O arquiteto Rodrigo Simão passou muitos momentos da sua infância em uma casa de madeira em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Há pouco tempo ela foi vendida, e os novos moradores o convidaram para transformar o refúgio de finais de semana em uma residência para uma família com filhos pequenos. Nasceu, assim, a Residência BangaLove.
O que eu mais gosto nesse projeto é a sensação de que ela já pertencia ao local, de que está encaixada na natureza. Os materiais pouco refletivos harmonizam bem com os elementos naturais Rodrigo SimãoA proximidade da casa atual de Rodrigo com o projeto somado a sua vivência prévia no local permitiu que a morada nascesse de forma intuitiva. “A gente foi descobrindo as necessidades do projeto no decorrer da obra, como se estivéssemos preenchendo um formulário. As condições do local foram induzindo a gente ao projeto”, comenta.
O desenho do chalé foi guiado por duas premissas: o programa apresentado pela família e os fatores determinantes do local, como rumos do terreno, o relevo, a casa já existente, a orientação solar e os enquadramentos da paisagem.
Originalmente, a residência era bem menor do que a atual, com 234,36 m². Mas como ela havia sido construída com a madeira nobre canela preta, de excelente qualidade e que não é mais comercializada no Brasil (por ter sido extinta), valia a pena ser mantida. Assim, optou-se por, em vez de demoli-la, estender o programa, uma vez que a família queria mais suítes e áreas de lazer para os filhos.
Primeiramente, foi realizada uma transformação no chalé existente, eliminando todas as divisórias internas e o segundo andar, o que culminou num espaço amplo com pé-direito duplo que abriga uma cozinha integrada e a sala de estar. Os painéis de madeira antigos foram substituídos por requadramentos de madeira e vidro, e nas laterais, onde o telhado anteriormente se fechava, foram abertas mansardas – janelas dispostas sobre o telhado para iluminar e ventilar – o que fez com que a casa se “abrisse” para o jardim.
Mesmo maior, o espaço ainda não era suficiente. O próximo desafio, portanto, foi inserir novos ambientes no terreno. Para isso, foram construídos dois “anexos”, que, conectados por passarelas envidraçadas, dão acesso ao chalé principal. “Essas novas construções foram acomodadas nos desníveis existentes, não sendo necessários grandes movimentos de terra”, diz Simão. Nesses novos espaços estão acomodadas três suítes, sendo que a maior tem uma sala de banho – o xodó dos moradores –, a sala de TV e a oficina de bicicleta.
O pavilhão externo comporta a área social. A piscina foi reformulada sendo dividida em duas: um trecho frio e outro aquecido por painéis solares com hidromassagem. Próximo a ela está a sauna, desenhada no formato de uma pequena caixinha de vidro com 1,90 m x 1,20 m, a partir das fundações do antigo chalé, e um chuveiro embutido em um tronco de madeira. Para receber visitas, o arquiteto projetou uma cozinha gourmet ao ar livre, com cobertura de pergolado de aço e vidro e uma mesa horizontal no estilo “refeitório”.
Um dos pedidos do proprietário era que fosse aproveitada toda a luz solar possível, o que Simão seguiu à risca. Com a substituição da fachada original de madeira por painéis de vidro e pranchões com desenhos irregulares, a luz natural invade toda a casa, exceto os closets e os banheiros – que ganharam claraboias. A feliz escolha aumentou a sensação de que o chalé pertence àquele habitat.
A fachada original serviu de matéria-prima para luminárias desenhadas por Simão especialmente para o local. “Toda madeira do antigo chalé foi mantida, porque é uma madeira muito nobre. Tudo o que foi desmontado virou luminárias ou forrações”, explica.
É iluminação indireta. Toda luz é muito filtrada e refletida através da madeira. Parece que a casa tem luz própria Rodrigo SimãoNas vigas de aço da cobertura dos espaços de convivência, foram embutidas cantoneiras contendo fitas de LED que produzem, associadas à forração da madeira, uma iluminação indireta e tão tênue que não é possível perceber de onde vem a luz. “Toda luz é muito filtrada e refletida através da madeira. Parece que a casa tem luz própria”, completa o arquiteto.
A construção e o paisagismo assumiram importância equivalente à da arquitetura, a fim de valorizar a natureza ao redor. A preocupação de manter todos os elementos paisagísticos pré-existentes moldou o desenho e as matérias-primas utilizadas na obra. “O que eu mais gosto nesse projeto é a sensação de que ela já pertencia ao local, de que está encaixada na natureza. Os materiais pouco refletivos harmonizam bem com os elementos naturais”, opina Rodrigo. “As construções novas parecem originais e não complementos. Isso foi um acerto no projeto”, comemora.
Materiais de demolição de diferentes procedências foram utilizados no projeto, como esquadrias, trincos, fechaduras, forrações de madeira e pedras, geralmente empregados em seu estado bruto. Grande parte das luminárias foram confeccionadas a partir de peças de madeira do chalé existente. Um aspecto interessante de se construir envolvendo processos de reciclagem é que grande parte dos recursos são investidos em transporte e mão de obra locais, minimizando custos ambientais envolvidos tanto no descarte destes materiais quanto na extração e logística de materiais de construção convencionais."A justificativa é nobre; agrega-se humanidade e valor anímico aos ambientes", comenta Simão. No teto do anexo onde estão as suítes, outra madeira ganhou destaque: a peroba mica, indicada como madeira alternativa pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
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