Com toda ‘pinta nova-iorquina’, de onde é originária, a famosa casa de blues e jazz Blue Note ganha um novo endereço em São Paulo, instalando-se naquele que é considerado seu corredor cultural mais importante, a Avenida Paulista. O estabelecimento encontra-se no 2º andar do Conjunto Nacional e teve seu projeto de interiores concebido pela arquiteta Carolina Ciola Fonseca, do Studio ió Arquitetura & Lighting.
A primeira filial do Blue Note no Brasil foi inaugurada no Rio de Janeiro em 2017, pelo empresário e detentor da marca no país Luiz Calainho. Quando decidiu trazer a casa para a ‘terra da garoa’, convidou o sócio e um dos principais empresários da noite paulistana, Facundo Guerra, para participar da nova empreitada.
Com o decorrer do tempo, os dois parceiros trouxeram mais seis sócios para concretizar o negócio. Segundo a arquiteta, um dos maiores desafios foi o prazo reduzido – a equipe teve quatro meses para concluir os projetos de arquitetura, interiores, lighting design, paisagismo e complementares, tudo simultaneamente. “Foi desafiador, mas o empenho dos envolvidos, especialmente da equipe de apoio, facilitou as comunicações e aprovações”, revela.
Após a conclusão, o Blue Note de São Paulo passou a integrar um conjunto artístico de peso espalhado mundo afora, junto com os clubes de Nova Iorque (EUA), Napa (EUA), Hawaí (EUA), Milão (Itália), Pequim (China), Tóquio (Japão), Nagoia (Japão) e Rio de Janeiro (Brasil).
Como o Conjunto Nacional é um empreendimento tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), não era permitido alterar a fachada, os pisos externos e nem a cobertura. Ou seja, as reformas não deveriam interferir na estrutura original.
No andar funcionava uma antiga empresa com uma grande recepção rebaixada. Para transformar esse espaço corporativo numa casa de show, 90% das paredes internas foram demolidas e cerca de 60% do piso da recepção foi elevado ao nível do restante do espaço. Os banheiros foram trazidos para o bar e alguns deslocados para o lado esquerdo, para a varanda e área de DML (apoio à limpeza).
Outros espaços foram adicionados ao programa para atender às necessidades do público e dos artistas: dois camarins com banheiros privativos, cozinha industrial, sala administrativa, mais banheiros para os clientes, espaços para estoques e pisos elevados no salão das três áreas de sofás e palco. A antiga rampa que havia no andar foi demolida e refeita com a inclinação adaptada à norma NBR 9050 de acessibilidade.
Totalmente voltada para a Avenida Paulista, a varanda recebeu mesas bistrôs de madeira com detalhe de faixa azul e banquetas que deixam os clientes bem confortáveis. Além disso, projetores RGB nos pilares da fachada transformam o branco do prédio em azul.
A Avenida Paulista foi usada como referência para a valorização do layout e transportada para dentro do clube. O salão ficou livre e apoiado em pilares redondos estruturais existentes, fazendo com que os convidados se sintam emergidos pelo lado de fora. “É possível ver a Paulista como cenário, atrás dos vidros acústicos, assim que se senta na mesa. Quando se fecham as cortinas sabe que o show vai começar”, comenta Carolina Ciola Fonseca.
Capas de discos foram utilizadas para decorar o salão, ganhando espaço em praticamente todas as paredes internas. As mesas, em duas alturas diferentes, foram dispostas para que os clientes tenham a máxima visão e para facilitar a circulação. O pequeno palco é o diferencial do espaço – com altura reduzida e situado bem próximo às mesas, transmite a sensação de que os shows são particulares.
Para que o bar fosse alinhado com o centro do palco, foi usada uma mesa de controle de som e iluminação para delimitar. Sua parede interna recebeu revestimento de tijolo metrô branco, para favorecer a iluminação e funcionalidade durante os serviços prestados ao público. “Exploramos madeira, latão e essa iluminação contrastante onde as bebidas receberam a cor âmbar e o balcão, de mármore marrom imperial, tem uma luminosidade azul bem interessante”, menciona a arquiteta.
Por ser uma franquia, a decoração do Blue Note em São Paulo seguiu a linguagem de outras casas, sobretudo a de Nova Iorque e Tóquio. A atmosfera escura, remetendo aos tons da noite, foi predominante no projeto de interiores. A cores mais usadas são o cinza escuro; madeira tom bambu castanho no piso e nas portas; madeira mais escura nas mesas, cadeiras e banquetas; azul nos sofás e detalhe da faixa nas mesas; latão, marrom do mármore da bancada do bar e preto no forro.
O design intimista cria um clima sofisticado e ao mesmo tempo simples. Fonseca explica que analisaram a diversidade do público para compor os detalhes, para que sem sentissem tocados e acolhidos pelos espaços. “Acredito que o ambiente é especial quando toca o público. Quando entram na casa para assistir a um show, estão curtindo o momento. Isso torna tudo especial!”, conclui Fonseca.
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