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Urbanização da Orla do Rio Cotinguiba

Urbanização da Orla do Rio Cotinguiba
Desenho do piso, mobiliário urbano e paisagismo reverenciam a paisagem e valorizam a herança arquitetônica de Laranjeiras, cidade histórica de Sergipe. Imagens: Divulgação/ Coletivo de Arquitetos
Urbanização da Orla do Rio Cotinguiba
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Passado revisitado

Texto: Thais Matuzaki

A 25 km da cidade de Aracaju, capital do Estado de Sergipe, encontra-se Laranjeiras – um município histórico que é atravessado pelo Rio Cotinguiba. Desde o século 19, quando alcançou o auge econômico e a notoriedade política, a cidade passou a preservar não só a arquitetura daquele período, como também sua paisagem original, repleta de colinas e relevo acidentado. Isso levou o conjunto urbano e paisagístico de Laranjeiras a ser oficialmente tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1996.

No entanto, o desenvolvimento urbano negligenciou o tratamento de algumas áreas públicas, principalmente a orla do rio. A partir de uma licitação – realizada em 2012 – que previa a revitalização do local, a equipe do Coletivo de Arquitetos, em parceria com os arquitetos Licia Cotrim e Bruno Vitorino (do escritório AUM Arquitetos), concebeu o projeto arquitetônico de Urbanização da Orla do Rio Cotinguiba. A proposta segue a premissa de devolver os espaços à cidade, com um desenho de melhor qualidade, no qual os 10 mil m² da praça são preenchidos por áreas de contemplação e permanência.

O principal desafio dos profissionais era, justamente, aliar a herança cultural e patrimonial da cidade às novas intervenções. Segundo Guile Amadeu e Rodrigo Lacerda, arquitetos do Coletivo, o objetivo era trabalhar uma reformulação sutil, de modo que o projeto reverenciasse a paisagem. “O cenário natural foi um estímulo para a escolha dos materiais e o posicionamento dos elementos arquitetônicos, que deveriam ser neutros como forma de respeito a esse patrimônio”, afirmam.

Foto: Divulgação/ Coletivo de Arquitetos

O projeto foi amparado em uma série de pesquisas bibliográficas e iconográficas realizadas por Licia Cotrim, que estudava o local já há algum tempo. Em paralelo, Guile e Lacerda começaram a garimpar informações diretamente dos habitantes, para que a proposta urbanística fosse aderente às aspirações dos moradores de Laranjeiras. “Isso é muito importante, porque ajuda a população a se apropriar desses lugares. Na medida em que convidamos as pessoas para desenharem conosco, o sentimento de pertencimento se manifesta e elas passam a cuidar do que é delas”, conta Lacerda. “Ao mesmo tempo, a obra chama a atenção para o rio, pois ao se debruçarem sobre ele, os pedestres recebem o estímulo de conservá-lo”, acrescenta.

Além de ser uma cidade histórica, Laranjeiras também acomoda um grande público universitário devido à presença da Universidade Federal do Sergipe. Assim, os arquitetos também pensaram como os jovens poderiam usufruir desses novos espaços urbanos em meio aos elementos antigos.

O projeto

Guile afirma que, ao criarem o desenho urbano da orla do rio, eles estão, automaticamente, desenhando o encaminhamento e recolhimento das águas pluviais. “Foi um processo criterioso para que o fluxo pudesse escoar de uma maneira mais natural possível, sem causar muitos desníveis, nem degraus”.

O projeto de Urbanização da Orla do Rio Cotinguiba divide-se em duas zonas. A primeira, que fica entre o rio e o centro histórico, se define pelas edificações de caráter patrimonial. A segunda – que não fez parte da proposta – encontra-se no lado oposto, sem contato com as construções tombadas.

A ala onde estão os prédios patrimoniais é voltada às atividades físicas, por isso os arquitetos adotaram um partido livre entre os edifícios. Segundo Lacerda, o antigo porto de Laranjeiras estava instalado exatamente nesse trecho, permanecendo isolado da cidade. “De certa maneira, criamos uma ambiência entre os fundos de edifícios e o Rio Cotinguiba. Dispomos inúmeras áreas de estar e de circulação, com mobiliário urbano e um projeto de paisagismo vigoroso, que adequam o local à convivência social”, descreve o arquiteto.

O projeto paisagístico, desenvolvido pela arquiteta Licia Cotrim, contribui para o conforto térmico da áreaFoto: Bulla Jr.

Outro detalhe do projeto é o que Guile chama de pavimento tapete. Trata-se, segundo ele, de uma área de estar que induz o indivíduo a olhar para alguns pontos de interesse. Aos pés dos bancos instalados no local, a pavimentação conta com placas de concreto especiais, nas quais são grafadas uma pequena história sobre o lugar e os elementos que compõem a paisagem – como as capelinhas situadas em cima das colinas. Lacerda acrescenta: “essa solução é uma maneira de transmitir conhecimento e de contar as memórias da cidade. Isso é muito importante levando em conta o fluxo de turistas que passam por lá”.

Paisagismo

Laranjeiras é uma cidade extremamente quente e úmida. Para amenizar os efeitos do calor, o projeto especifica diversas espécies arbustivas para a orla do rio, criteriosamente selecionadas por Alicia Contrini pela capacidade de sombreamento. “A ideia é fazer com que a pessoa sempre esteja protegida por esse aglomerado de árvores, que gera um conforto maior aos usuários”, afirma Guile. “Basicamente, o projeto é uma junção desses três elementos: desenho do piso, mobiliário urbano e paisagismo”, complementa.

Pedra calcária

O piso adotado no projeto é feito com placas de pedra calcária, escolhido por dois motivos: a questão simbólica, de reprocessamento do material, e a térmica. Guile e Lacerda explicam que esse tipo de pedra é típico da região de Laranjeiras e, por conta disso, foi utilizada em abundância na construção dos antigos sobrados da cidade. Ao trabalharem com esse material, os arquitetos estabelecem um diálogo entre a contemporaneidade do projeto urbanístico e a história da arquitetura local. Além disso, por ser clara, a pedra calcária reflete mais os raios solares e absorve menos calor, promovendo maior conforto térmico para quem passa pelo local.

Escritório

  • Local: SE, Brasil
  • Início do projeto: 2016
  • Área do terreno: 10000 m²
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