Desenhado para uma jovem fotógrafa, que desejava ter um novo ambiente de trabalho onde pudesse fazer tanto ensaios quanto pequenos eventos – palestras e exposições de arte –, o Studio R, localizado na capital paulista, surpreende pela flexibilidade e integração de seus espaços internos e externos. Em vez de ser um lugar fechado e claustrofóbico, o estúdio tem espírito dinâmico, alegre e vivo, onde as pessoas usam tanto os ambientes internos quanto os jardins.
Implantado de frente para uma pequena praça urbana, ele se abre inteiramente para o exterior. O espaço interno flui para os jardins laterais do edifício e para a área urbana, estabelecendo uma continuidade espacial entre a praça e o edifício. Gabriel Kogan, arquiteto e coautor do projeto, explica que, com simplicidade funcional e formal, o partido arquitetônico do Studio R buscou diluir as barreiras entre interior e exterior. “Criamos a total continuidade espacial entre os ambientes”.
Longe de ter uma frente estática, o Studio R oferece uma fachada integradora com a via urbana, uma vez que a entrada é feita pelo próprio jardim noroeste, que se conecta com a praça da frente, transformando a área de recepção em um prolongamento da rua. Nesse acesso principal, um portão de alumínio se embute inteiramente na empena de concreto e contribui para integrar o pátio frontal à praça.
Criamos a total continuidade espacial entre os ambientes Gabriel KoganOutros dois grandes portões basculantes metálicos – cada um com mais de 11 metros de largura – permitem fluidez entre os jardins e o vão do estúdio. Quando abertos, desaparecem com todas as barreiras visuais entre espaços internos e externos. Fechados, permitem que a iluminação dentro do estúdio fotográfico seja controlada artificialmente, dependendo do uso e da luz necessária à confortável realização do trabalho.
Tanto a organização espacial, quanto os materiais escolhidos dialogam com a tradição da arquitetura moderna, sobretudo brasileira. “O concreto aparente, moldado por uma fôrma de madeira feita artesanalmente, é uma marca da arquitetura brutalista de São Paulo do século 20”, expõe Gabriel Kogan. Já os muxarabis, usados em madeira natural e na cor vermelha, são herdados pelo modernismo brasileiro da antiga arquitetura colonial. “Reinventamos todos esses elementos para obter uma atmosfera contemporânea”, complementa.
O terreno de 338 m² impunha restrições de construção, sobretudo em função de rígidas leis urbanas. A partir dessas limitações e possibilidades construtivas, a volumetria da construção foi determinada. “Organizamos o programa com o grande vão exigido para o estúdio, juntamente com áreas de apoio para as atividades de ensaio, em todo o térreo edificável. No segundo andar, implantamos o escritório e, no terceiro, uma pequena sala de lazer”, descreve o arquiteto.
No térreo, o grande salão de 12,60 x 12 m integra-se tanto com o jardim noroeste, em estilo minimalista, quanto com o jardim sudeste, dotado de vegetação tropical exuberante. A ligação entre os extremos é feita por meio de portões basculantes. No pavimento há uma caixa revestida com fórmica-lousa que abriga banheiro, camarim e área técnica.
Gabriel revela a inexistência de qualquer interferência da estrutura nesse espaço. “Ela fica embutida nos muros laterais do edifício”. Atrás da caixa verde, a escada é realçada pela iluminação vinda de uma abertura zenital e conduz ao primeiro andar, onde encontram-se os escritórios e a biblioteca.
O primeiro andar – onde localiza-se o escritório principal – é notado principalmente pela existência de uma grande janela de 11,20 X 2,30 m, protegida por um painel fixo, de muxarabis de madeira, que filtra a luz natural. A abertura é voltada para a copa da árvore da frente, onde a pequena praça do entorno transforma-se em paisagem inspiradora, vista da mesa de trabalho da jovem fotógrafa.
“Ao decidir por cada solução arquitetônica, buscamos criar um ambiente de trabalho acolhedor, por meio da permeabilidade entre o interior e exterior”, reflete Gabriel. Todo o espaço nesse pavimento é organizado por um volume com material metálico que divide salas e corredores. Dentro dele há uma cozinha, banheiros e uma escada que leva para o último andar.
Ao decidir por cada solução arquitetônica, buscamos criar um espaço de trabalho acolhedor, por meio da permeabilidade entre o interior e exterior Gabriel KoganDo lado de fora do volume, as salas de trabalho podem ser abertas ou fechadas, uma vez que painéis deslizantes se embutem na caixa central. Abri-los ou fechá-los depende apenas da privacidade desejada.
No último andar, a sala social posiciona-se em balanço sobre o jardim frontal. O espaço abre-se por meio de painéis-camarão de madeira pintados na cor vermelha. Os painéis expõem a sala para um deque, onde se enxerga novamente a copa das árvores. “É um ambiente agradável, ideal para reuniões em dias ensolarados”, recomenda Gabriel Kogan.
No interior, os materiais utilizados evidenciam uma estética industrial, mais do que apropriada para o uso intenso de um estúdio fotográfico, no qual a transformação constante é um pré-requisito. O piso do grande vão é de resina branca. De forma inusitada e funcional, ele se transforma na parede, formando um fundo infinito. Nos demais andares, o piso de madeira aquece os ambientes. Na área externa, os portões metálicos juntam-se ao concreto armado aparente e aos painéis de madeira de diferentes cores.
Devido a diversas estratégias de sustentabilidade passiva, o edifício apresenta excelente conforto térmico. Ao abrir janelas e portas, a ventilação cruzada existente e os elementos de sombreamento – como os muxarabis – dispensam o uso de ar-condicionado, mesmo nos dias mais quentes. “O interior é permanentemente fresco”, garante Kogan.
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