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Casa Pico

Casa Pico
Edifício de uso misto na Suíça privilegia arquitetura com planta e acesso livres. Seus pavimentos podem acomodar vários layouts, e o térreo foi transformado em passagem pública, permitindo às pessoas irem de uma rua a outra. Imagens: Nelson Kon
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Construção integrada à rua

Texto: Gabrielle Victoriano

Na cidade de Lugano, Suíca, um prédio de uso misto – comercial e residencial – nomeado de 'Casa Pico' incorpora um conceito que, no Brasil, ainda dá seus primeiros passos. O projeto do edifício criado pelo escritório spbr arquitetos, em colaboração com Baserga Mozzetti Architetti, aposta na integração com o espaço público, ao deixar o térreo livre, dotado de um pequeno bloco de escritório e uma passagem ajardinada ao nível da rua. Por este jardim qualquer pessoa pode cruzar o prédio, indo de uma via à outra.

A atraente frente esconde um programa incomum: o térreo da Casa Pico é totalmente comercial, mas os outros andares abrigam apartamentos residenciais com tamanhos variados, de acordo com a necessidade do programa Angelo Bucci

“Sugerimos a solução e ficamos felizes ao ver que funcionou e está sendo muito bem-recebida pela população. Na Suíça, trata-se de uma novidade. As edificações são fechadas com grades e possuem jardins privativos. Aqui no Brasil, por uma questão social, esse conceito é mais difícil de ser implementado hoje, embora esteja presente no repertório brasileiro, como parte dos anos de 1960 e 1970, de grandes arquitetos como Paulo Mendes da Rocha e Vilanova Artigas", comenta o arquiteto e autor Angelo Bucci.

Estrutura e planta em recorte

O prédio de seis andares ajusta-se a um terreno irregular que dita o design angular da construção. Os arquitetos também tiveram de lidar com uma legislação de recuos rigorosa, e o resultado disso é uma pequena área construída com lajes repletas de recortes, mas livres de vigas. A Casa Pico tem estrutura com paredes perpendiculares em forma de 'T'. As empenas de concreto e os pilares cilíndricos, alinhados e soltos organizam os espaços das lajes, que ficam independentes para poderem ter qualquer forma. “Daí parte o desenho esbelto, com balanços enormes”, complementa o arquiteto.

Na fachada, painéis alternados, de vidro e madeira, transmitem um belo efeito, já que cada plano opaco se relaciona com um transparente. “A atraente frente esconde um programa incomum: o térreo da Casa Pico é totalmente comercial, mas os outros andares abrigam apartamentos residenciais com tamanhos variados, de acordo com a necessidade do programa”, revela Angelo.

Sucessão de planos e materiais

Na face posterior à fachada principal, na área de circulação vertical, há venezianas de alumínio que protegem da incidência do sol Foto: Nelson Kon

Diferentemente do que acontece no Brasil – em que as casas se organizam como somas de volumes –, a Casa Pico é uma sucessão de planos que vão do chão ao teto. No exterior, há panos de vidro e de madeira na fachada e, na outra face, venezianas de alumínio. No interior, o mesmo acontece: as paredes determinam planos e não caixas. Até as varandas seguem essa regra ao serem projetadas como planos retangulares soltos um dos outros.

Interiores com planta livre

Com rigor na estrutura e liberdade na planta, Angelo Bucci distribuiu o programa entre recortes e reentrâncias estruturais, em forma de retângulo e quadrado. São dois apartamentos por piso, mas facilmente adaptáveis a um só. No layout com um apartamento, no lado leste, há quarto, cozinha e sala; enquanto no leste, outros dormitórios e salas com apenas uma parede limítrofe.

Nas plantas integradas, uma grande sala de entrada é o ponto central de distribuição de dois núcleos bem-definidos: de um lado o do casal; do outro, o dos filhos. Este também acomoda uma pequena sala. Há no prédio, ainda, garagem com iluminação natural e área de armazenamento.

A decoração de interiores exibe mobiliário de cores sóbrias desenhado pelo spbr arquitetos, que é composto por Bucci, Tatiana Ozzetti, Juliana Braga e Nilton Suenaga. O design esbelto lembra o próprio sistema de empenas do prédio.

Esta foi a primeira construção feita com o Andrea. Ele já tinha alguns desenhos e pediu nossa colaboração, porque queria algo diferente (...) A partir daí, nasceu uma equipe híbrida, com o melhor da arquitetura brasileira e europeia Angelo Bucci

Conforto térmico

A diferença entre projetar em países tropicais como o Brasil e europeus, como a Suíça, passa principalmente pelo clima. Angelo Bucci esclarece que, quando se tem temperaturas abaixo de zero, os desafios técnicos aparecem. “Era necessário um sistema de aquecimento que isolasse completamente exterior de interior. Por isso, a empena de concreto é interrompida antes de chegar ao exterior, evitando a ponte térmica – um fenômeno que resfria os materiais –, e o interior da residência, ao receber o frio que vem de fora.”

As vedações também são um capítulo à parte: a construção apresenta vidros triplos nos caixilhos, sistema avançado de ar condicionado que realiza a troca de ar e até uma sonda geotérmica enterrada a 250 m no terreno. Parte do aquecimento do prédio, ela faz as trocas de temperatura entre o interior do prédio e a terra aquecida. A medida mantém o conforto térmico nos apartamentos e escritório avarandados.

Parceria suíço-brasileira

A parceria entre o engenheiro Andrea Pedrazzini, também dono do terreno da Casa Pico, não é de hoje. O arquiteto Angelo Bucci o conhece há anos e ambos haviam realizado outros projetos na própria Suíça e em países como México e Estados Unidos. “Esta foi a primeira construção feita com o Andrea. Ele já tinha alguns desenhos e pediu nossa colaboração, porque queria algo diferente. Enviamos uma proposta, e ele gostou. A partir daí, nasceu uma equipe híbrida, com o melhor da arquitetura brasileira e europeia”, conta o arquiteto.

Escritório

  • Local: LU, Suíça
  • Início do projeto: 2008
  • Conclusão da obra: 2013
  • Área do terreno: 992 m²
  • Área construída: 2.661 m²

Ficha Técnica

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