Texto: Naíza Ximenes
Concebida pelo Studio Guilherme Torres para o próprio Gui Torres, a GT House é o projeto da morada do arquiteto, que fica ao lado do estúdio onde ele trabalha. Localizada no bairro dos Jardins, em São Paulo, o edifício é uma preciosidade histórica: outrora habitado pelo escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret, a estrutura data dos anos 1940.
Ninguém havia habitado o espaço desde a morte do escultor. Durante décadas, o espaço foi o endereço da Fundação Victor Brecheret, e, posteriormente, do acervo de obras do criador do Monumento das Bandeiras — um ambiente sem adaptações para moradia por um longo período.
O arquiteto Gui Torres conta que a casa em si, com seus 130 metros quadrados de área construída, é “muito tradicional”. “É como se fosse uma casa de vila, com dois quartos. (...) Além disso, tinha janelas e esquadrias feitas pelo Rino Levi, as quais removi. Elas tinham 1,95 metro, então, para mim, eram muito pequenas, muito baixinhas”, ele diz.
Posicionada de forma que a luz solar só entre diretamente através da face sul, a casa tem um “ar de caverna” — um dos pontos fortes da morada, segundo Torres. Foi pensando nisso, também, que o arquiteto investiu em uma reforma que alterasse poucos pontos do projeto original, preservando a estrutura do imóvel.
A primeira alteração foi na fachada, que ganhou revestimento de blocos de cimento para refletir a linguagem contemporânea do arquiteto. Depois de alguns anos aproveitando a frieza do cinza, Torres apostou no marrom com pedras e palha para as paredes externas, que harmonizam com o portão vermelho.
Já no interior, a reforma foi voltada para a criação de pontos básicos. Um banheiro foi dividido em dois; anexo e edícula foram unidos à estrutura principal; e o primeiro pavimento foi unificado para também permitir a entrada de luz de um ponto superior. Onde ficava a edícula, o arquiteto posicionou a nova cozinha da casa, com um grande jardim com jabuticabeiras e bastante verde.
No pavimento superior, Gui optou por manter o layout tradicional de dois quartos e utilizar o design de interiores para adaptar o espaço. A aposta foi em elementos contemporâneos com detalhes históricos, refletindo a personalidade e a criatividade de seu morador.
A estratégia permitiu que o arquiteto pudesse usufruir de grandes obras para compor a identidade do ambiente. Algumas delas, por exemplo, são da artista plástica Pinky Wainer e marcam o design da GT House, como os neons vermelhos e o coração em lambe lambe.
A casa também ganhou muxarabi de madeira no forro em mais de um ambiente, uma marca registrada do arquiteto que cria um jogo de luz e sombra no imóvel.
“Volta e meia, começa a chover”, conta o arquiteto. “Vai entrar água em algum lugar, porque como ela tem seus 80 anos, a patologia dela é muito estranha. (...) Cada vez vai ter uma coisa diferente. Uma porta que não abriu, hoje abre fácil demais. A outra está emperrada. Esse tipo de coisa acaba me divertindo, sabe? (...) Eu poderia arrumar, poderia mostrar, mas deixa ali, é bom”, conclui.
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