Texto: Naíza Ximenes
Ausência de fachada padrão, arquitetura a partir de eixos e uma jabuticabeira no jardim — essas são as características da Casa Axial que mais agradam a equipe do TAU Arquitetos, responsável pelo projeto arquitetônico.
Em um terreno de esquina em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, a casa é fruto de um complexo projeto de fundação e implantação, justificado pela topografia do local. Com um declive de cerca de oito metros entre a cota mais alta e a mais baixa, o lote tem duas faces voltadas para a rua. A fluidez da estrutura é a marca registrada do processo autoral do escritório.
Segundo os arquitetos, o processo de construção surgiu a partir de eixos — daí o nome Axial. Eles traçaram várias linhas paralelas aos recuos, que são a distância mínima que um edifício deve ser afastado da rua, condicionando o formato de toda a casa.
Os 450 metros quadrados de área construída foram divididos em três pavimentos: inferior, térreo e superior. Como a privacidade era uma das premissas de toda a concepção, a casa ganhou somente uma via de acesso, onde estão a garagem e a porta de entrada para pedestres.
Em entrevista à Galeria da Arquitetura, o arquiteto Filipe Batazza contou que a porta de entrada foi projetada como um recuo em relação à fachada, sob um alpendre. A estratégia não só contribuiu para a fluidez do conceito, bem como proporcionou maior privacidade aos moradores, já que o acesso fica um pouco mais encoberto.
Uma vez dentro da casa, a delicadeza da fachada sai de cena para dar espaço à amplitude de um pátio interno aberto, naturalmente iluminado e com bancos com “cara de praça”. Brises de concreto formam um pequeno corredor atrás da porta de acesso, que logo revela o ambiente aconchegante.
No centro, a jabuticabeira é o grande destaque do jardim a céu aberto. Nas extremidades, a pedra portuguesa vermelha e o mosaico português revestem a parede e o piso, respectivamente.
O pátio é o ponto de convergência dos outros dois ambientes da casa, em duas orientações diferentes. Seguindo reto, o morador tem acesso aos dois lances de escada, em aço corten (ou seja, em um tom vermelho-ferrugem), que levam ao pavimento superior. Virando à direita, segue para a área social. Desta forma, as entradas ficam independentes umas das outras.
A área social é formada por um grande bloco, marcado por panos de vidro nas duas faces, envoltos por caixilharia anodizada perita. No teto, o forro de madeira ripada é o responsável pela integração de todo o espaço, com cozinha à esquerda da entrada; sala de jantar ao centro, e sala de estar à direita.
As portas de correr não são do piso ao teto, como explica o arquiteto Raoni Mariano. Sobre as folhas de vidro, que garantem a entrada generosa de luz natural, há pequenas janelas basculantes que garantem a ventilação cruzada mesmo com as portas fechadas.
Se o pátio interno está de um lado do bloco social, a área gourmet e de lazer estão do outro. Quando abertos, os panos de vidro levam o morador a uma grande varanda, que fica no mesmo nível da churrasqueira na extremidade. Três degraus conectam o espaço gourmet à piscina, abaixo, projetada sobre a laje. O local é circundado por um ilustre projeto de paisagismo, em que os arbustos garantem a privacidade interna.
Na cota mais baixa, está o programa de necessidades técnico, com casa de máquinas, depósito e banheiro de serviços. O patamar também ganhou jardim e área de fogo, contornado por um muro de pedra bolão — outro material natural para compor os revestimentos da casa.
Voltando aos lances de escada, um aspecto importante do design no pavimento superior são as lajes e vigas em concreto, que ficam aparentes. Apesar do concreto compor todo o sistema construtivo da casa, a ausência de revestimentos o torna, também, um elemento decorativo.
Há um mezanino central, de onde é possível visualizar todo o andar superior e o pátio interno, no térreo. O ambiente ganhou piso de madeira, guarda-corpo de aço corten, estante de madeira embutida na marcenaria, grandes janelas de vidro e teto de concreto aparente, em um cenário bem contemporâneo.
De um lado do mezanino, está a suíte master, com banheiro, closet e varanda privativa. Na sacada, o brise metálico em aço corten (que contribui para um controle maior da entrada de luz natural) se estende por toda a fachada do pavimento.
Do outro lado do mezanino, estão a suíte de hóspedes, que também ganhou banheiro e closet, e uma varanda privativa compartilhada com a sala de TV.
Segundo Batazza, a aposta, nos quartos, foi na abertura de vãos nas duas laterais dos quartos, criando espaço para a iluminação natural abundante. Nos banheiros superiores, ainda, além das janelas altas, aberturas zenitais garantem a ventilação e a entrada de luz natural no espaço.
“Vale ressaltar, também, que nós criamos uma cisterna com capacidade para dez mil litros, para captar a água da chuva e distribui-la em todo o paisagismo”, explica Mariano. “Além disso, cerca de 20 painéis fotovoltaicos na cobertura geram energia elétrica e quatro painéis solares a vácuo que esquentam a água do boiler, completando as estratégias com foco na sustentabilidade do projeto.”
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