Quem caminha inadvertidamente pelas ruas do bairro de Pinheiros, nos limites do Jardim Europa, em São Paulo, poderá se deparar com uma construção nada comum. De acordo com o ângulo de visão do expectador, a Casa Cubo mostra-se no terreno de 900 metros quadrados como uma caixa quase hermética ou, de forma surpreendente, desponta parcialmente da mata – um exuberante jardim que envolve o partido. Marcio Kogan e Suzana Glogowski, autor e coautora da obra, do escritório de arquitetura studio mk27 complementam: “Cria-se a sensação de uma caixa mágica que ora se materializa, ora se dissolve”.
O volume está rodeado por um muro de concreto e metal. Ao atravessar esse limite e alcançar o jardim, depara-se com um cubo com rasgos nos pavimentos superiores e um térreo repleto de esquadrias de tela metálica perfurada. Quando abertas, as esquadrias integram as áreas de estar e jantar à parte externa, transformando o espaço em uma generosa varanda.
Originado da reunião de lotes, o terreno pequeno para o programa e para as demandas de uma família impulsionou a construção de um partido vertical. As áreas íntima, de serviço e social espalham-se nos três andares do cubo quase perfeito, cuja volumetria retilínea e precisa é uma réplica da forma regular do terreno.
Sua estrutura caracteriza-se por quatro empenas de concreto aparente e perfuradas que dividem praticamente as mesmas proporções com os pisos e a cobertura. Para acomodar o programa da residência, os arquitetos desconstruíram o cubo. Parte do térreo foi subtraído, uma vez que esta fatia sobre o solo é sustentada por pilotis redondos. No lugar de habituais paredes de concreto ou mesmo aberturas envidraçadas, há uma fita metálica montada em três portas deslizantes do mesmo tamanho.
Direcionadas para a piscina, e para o fundo – a janela da sala de TV –, as aberturas revelam o interior das salas de jantar e estar, ocupado por 2/3 da área, e pela cozinha acomodada no espaço restante. Já o segundo andar, com paredes de concreto, resguarda o setor íntimo. Dormitórios dos filhos alinham-se sobre as salas, enquanto a sala de TV sobrepõe-se à área da cozinha. A densidade do material só é vencida pelas janelas que revelam a área interna dos quartos.
A proteção visual do concreto continua no terceiro pavimento, na porção do closet e banheiro. No entanto, a suíte principal – cuja área é praticamente a mesma do closet e está localizada na fachada – foge à regra ao ser fartamente iluminada por uma grande abertura envidraçada. Nesse andar o escritório vazado nas laterais deixa a impressão de estar em um túnel. “Ele é um paralelepípedo subtraído do cubo de concreto que atravessa todo o andar de um lado e do outro”, resume Marcio Kogan.
O último andar abriga não só parte da infraestrutura da casa, mas uma pequena área de estar ao ar livre em um jardim no terraço, feito para admirar a paisagem do entorno.
O concreto aparente está nas fachadas. A escolha é considerada pelos arquitetos como a ideal para uma residência em uma grande cidade como São Paulo. Sua textura áspera é fruto do processo artesanal utilizado, com molde de madeira. Os painéis metálicos também remetem à cor do concreto. “O sistema de painéis de metal e vidro encontra-se incorporado nas paredes e tem a importante função de manter o conforto térmico no interior”, conta Suzana. Nas aberturas dos quartos – chamadas de perfurações pela arquiteta –, os painéis metálicos de folhas perfuradas filtram a luz, e os de vidro deslizante controlam a ventilação natural.
Para decidir o local ideal das aberturas no cubo os arquitetos levaram em consideração as condições climáticas. A caixa de concreto é totalmente integrada ao jardim e os painéis metálicos, quando fechados, dão ao dormitório privacidade e sombra. Quando abertos, tornam o espaço interior uma extensão de espaço ao ar livre.
Ver a Casa Cubo à luz do dia e à noite são experiências distintas. Sem a luz do sol, ela torna-se uma lanterna. O espaço interno fica evidente desde a fachada, uma vez que o volume denso de concreto apaga-se e, em seu lugar surgem volumes de luz internos.
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