Pela segunda vez os largos do Pelourinho passam por uma reabilitação funcional. Se antes, em meados da década de 1980, criou-se o conceito de “cidade sorvete” – em função das fachadas coloridas e da proposta de utilizar os antigos quintais em espaços unicamente voltados para bares, restaurantes e espetáculos – agora o novo projeto pretende potencializar os largos e engendrar uma dinâmica de reocupação que traga usos interessantes para os turistas e seja compartilhada por gerações e classes sociais distintas.
“Os largos, na realidade, foram criações recentes. Datam do final dos anos 1980, quando demoliram miolos de algumas quadras e as unificaram. O objetivo, na época, era criar estruturas de apoio à revitalização. O Pelourinho estava, literalmente, em ruínas, portanto houve o reforço estrutural e obras voltadas à criação de estacionamentos, rede de esgoto e elétrica, etc. Com o passar dos anos, a funcionalidade estabelecida para os espaços tornou-se insustentável, e novamente aconteceu o abandono do centro”, explica Raphael França, arquiteto.
A distinção dos três largos – Pedro Arcanjo, Tereza Batista e Quincas Berro d’água – era crucial, tanto em relação ao uso de cada um, quanto ao tipo de material empregado, que servirá para sublinhar a identidade dos espaços.
O Pedro Arcanjo foi pensado como um belvedere entre a cidade histórica e a cidade moderna, marcado por um deck a ser utilizado como anfiteatro, mirante e cinema a céu aberto. “Ele foi construído acima de um estacionamento, então foi necessário trabalhar com a estrutura existente, o que levou ao uso de arquibancadas. Empregamos a madeira sintética para atingir a percepção de espaço público quase doméstico. Esse grande deck – que pode atrair cafés, restaurantes e livrarias, e até mesmo ser utilizado como um espaço de repouso – é sustentado por uma estrutura metálica. Abaixo dela será possível fazer a captação da água nas lajes”, explica o arquiteto.
O segundo largo, o Tereza Batista, segue sua vocação para grandes eventos, com um palco suspenso e um discreto toldo branco que dialoga com as fachadas. Seu layout flexível deverá abrigar várias atividades, tornando-se um espaço de inclusão social e de feiras de artesanato e culinária.
“O concreto e a arquitetura sóbria são as marcas desse largo. Ele tem um acesso muito claro para a rua Gregório de Matos. A quadra na qual está localizado abriga o SESC Bahia e o Museu Udo Knoff. Tem a vocação de ser um espaço expositivo durante o dia, com flexibilidade para abrigar shows maiores à noite. Ou seja, ele representa a transição entre um Pelourinho ainda voltado para o espetacular, mas apto a outros usos diurnos – um quarteirão que pode ser ocupado por ateliers e escritórios, por exemplo”.
Por fim, o Quincas Berro d’água é o que tem maior potencial para ser reocupado por habitantes. “Trata-se de um enorme quintal verde, que trabalha a diferença entre os níveis com uma topografia única e que o transforma em uma grande praça contemporânea. Ao lado da vegetação, os toldos vão oferecer proteção, permitindo até mesmo que restaurantes, hoje voltados para a rua, criem esse contato com o interior”.
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