro da casa. Na sala de estar uma lareira fica em frente à grande janela que se abre para a parede verde do recuo.
A iluminação é indireta e visa a destacar as texturas dos materiais para reforçar o caráter acolhedor e sensorial da casa. As principais soluções foram projetores instalados nos forros de madeira inclinados, direcionados para cima, e arandelas nas paredes de tijolos descascados.
Como o terreno já era bem arborizado, as árvores foram preservadas e integradas às novas intervenções. A pitangueira foi incorporada pelo deck que se projeta da sala para o gramado. A área gramada é livre para as crianças brincarem.
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