A convite da Fundação Bradesco, os escritórios Aleph Zero e Marcelo Rosenbaum assumiram a reforma do projeto Moradias Infantis – uma escola com regime de internato localizada na zona rural da Fazenda Canuanã, no município de Formoso do Araguaia (TO).
Mantida pela Fundação há 40 anos, a instituição acolhe crianças e jovens com faixa etária entre 7 e 18 anos. Embora sempre tenha sido um espaço de proteção e cuidado, a escola precisava ganhar ares de casa, aproximando-se do modelo cultural e familiar desses jovens. E esse foi um dos desafios impostos aos arquitetos, que precisavam resgatar histórias e memórias acima de tudo.
Em 2017, o projeto Moradias Infantis foi escolhido para receber o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes) na categoria “Obra de Arquitetura no Brasil”.
Cada detalhe do projeto foi feito em conjunto com as crianças. Ambos os escritórios fizeram questão de consultar cada aluno para saber seus gostos, ideias e o que gostariam de ter numa escola que seria também seu lar.
Para isso, os três arquitetos foram visitar as aldeias indígenas mais próximas, as casas dos avós das crianças e dos pais e ver de perto como era a construção por lá, saber como funcionava a relação entre eles e quais eram os conflitos.
“Descobrimos uma riqueza cultural muito grande. Ficou muito claro que nós tínhamos que utilizar esses saberes populares para aprender com eles e traduzir isso de alguma forma dentro do projeto”, conta o arquiteto Pedro Duschenes, do Aleph Zero.
“Precisávamos saber qual era a representação desse edifício na vida das crianças, queríamos que simbolizasse uma identidade de pertencimento, de lar e que a escola fosse uma referência de futuro”, relata Marcelo Rosenbaum.
Por isso, a reforma buscou priorizar técnicas construtivas regionais, que resgatassem a beleza indígena e valorizassem os biomas locais: do cerrado, do Pantanal e da Amazônia.
Entre os materiais usados destacam-se tijolo de adobe, palha trançada e madeira laminada colada, que possibilita a fabricação de peças em grandes dimensões, além de permitir curvas.
A madeira, por sinal, predomina em toda a estrutura. A princípio, os arquitetos haviam pensando em fazer estruturas de concreto, porém, perceberam que na região não havia fábricas desse material e, portanto, deveria ser trazido de fora, o que tomaria tempo e acarretaria custo. Por conta disso, optaram pela madeira como material principal, simplificando a montagem do projeto.
O local na verdade era uma antiga fazenda que foi adaptada para se tornar uma escola, então, alguns blocos são novos, como os blocos onde são realizadas as aulas e onde fica a casa de alguns professores.
Dentro da instituição, que conta com mais de 23 mil metros quadrado, há ambientes para moradia e convivência, além de estudos. O lugar foi organizado em duas vilas, uma para meninos e outra para meninas. Esta separação já existia na antiga construção e foi mantida. Os dormitórios foram distribuídos em 45 unidades, com seis alunos cada.
Ao lado dos quartos estão áreas de convivência, como sala de TV, espaço para leitura, varandas, pátios, redários, auditório, área para brincar, entre outras. Todas essas novas propostas foram feitas em conjunto com os estudantes, a fim de fortalecer a ligação deles com a instituição.
“O que mais gostei, sem dúvida, foi do processo de criação junto com as crianças. Ver que o projeto ficou exatamente como foi sonhado e pensado. Acho que esse valor é muito forte”, comenta Rosenbaum.
“Poder ter participado dessa melhoria de mundo, de educação, de dar um lar para essas crianças, foi muito especial para mim. Pudemos influenciar positivamente na vida delas, não só pelo lado do conforto, mas por ser também um espaço que possa inspirar elas a entender o mundo de uma maneira diferente”, completa Duschenes.
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