Há 40 anos, o restaurante Viena Delish abria as portas da sua primeira unidade no icônico Conjunto Nacional, em São Paulo (SP). Com o decorrer do tempo, outras casas foram inauguradas e, proporcionalmente ao sucesso delas, crescia o desejo de inovação da marca. Foi então que, em 2016, os escritórios Todos Arquitetura e StudioIno se uniram para reformular um novo espaço no Shopping Iguatemi, também na capital paulista. Feito a várias mãos, o projeto de interiores resgata as origens do estabelecimento, amarrando conceitos que remetem ao frescor do campo e à materialidade das antigas delicatéssen.
Cada abertura [da estante] lembra os grandes panos de vidro da fachada do Conjunto Nacional Fabio MotaA Todos Arquitetura ficou responsável pela conceituação, materialidade e definição do projeto de interiores. Já o StudioIno assumiu a disposição dos ambientes, o detalhamento técnico de toda a parte da cozinha e do bar, bem como o gerenciamento da obra. “Realizamos as pesquisas iniciais, além de organizarmos os workshops de design thinking e contribuirmos com a definição conceitual e estratégica do empreendimento”, escreve Emmanuel Melo, designer de produto e diretor desta empresa especializada em projetos foodservice.
Segundo a arquiteta Lais Delbianco e o designer de interiores Fabio Mota (ambos da Todos Arquitetura), o projeto do Viena Delish chegou até eles através de uma agência, que estudou e reformulou o branding da marca. A demanda era para que criassem a ambientação do restaurante a partir disso.
“Nós integramos esse estudo, mas também nos aprofundamos observando quais partidos poderíamos adotar”, introduz. Depois de avançarem em muitas pesquisas, os profissionais voltaram onde tudo começou: década de 1970, no Conjunto Nacional.
A cidade de São Paulo está representada na grande estante feita de ferro, que percorre toda a lateral do estabelecimento. Sua estrutura, que possui as formas cartesiana e geométrica do modernismo, assemelha-se à volumetria do clássico prédio da Avenida Paulista. “Cada abertura lembra os grandes panos de vidro da fachada desse edifício”, destaca Mota.
O móvel cumpre ainda a função de organizar os espaços de acordo com as suas diferenciações de uso. Por atravessar o imóvel de ponta a ponta, a estante serve de apoio para vários ambientes, como bar, empório e lounge. “Ela diz o que está acontecendo em cada área do restaurante”, comenta Delbianco. A iluminação em trilho destaca a prateleira e as principais áreas da casa.
Outra referência à cidade de São Paulo é a atmosfera acinzentada, proveniente, sobretudo, do piso de porcelanato que imita o cimento queimado e das colunas em concreto. Como essas estruturas eram os pilares originais do shopping, elas foram mantidas, porém, descascadas para evidenciar seu aspecto cru.
A parede na qual foi instalada a estante também acompanha esse matiz neutro. Revestida de lambris de madeira clara, ela possui uma tonalidade que se aproxima do cinza. Ao atingir a área do bar, os lambris ganharam espelhos, que refletem as bebidas e criam um efeito interessante junto à iluminação cênica do espaço.
Delbianco explica que a intenção era mostrar a essência do espaço, no qual nada é escondido ou maquiado. Nos balcões dos bares, por exemplo, foi trabalhada a pedra pigues – um mármore branco com veios acizentados –, que reforça a paleta mais fria do Viena Delish.
O Viena Delish é uma típica loja delicatéssen. Com amplo programa, o local dispõe de restaurante, bar, sandwich shop, área para a preparação de pizza, empório e lounge. Segundo Delbianco, o projeto de interiores deveria resgatar o conceito aplicado às antigas delis. “Pesquisamos referências brasileiras e internacionais para replicar a materialidade, as paletas e as texturas desse tipo de estabelecimento”, afirma.
Para conciliar com as inúmeras possibilidades de alimentação do restaurante, os autores incluíram diferentes maneiras de se utilizar o espaço. Mesas comunitárias, individuais e circulares, além de sofás e banquetas, acentuam o clima informal característico de uma delicatéssen. A madeira, presente nos lambris e no mobiliário, também retoma o estilo deli.
Originalmente, esse tipo de estabelecimento é identificado por um ambiente diurno bem iluminado. Por conta disso, a equipe da Todos Arquitetura procurou adotar referências brancas ao projeto, como foi o caso da cerâmica que reveste toda a parte aérea do restaurante.
Conhecido como tijolinho subway, esse material foi aplicado de uma maneira diferente. Em vez de as peças ficarem na horizontal, elas foram dispostas na vertical, o que contribuiu para dar a sensação de um pé-direito maior. Este era, inclusive, um dos pedidos do cliente. “O antigo Viena tinha um forro baixo que achatava o espaço. Quando o retiramos, encontramos um pé-direito altíssimo que poderíamos explorar”, recorda Delbianco.
Pesquisamos referências brasileiras e internacionais para replicar a materialidade, as paletas e as texturas desse tipo de estabelecimento Lais DelbiancoAlém das instalações aparentes, o olhar dos clientes é direcionado para cima em função da comunicação visual empregada sobre os azulejos brancos. O time da Todos Arquitetura chama essa solução de lettering – uma arte de desenhar letras combinadas a formas livres. “Pintados à mão, frases e desenhos criam um clima informal ao local”, complementa a arquiteta.
Um diferencial das delicatéssen é oferecer produtos frescos. Este seria, portanto, outro partido estabelecido no projeto de interiores do Viena Delilsh. Reproduzindo esse conceito, surge uma estrutura em framing metálico, sem nenhum tipo de anteparo, que foi nomeada pelos profissionais como Green House. Mota define: “ela é literalmente uma estufa, na qual são cultivados alimentos. Na verdade, é um berçário de plantas”.
Instalada no centro do projeto, a casinha vazada traz a vegetação para perto dos clientes, além de não prejudicar a questão da luminosidade nem a climatização do espaço. De acordo com Delbianco, a estrutura minimiza o desconforto que poderia ser gerado pelo amplo pé-direito.
Outros elementos naturais foram incorporados ao restaurante, como o tecido de algodão do sofá e o tapete em couro trançado à mão.
Em contraponto ao piso de porcelanato e às superfícies lisas, as mesas recebem um tratamento acústico, sendo aplicada uma espuma embaixo delas. “Além disso, a própria textura do forro ajuda, pois tem muitas texturas e tubulações. O som bate nesses obstáculos e acaba se dissipando por ali”, esclarece Delbianco.
O Viena Delish do Shopping Iguatemi conquistou a categoria continental do Prix Versailles – principal premiação da arquitetura comercial promovida pela UNESCO e pela União Internacional dos Arquitetos (UIA).
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