Quando a luz do sol incide no volume branco da cobertura da moderna Casa Cobogó, em São Paulo, e adentra pelas fendas dos elementos vazados, incidindo no espaço interno, a obra de arte do artista austro-americano Erwin Hauer – criador de esculturas concebidas para espaços arquitetônicos desde 1950 – confunde-se com a arquitetura de Marcio Kogan, do Studio MK27.
O efeito entre luz e sombra forma o desenho tridimensional de uma renda, que se transforma ao longo do dia, ganha vários aspectos e se multiplica por todo o ambiente, fazendo da própria luz uma construção. O show continua à noite, assim que a iluminação posicionada na base da extensão em 'L' dos cobogós revela mais uma vez a propriedade mutante da residência.
Isso acontece porque a geometria volumétrica e suave dos elementos vazados forma as paredes feitas com linhas curvas infinitas. O elemento modular minimalista, em sintonia com o partido, lembra alguns traços da arquitetura moderna brasileira.
A Casa Cobogó é estruturada com volumes puros e sobrepostos, feitos de massa branca, concreto e madeira. Sobre o último pavimento repousa, junto do terraço-jardim, o volume construído com os elementos vazados. No interior desse espaço há uma sala de múltiplos usos e um pequeno spa.
No spa, os cobogós de cimento e agregado de mármore foram inspirados nos arranjos geométricos da natureza e formam uma parede em “L”. Por estarem expostos a intempéries, o alemão Erwin Hauer optou por um material mais resistente na fabricação das peças, caracterizando o uso pioneiro nessa residência.
No térreo a sala está conectada ao jardim, que abriga um pequeno lago artificial usado pelos moradores também como piscina. Peixes e plantas ajudam a manter o equilíbrio biológico do local dispensando uso de produtos químicos. “O pensamento ambiental permeou todo o projeto.
Incorporamos princípios de sustentabilidade estabelecidos por rígidos padrões, similares às certificações”, relata Kogan.
Há uma grande preocupação em usar dispositivos de reaproveitamento e diminuição de consumo de água; racionalizar e organizar a construção para minimização de impactos; utilizar dispositivos de otimização de eficiência energética; instalar placas de aquecimento solar; além de usar apenas materiais certificados, reciclados ou ecologicamente corretos. A soma dessas atitudes a uma arquitetura respeitosa com o clima local resultou em uma casa com excelente conforto interno.
Tanto na sala dos fundos – que de um lado se abre para o grande jardim frontal e do outro para um pátio de árvores – quanto nos quartos, os ambientes internos são sombreados por um muxarabi de madeira que proporciona boa ventilação. Até a terra removida na escavação da piscina foi parar no muro, aplicada em quadros retangulares.
Entre interior e exterior, o limite é sutil, quase inexistente. Contribuem para isso o fato de os pisos da sala e do pátio serem quase coplanares e as porta-painéis deslizantes de vidro com quase 4 metros de largura. Elas podem ser abertas inteiramente, diluindo divisões e unificando os espaços.
O programa organizado linearmente exibe superfícies contínuas que demarcam os setores da casa. A área generosa conta com pé-direito de 2,40 metros, cuja medida oscila para mais no bloco transversal da cozinha, sala de música e televisão. Lá, Kogan instituiu o rebaixamento do piso no miolo da laje. O desnível de apenas um degrau garante conforto para o interior sem comprometer a delicada aparência externa do volume ortogonal.
Do último piso, onde se encontra a inquieta obra de arte pensada como um espaço arquitetônico à enorme jabuticabeira do jardim, os profissionais envolvidos no projeto da Casa Cobogó fizeram da construção um espaço com atmosfera reflexiva que invoca um breve silêncio contemplativo.
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