Em 2001, o escritório Una Arquitetos foi convidado pelo Instituto de Arte Contemporânea (IAC) para reformar e restaurar o Centro Universitário Maria Antonia, um dos órgãos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP), instalado no conjunto formado pelos edifícios Rui Barbosa e Joaquim Nabuco na histórica rua Maria Antônia.
Fomos chamados para fazer esse projeto dentro de um processo, um convênio com o IAC, e é algo de grande importância para o escritório, porque além dos fatos históricos, é um conjunto de edifícios que foi se transformando ao longo do tempo Fernanda BarbaraOs arquitetos tinham como missão manter o legado de uma importante instituição que ocupou o local desde 1949, a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
Após um enfretamento entre estudantes e policiais no ano de 1968, a Faculdade de Filosofia foi transferida para a Cidade Universitária e o prédio ficou inativo por ordem do governo militar. Devido à relevância dos acontecimentos, a construção principal do conjunto – o edifício Rui Barbosa – foi tombada pelo órgão Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT).
De acordo com o arquiteto Fábio Valentim, a edificação ficou abandonada por um tempo, até que em 1980 passou a ser a sede da Junta Comercial do Estado de São Paulo, e em 1990 foi devolvida à universidade.
“Fomos chamados para fazer esse projeto dentro de um processo, um convênio com o IAC, e é algo de grande importância para o escritório, porque além dos fatos históricos, é um conjunto de edifícios que foi se transformando ao longo do tempo”, complementa a arquiteta Fernanda Barbara.
O projeto de reforma e restauro consistiu na adaptação dos blocos a um novo uso, com um núcleo de arte contemporânea com espaços expositivos, salas para cursos teóricos e práticos de curta duração, palestras, o Teatro da USP (TUSP) e outros eventos do segmento, e tem como questão central firmar o caráter público que historicamente marcou o patrimônio da universidade.
A intervenção realizada no edifício Rui Barbosa buscou valorizar a continuidade espacial em seu interior, o que antigamente era algo inexistente, pois lá era a sede do colégio Liceu Rio Branco e a residência do diretor. Este volume passou a abrigar as atividades didáticas, como cursos, oficinas e seminários acadêmicos ou abertos à comunidade.
O TUSP continuou em seu local de origem, no pavimento inferior. O espaço deveria ser flexível e ter configurações distintas para montagem de espetáculos. Para isso, foi proposto um novo sistema de circulação com duas alternativas de acesso: uma pelo próprio prédio e outra pela praça em meio às duas edificações. Além disso, uma nova torre de circulação vertical foi erguida, com elevador e escada de segurança.
Cada sala tem sua particularidade. Umas são mais abertas, climatizadas e mantêm a textura dos tijolos na parede; outras possuem iluminação direta e indireta, enquanto outras não têm luz natural e recebem iluminação artificial Fábio ValentimO edifício Joaquim Nabuco, na área envoltória de tombamento do Rui Barbosa, foi usado inteiramente como espaço expositivo. O térreo recebeu as salas de exposições, uma delas com amplas aberturas para a rua Maria Antonia. O primeiro andar tem mais três salas, inicialmente ocupadas pelo Instituto de Arte Contemporânea, mas de dimensões distintas. “Cada sala tem sua particularidade. Umas são mais abertas, climatizadas e mantêm a textura dos tijolos na parede; outras possuem iluminação direta e indireta, enquanto outras não têm luz natural e recebem iluminação artificial”, comenta Valentim.
“Também desenhamos o hall de entrada de uma maneira delicada, imaginando que lá também pudesse ser um lugar expositivo”, revela Barbara.
O nível inferior ficou para o depósito e reserva técnica, além do café, sala de dança e música.
A organização espacial desta edificação é feita por uma escada central e três salões de tamanhos distintos. O maior deles é voltado para o interior do lote e não possuía laje. Seu piso era constituído de barrotes e assoalho de madeira, mas estava totalmente comprometido pela ação de fungos e cupins.
Essa estrutura foi substituída por peças metálicas e laje de concreto, dimensionada para o novo uso e adaptada para exposições de obras maiores e mais pesadas. A fachada lateral precisou ser demolida para revelar a intervenção e requalificar o plano que se volta ao novo espaço público.
A abertura da varanda lateral revelou uma parede original construída na primeira década do século XX.
Além disso, o prédio também abriga a Biblioteca Gilda de Mello e Souza, cujo acervo conta com a coleção de livros de artes, estética e história da arte da professora que deu nome ao espaço e foi a primeira docente de Estética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
A proposta para as obras do Centro Universitário Maria Antonia incluiu o restauro das fachadas principais e a preservação da volumetria dos dois edifícios, mas propondo uma nova relação do conjunto com a cidade.
A área livre entre os prédios ganhou a dimensão de um espaço público, resultando em uma pequena praça. “A grande questão do projeto foi criar essa praça entre os dois edifícios e os espaços que sobravam na cota inferior, porque é um terreno em declive”, explica a arquiteta.
No nível da rua, essa praça faz o alargamento natural da calçada e define um acesso convidativo ao bloco. E no inferior, interligado à calçada por rampas e uma passarela, está um pátio arborizado que realiza a conexão entre os dois edifícios, criando, para o teatro, um lugar de apresentações ao ar livre.
A grande questão do projeto foi criar essa praça entre os dois edifícios e os espaços que sobravam na cota inferior, porque é um terreno em declive Fernanda BarbaraPara os arquitetos, requalificar os espaços livres e oferecer uma ligação generosa do conjunto com a cidade é a contribuição do projeto para a memória do movimento acadêmico, cultural e político que marcou a rua Maria Antônia.
Um dos pontos mais sensíveis do projeto foi revelar os diversos tempos do edifício e do conjunto, por exemplo, através da fachada de art decô que dá para a rua, feita em 1932.
“Preservamos essa fachada e a nossa intervenção só é visível na lateral do edifício, com a pequena praça de acesso e a nova construção inserida dentro do volume do antigo edifício”, conta o arquiteto.
A fachada foi protegida com um brise de aço inox, material escolhido, sobretudo, por sua durabilidade e baixa manutenção.
Um auditório foi colocado entre a cota do pátio rebaixado e a da calçada, criando uma espécie de praça de entrada para o edifício Joaquim Nabuco. Optou-se por fazer uma laje maciça para não perder também a altura com os elementos acústicos.
O modelo da laje foi feito a partir do desenho de acústica, como se a própria laje fosse o elemento de difusão das ondas sonoras do auditório. “Esse espaço tem uma relação bem bonita com a praça, porque ele tem uma viga de 15 m de vão e sobre ela tem um fechamento de tijolo de vidro que tem uma situação intermediária entre a transparência e a não transparência”, menciona o arquiteto.
Toda a climatização do Centro Universitário Maria Antonia é feita por ar-condicionado, para manter uma temperatura ambiente para as pessoas e obras expostas. A equipe do Una Arquitetos contou um especialista em conservação de obras de arte, Gedley Belchior Braga, para a implementação dos sistemas de manutenção.
A iluminação, desenvolvida e desenhada por Ricardo Heder, foi aplicada de forma difusa, predominantemente artificial em função da conservação das obras, para regular de maneira precisa a quantidade de luz que incidente nos elementos expostos.
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