Carbono

Convite ao inusitado

Texto: Marina Cabral

O showroom da Carbono tem o objetivo inicial de instigar a curiosidade e convidar transeuntes a visitar o ambiente. Além disso, conforme desejo do dono, o artista e designer de móveis Marcus Ferreira, o projeto deveria aliar-se aos elementos decorativos do cenário, destacando-se pela identidade única. O desafio da equipe do SuperLimão Studio foi transformar o espaço inicialmente amplo, fechado, escuro, com pé-direito muito baixo e pilares pesados em um ambiente convidativo e aconchegante.

“Conversamos bastante sobre o layout, para que ele não induzisse diretamente os clientes às compras. Assim, criamos um lugar descontraído para as pessoas se sentirem em casa”, explica Thiago Rodrigues, um dos arquitetos responsáveis pela reforma. A proposta do showroom é a venda de objetos e móveis, mas o ambiente mostra-se de maneira convidativa. “Por exemplo: uma passada pela cozinha comÉ uma loja mutante. A fachada sempre em movimento foi a forma encontrada de fazer algo diferente Lula Gouveia geladeira, bancada e café estimula as pessoas a servirem-se. No living, sofás confortáveis envoltos por mesas de centro seduzem a relaxar, e assim por diante”, ilustra o profissional.

Fachada chamativa e única

Logo na entrada, a fachada do projeto se destaca entre os imóveis da região. Ela é composta por painéis negros inspirados na técnica japonesa ”shou-sugi-ban”, que preserva a madeira queimando sua superfície até o material atingir o ponto de carbonização. “Queimamos a frente para relacionar a técnica oriental à marca Carbono. A aplicação da resina serve de proteção e cria uma textura semelhante a um couro brilhante, quando vista de longe. É uma espécie de pele de elefante, um espectro de cinzas e pretos”, destaca Thiago.

O arquiteto Lula Gouveia, também autor do projeto, ressalta a mudança na volumetria da loja, causada pelo efeito das aberturas. “Fizemos um jogo de cores criando uma cobertura e dois acessos: uma porta que se abre e origina uma bandeira e outra que se levanta como se fosse uma guilhotina. É uma loja mutante. A fachada sempre em movimento foi a forma encontrada de fazer algo diferente”.

Para quebrar o ambiente escuro e sóbrio, a equipe planejou vários tipos de aberturas em formatos diferentes, com portas internas que abrem e fecham para ocultar os vãos de acordo com o momento. Tudo isso com a ajuda de movimentos mecânicos realizados com engrenagens e polias. “As portas com cores vivas nas partes internas podem mudar a composição dessas aberturas e fechamentos conforme o clima necessário à ocasião. É uma brincadeira dinâmica que ora convida, ora transmite mistério, como deixar apenas uma das portas abertas”, ressalta Thiago.

Estrutura e diferentes revestimentos

Como o projeto não precisava respeitar conceitos pré-estabelecidos, a liberdade de escolha e aplicações deu ao showroom personalidade única. De acordo com Thiago, os materiais criaram composições geométricas variadas e de forma fluida. “Demolimos e tiramos o antigo forro pesado do imóvel. A solução imprimiu fôlego, pois aumentou um pouco o pé-direito. A laje, por ter passado por várias reformas, apresentava muitos desníveis. Limpamos o espaço e inserimos alguns elementos como a tela metálica, que escondeu as imperfeições e as várias alturas da construção. E mais: ela ainda serve de suporte para uma iluminação flexível”.

O piso é um dos diferenciais na edificação, pois reúne uma mescla de materiais como concreto, borracha e madeira, permitindo uma irreverente composição. A mistura de elementos também pode ser vista nas paredes. “Tínhamos a preocupação de não delimitar espaços, originando mini-ambientes com esses materiais, mas apenas criar interseções a partir da mudança das texturas. Até as televisões, dispostas estrategicamente onde as paredes se fundem ao teto, passaram a integrar essas texturas, como se fosse um pano de fundo geral”, explica Thiago.

Iluminação e ventilação

De acordo com Gouveia, a iluminação mostra-se funcional ao ser instalada na tela metálica disposta no teto. “Luminárias flexíveis permitem mudar o clima do ambiente de forma prática. Se ele chegar uma hora antes de abrir a loja, é só mudar a luminária de lugar e está resolvido”.

Para otimizar a luz natural e ventilação, foram instaladas telhas de fibrocimento com claraboias em substituição ao antigo telhado. Uma cobertura verde melhora a umidade do showroom e o isolamento térmico. “Usamos o SkyGarden, um substrato superbacana. Com metade do peso de um substrato-padrão e espessura fina, conseguimos um efeito incrível: um dos telhados mais finos que já vimos, com quinze centímetros de telha, estrutura e grama, a um custo superinteressante”, destaca Gouveia.

O arquiteto também reforça a qualidade do isolamento e conforto térmico alcançado com a instalação. “Agora é possível abrir a janela e receber a brisa úmida. O resultado é tão bom que as pessoas sentem vontade de ir até a cobertura. É uma das áreas mais bacanas da loja”, conclui.

Detalhes e decoração

Alguns elementos do projeto fazem referência ao próprio mobiliário exposto. “Sem perder a simplicidade, revestimentos, iluminação, cores, produção e um pouco do conceito do lugar seguem referências que seriam o fio condutor na decoração. Como o sofá de design com tecido bacana ou três caixas de madeira empilhadas, entre outros objetos, que ajudaram a formar a imagem de ambiente comercial esperado pelo público”, completa Thiago.