Uma caixa de madeira e concreto seguramente suspensa em uma estrutura aparentemente frágil com grandes portas de vidro deslizantes impressiona. Ainda mais se o pavimento superior parecer flutuar sobre o piso térreo, trazendo uma insustentável leveza ao conjunto. Projetada pelo StudioMK27 - Marcio Kogan + Lair Reis, a Casa dos Ipês é composta por blocos retangulares e grandes aberturas nos dois andares. Simples e pragmática, é fundamentada por uma grade de concreto.
Nesse sistema construtivo, o concreto não é apenas um acabamento, mas a própria viga, o pilar, a parede, a laje ou o piso da construção. A grande vantagem é que o material dispensa o desenvolvimento de outras etapas da obra, como emboço e reboco, sendo desnecessário investir em outros revestimentos.
Na década de 1990 o emprego desse material caiu em desuso. Poucos arquitetos o utilizavam de forma experimental e esporádica, sem fixar um know-how construtivoMarcio KoganCom este case, o StudioMK27 apenas reafirma uma linguagem própria de projetar iniciada há dez anos, quando tentou fazer sua primeira obra em concreto armado aparente e quase foi desestimulado por diversas construtoras. “Na década de 1990, durante um determinado período, o emprego desse material caiu em desuso, ficando restrito a poucos arquitetos que o utilizavam de forma experimental e esporádica, sem fixar um know-how construtivo”, explica Marcio Kogan, autor da edificação. Mas o sistema foi retomado e desenvolvido, e sua versatilidade e resistência ganharam destaque em obras que se tornaram ícones.
Se na teoria o uso do concreto armado aparente, caracterizado pelo emprego de areia, pedra e cimento somados ao esqueleto de aço prioriza a estrutura e qualifica acabamentos e revestimentos como supérfluos, em nome de uma poética “verdade estrutural”, na prática o sistema se mostra bem mais complicado. Ao colocar a mão na massa, é necessário, antes de tudo, fazer complexas formas, geralmente com madeira nova e de boa qualidade, material caro que onera o valor final.
Na Casa dos Ipês, o efeito de textura ripada exigiu um trabalho preciso e totalmente artesanal de carpintaria, pois é necessário montar à mão o negativo de madeira do edifício. Além disso, a composição do concreto deve ser especial para permitir ser trabalhado adequadamente antes de se solidificar. Ao ser desenformado, ele precisará ter praticamente a configuração final, sem deixar margem para erros, como empenas e ranhuras comprometedoras do resultado final. Todo o processo torna-se arriscado porque caso uma das placas não saia a contento, terá de ser refeita, e o processo reiniciado.
Por outro lado, o concreto é uma espécie de radiografia da passagem do tempo e da construção, cuja superfície fica impregnada pelos menores defeitos e nós da madeira existentes nas formas utilizadas. “Como dizia alguns, é pedra líquida”, explica Kogan. “A experiência de construção em concreto armado mostrou ao StudioMK27 a inviabilidade de fazer um material absolutamente perfeito. “É justamente ao contrário: sua beleza vem das pequenas imperfeições. A Casa dos Ipês incorpora essa experiência de projeto e edificação em concreto aparente”, conclui.A beleza do concreto vem das pequenas imperfeiçõesMarcio Kogan
No pavimento térreo, a sala é contínua à varanda e ao jardim, delimitada por caixilhos envidraçados que permitem ser totalmente abertos, diluindo a divisão entre interior e exterior. Nela, um comprido sofá de formato irregular se esgueira, construindo um lugar sem qualquer hierarquia entre as diferentes orientações, seja voltado para a grande estante de livro ou para a contemplação da área externa.
A entrada principal é feita com um conjunto de painéis pivotantes que se abrem inteiramente para o jardim frontal. Já no andar de cima, uma sala de televisão distribui a circulação para os quartos, iluminados por um rasgo de madeira na parede de concreto da fachada. Os brisés, também de madeira, garantem o conforto térmico no interior e possibilitam controle total da iluminação.
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