Uma casa 100% autossuficiente, com fornecimento de água exclusivo das nascentes locais, energia elétrica gerada in loco e esgoto solucionado na própria casa: esses foram os elementos de sustentabilidade adotados pelo studio mk27 para construir a Fazenda Catuçaba, localizada na cidade que dá nome ao projeto, no interior de São Paulo.
"Nosso objetivo principal foi conciliar a premissa sustentável radical com a linguagem arquitetônica de nossos projetos. Acreditamos que a poética e os valores espaciais são parte da sustentabilidade de uma obra de arquitetura", declara o arquiteto Lair Reis.
O empreendimento, que conta com 309 m², foi um dos nove selecionados pelo GBC Brasil (Green Building Council) para servir como parâmetro nacional de sustentabilidade. Ele é, por enquanto, o único projeto residencial do país certificado como sustentável na categoria Platina, a máxima possível no Referencial.
Devido à topografia bastante acidentada, o terreno mostrou ser de difícil acesso para a construção de uma casa. Desde o início, os arquitetos sabiam que as soluções estruturais e os demais componentes construtivos deveriam ser, preferencialmente, pré-fabricados, o que facilitaria o transporte e a sua montagem no canteiro de obra.
O revestimento da fachada, em seu trecho opaco, conta com a mesma biriba de eucalipto aplicada nos painéis tipo camarão que controlam a incidência solar. O piso de tijolo foi inspirado nos terreiros de café e nas casas coloniais.
Outro detalhe são as janelas dos dormitórios. "Para equilibrar o conforto térmico passivo, esses ambientes não poderiam ser totalmente envidraçados, como imaginávamos inicialmente. Ao criar aberturas menores, buscamos nas janelas das casas coloniais a referência para o formato e para a cor das nossas", conta o arquiteto.
No alçado sul, que recebe menos sol, a residência é toda envidraçada com vidro duplo, com ar entre as placas, encaixilhado para contribuir com o conforto térmico. Ao norte, o projeto é revestido com biribas de eucalipto, parte como fechamento do terraço coberto, parte como proteção, e ainda sobre paredes opacas, mantendo a unidade da fachada. Nas laterais, com orientações predominantemente leste e oeste, os muros de adobe com terra local delimitam o espaço da casa.
Toda a iluminação da casa é feita com LED, e a energia que a abastece é gerada através de painéis fotovoltaicos e uma turbina eólica. As soluções tecnológicas aplicadas no projeto têm a ver, fundamentalmente, com a sua autonomia energética, com o tratamento do esgoto e o conforto termo acústico dos usuários.
O projeto também conta com painéis coletores solares para aquecimento de água, além de isolante de celulose (à base de papel picado reciclado) na cobertura isolante e à base de garrafas pet recicladas nas paredes.
O paisagismo da Fazenda Catuçaba buscou reconstituir a mata original da região, ao mesmo tempo em que implantou estratégias para combater a brachiaria - planta invasora e nociva ao ecossistema local.
"Utilizamos árvores frutíferas, nativas da cidade, com intuito, inclusive, de atrair e alimentar pássaros e pequenos animais", comenta. A fácil manutenção da horta e do jardim também foi considerada, por se tratar de uma casa de final de semana.
Para o projeto de interiores, as peças sugeridas pelo escritório foram selecionadas de forma a conciliar os traços contemporâneos da arquitetura com a sua localização rural. Além das peças provenientes de antigas fazendas coloniais, os móveis foram escolhidos pelo próprio cliente, em sintonia com o clima da casa.
"O programa da Fazenda Catuçaba é muito original, e atendê-lo foi uma experiência interessante. O trabalho focado em torná-lo certificado com nota máxima no Referencial do GBC, sem dúvida, deve ser destacado. Isso nos motivou a criar um programa interno no escritório para a certificação de todas as nossas residências no Brasil", conclui Reis.
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