Coletividade e adaptação são conceitos que definem a fachada e a divisão de apartamentos do Edifício Ourânia, em São Paulo, projetado pelo Studio MK27. O exterior do prédio ganhou oito tipos de janelas diferentes, em um sistema de um apartamento por andar — um “caos proposital”, segundo a Diretora de Arquitetura e co-autora do projeto, Suzana Glogowski.
A obra fica no bairro da Vila Madalena, a uma quadra da Praça Pôr do Sol — um ponto turístico da cidade que proporciona uma vista garantida do horizonte, por ficar no alto de uma das ladeiras do bairro. E, assim como a praça, o terreno do edifício também possui topografia em declive.
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Os arquitetos tiveram que considerar duas circunstâncias iniciais para começar o projeto: o declive do terreno e a tipologia da zona de construção. O bairro escolhido para a obra é uma Z1, ou seja, uma região destinada, exclusivamente, a residências unifamiliares horizontais. Com a delimitação, fica proibida a construção de prédios de cunho comercial na região, e as obras têm área máxima de construção igual à área do lote. Apesar do modelo de zoneamento representar maior sossego nos arredores, ele faz necessário um maior deslocamento para ter acesso a serviços básicos.
A Z1 ainda vem acompanhada de outra limitação: a restrição à verticalização. Assim, com altitude limitada, o edifício ganhou oito pavimentos, além do térreo e subsolos. A área total do terreno é de 1.422 metros quadrados, em um lote de cerca de 12 metros de frente por 48 metros de profundidade, que se mostra como uma sucessão ritmada de janelas.
Todas as janelas ganharam persianas no exterior, que permitem o controle da privacidade e entrada de luz
O arquiteto Marcio Kogan, fundador do Studio MK27, contou que todo o conceito do prédio foi criado a partir da modularidade. Primeiro, pela mobilidade dos brises móveis da fachada, que possibilitam a entrada de luz natural no prédio, mesmo que ele esteja voltado para o poente; e, segundo, porque as colunas, vigas e paredes dos apartamentos foram deslocadas para as extremidades de todas as unidades, deixando-as livres e permitindo a estruturação das plantas de acordo com a vontade do cliente. É possível alterar, inclusive, a disposição das janelas de cada apartamento.
Para viabilizar essa construção, a equipe optou pela construção de shafts — aberturas verticais na alvenaria, por onde passam as instalações essenciais, como tubulações hidráulicas e elétricas — nas vigas. Assim, é possível escolher desde a quantidade de suítes e banheiros até o tamanho da varanda.
“O projeto é uma retícula de concreto, fechada por módulos que são compostos por peças de alumínio”, explica Glogowski. Cada unidade ficou com paredes de seis e três metros, e, no exterior, ganhou persianas que regulam a transparência de cada janela.
Os materiais predominantes nos apartamentos – concreto, vidro e alumínio – são quase os mesmos das áreas comuns, com exceção da madeira presente no térreo e nos subsolos.
O percurso de entrada do Edifício Ourânia é permeado por um jardim de um lado e pelo lobby do outro. No lobby, a madeira clara em um tom mais aproximado do mel — como descreve a Diretora de Interiores, Diana Radomysler — equilibra a frieza proporcionada pelo branco dos outros materiais e do concreto.
No chão, o mosaico português faz uma alusão ao conceito de praças, tanto em homenagem às que existem ao redor, quanto à praça que existia no local onde fica o lobby. Foi pensando nisso, inclusive, que a área social ganhou um grande banco constituído por um tronco de madeira, além da escada em caracol que leva ao primeiro andar.
Ao contrário do que se imagina, o primeiro pavimento do prédio não abriga um apartamento. Como o espaço ficou ao lado de uma casa de dois andares, no lote lateral, a unidade que ficasse ao lado dessa residência não teria privacidade alguma — em especial, devido aos panos de vidro das unidades.
Desta forma, a solução encontrada foi construir a academia no primeiro nível, que ganhou pé-direito alto e forro de madeira que se dobra e preenche metade da parede. “Se o teto de madeira da academia proporciona acolhimento, o vidro das paredes proporciona permeabilidade. O morador poderá fazer ginástica na copa das árvores”, conta Radomysler.
No segundo andar, o apartamento ainda é reduzido, devido ao pé-direito da academia. No primeiro subsolo, por sua vez, fica a piscina, que, por conta do declive, possui luz natural com entrada facilitada pelas pérgolas de madeira e teto de vidro. No segundo subsolo, há ateliês privativos, jardins individuais, spa, sauna, sala de massagem e garagem.
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