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Casa em Aldeia da Serra

Casa em Aldeia da Serra
Sustentada por quatro pilares no terreno em aclive, a residência projetada pelo spbr parece flutuar. Grandes panos de vidro sem caixilhos complementam a sensação de leveza provocada pela estrutura. Imagens: Nelson Kon
Casa em Aldeia da Serra
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Volume suspenso

Texto: Gabrielle Victoriano


O mais surpreendente é que os três pavimentos sempre encontram o terreno, independentemente das características do relevo, como se todos os níveis estivessem no chão Angelo Bucci

Em um primeiro olhar o projeto Casa em Aldeia da Serra, localizado em Santana do Parnaíba e Barueri, São Paulo, revela as características modernistas que inspiraram os arquitetos do escritório spbr arquitetos. Isso acontece desde a solução volumétrica até a planta, que lembra as residências projetadas por Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, parceiros dos arquitetos – que nessa época pertenciam ao escritório MMBB Arquitetos.

Apreciada sob qualquer ângulo, a residência revela um volume em forma de prisma retangular, quase inteiramente solto, com o mínimo de contato com o solo. Para isso, os arquitetos estruturaram a construção apoiada sobre quatro pilares, elevada do chão de tal modo que origina uma área idêntica embaixo dela e outra em cima. “É como um quintal ao sol e outro à sombra”, reflete o arquiteto e autor Angelo Bucci. Para sedimentar a integração ao terreno existem rampas, passarelas e escadas.

O partido e o programa resolvem-se em três níveis, em um lote com 20 m de frente por 40 m de fundo que parte da rua de forma ascendente e lembra dois quadrados contíguos, com 8 m de desnível entre a frente e o fundo. “O mais surpreendente é que os três pavimentos sempre encontram o terreno, independentemente das características do relevo, como se todos os níveis estivessem no chão”, ressalta Bucci. Tudo isso acompanhado de um partido regido não só pelos usos, mas pelas belas visuais do condomínio.

Cimento, madeira e vidro

A sala tem grandes panos de vidro que correm por trilhos e permitem a integração entre interior e exterior Foto: Nelson Kon

Todas as paredes foram feitas em argamassa armada. No lado externo elas se mostram sombreadas com um painel industrializado feito de cimento prensado e madeira nas laterais. As aberturas livres de caixilhos são chamadas de janelas em fita, pois se abrem a partir de um sistema similar ao da régua paralela, com peitoril baixo e fechamentos com grandes panos de vidro, que se movem em trilhos, de um lado a outro.

No interior, o chão é revestido de granilite, enquanto no exterior, de concreto lixado. Já a cobertura é formada por uma laje protegida com um espelho d’água. O recurso tem a importante função de impermeabilizar a laje, sendo revestido em parte por pisos quadrados de concreto.

Estrutura de concreto

Com uma planta simples, que se resolve em um quadrado de 16,20 x 16,20 m, a casa estrutura-se com um vazio central semelhante a uma fenda, cuja função é acomodar os dois lances de escadas com iluminação zenital e trazer luz para os ambientes de serviço. O vazio também gera um pequeno platô à frente do lote. “As características acabam criando uma volumetria marcante, que lembra um prisma elevado e apoiado em apenas quatro pontos, ora fechado ora aberto”, resume Bucci.

A Casa em Aldeia da Serra cultiva um eficiente conforto ambiental e redução do uso de energia. Além de uma estreita relação entre arquitetura e natureza Angelo Bucci

A estrutura de concreto armado é feita com fôrmas plásticas para laje nervurada – semelhantes a um waffle – construídas in loco, em módulo de 90 x 90 cm e escoras metálicas. As duas lajes nervuradas e sobrepostas têm 16,20 m de cada lado, subdivididas em 18 séries de 18 alvéolos em linha. As colunas organizam-se em quatro, com secção quadrada de 45 cm de lado, distantes uma da outra 9,90 m na ortogonal. A opção trouxe a leveza necessária para sustentar o prisma.

As duas escadas sobrepostas se alojam no vão equivalente a dois alvéolos de largura por dez de comprimento. Elas estão posicionadas levemente deslocadas do centro da casa, o que provoca uma assimetria que influencia nos espaços internos e permite o surgimento de áreas distintas para acomodar os usos necessários: quartos, banheiros, salas e cozinha.

Programa em três níveis

O programa detém característica claramente modernista, encampada pelo escritório spbr, encontrada em vários projetos do século 20, com parte do setor privado e social – quartos, banheiros, cozinha e living – concentrado no andar superior, no nível intermediário. No aclive do terreno foram construídos os pavimentos térreo com garagem, área de serviço e dependências de empregados e, o primeiro andar, com dormitórios, escritórios, cozinha e salas de jantar e estar. Este ainda abriga um terraço descoberto com espelho d’água.

Os três pavimentos têm o térreo parcialmente livre, no nível da rua, uma vez que apenas um dos cantos da área quadrada é ocupada pela área de serviço e pelas dependências de empregados. O resto da área é tomada pela garagem.

Conforto térmico e energético

Na fachada principal prevalece uma grande vidraça corrida, de fora a fora. Abaixo, o terreno aparece em forma de um surpreendente talude gramado. Nos fundos há duas pontes em cotas e posições diferentes. Elas conectam a casa com o terreno em aclive. As laterais guardam os quartos e a sala. “Seja por meio da transparência dos panos de vidro ou da água da cobertura e pelo terreno ascendente, a Casa em Aldeia da Serra cultiva um eficiente conforto ambiental e redução do uso de energia. Além de uma estreita relação entre arquitetura e natureza”, complementa Bucci.

Escritório

  • Local: SP, Brasil
  • Início do projeto: 2001
  • Conclusão da obra: 2002
  • Área construída: 300 m²
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