Para reformar e ampliar uma residência na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, o arquiteto Rodrigo Simão explorou a potencialidade de materiais em busca de integração com o local.
Por meio do bom dimensionamento, mas sem adotar uma grande metragem quadrada, interligamos os espaços visualmente. Eles agora dão a sensação de praticidade, de que tudo está à mão Rodrigo SimãoCom estrutura mista de pedra, aço e madeira, a Casa em Correas cria anexos e faz a reformulação paisagística do local ao integrar a arquitetura à paisagem existente, respeitando o relevo, as pedras e as espécies nativas do local. O resultando é um conjunto de pavilhões entremeados pela exuberante Mata Atlântica
A horizontalidade da construção, os anexos, a integração com o entorno, o uso de materiais naturais e coberturas leves, a transparência e os conceitos desenvolvidos em conjunto com o casal de moradores nortearam a construção da residência, adaptada ao contexto existente.
“Tudo começou quando eu estava desenvolvendo para o mesmo casal um projeto já em fase de detalhamento em Itaipava, Petrópolis (RJ). Era uma casa bastante horizontal, térrea, com suítes independentes para os dois filhos de 23 e 30 anos, criando anexos entremeados de jardins, em um único pavimento. Ao adquirir este terreno em Correas, Petrópolis, os proprietários resolveram adaptar o projeto e programa da construção para o novo endereço”, conta.
Embora as suítes fossem pequenas na casa original, elas eram bem acolhedoras. Por isso, foram aproveitadas sem a necessidade de fazer alterações estruturais. Já a ampliação da sala de jantar exigiu uma nova estrutura de toras de madeira, que suportam a laje de concreto impermeabilizada e abriga atividades de cozinha, estar e home theater. “A sala de estar ganhou ampliação e um espaço unificado, funcional, integrado à paisagem. Os anexos – academia, suíte máster, oficina, ofurô e garagem – foram construídos da fundação ao acabamento”, detalha Simão.
Na Casa em Correas, sala de estar, cozinha e home theater formam um só espaço aberto e unificado, sem divisórias. A solução de integração espacial e o uso das grandes aberturas de vidro ampliam visualmente o espaço e integram a vida doméstica ao jardim e à região. Segundo o arquiteto Rodrigo Simão, o projeto visou a funcionalidade. “Por meio do bom dimensionamento, mas sem adotar uma grande metragem quadrada, interligamos os espaços visualmente. Eles agora dão a sensação de praticidade, de que tudo está à mão”.
Empregada como elemento principal, a madeira figura no piso, teto, na estrutura e nas esquadrias e confere ao ambiente uma atmosfera tátil e acolhedora. O reúso de pedras e madeiras minimiza o corte de árvores e de pedreiras e investe no ser humano, que restaura ou retrabalha esses materiais. “Esse esforço é considerado uso responsável e ecológico de matéria-prima, ganhando pontos na certificação LEED, emitida pelo Green Building Council (GBC)”.
Nos corredores, closets e banheiros das suítes há claraboias que aproveitam a luz natural, diminuindo o impacto do consumo de energia. A claridade também invade a Casa em Correas pelos grandes vãos de esquadrias. No projeto de iluminação, a luz indireta em toda a casa tem um tom âmbar confortável. Para as luminárias, o design adota a tonalidade cobre, que harmoniza perfeitamente com a estrutura de madeira e com os jardins.
As árvores centenárias do local contribuem para o sombreamento e conforto térmico no interior da residência. No paisagismo, houve o aproveitamento do relevo, das pedras e das espécies nativas. Simão acentua que houve uma extrema integração com a natureza. “Para isso, reutilizamos materiais naturais e espalhamos a construção em edículas, criando um percurso em meio à Mata Atlântica. O resultado é uma arquitetura mais leve e pertencente ao local”.
A Casa em Correas usa extensivamente materiais naturais, cores pouco refletivas como verde-folha e cinza-chumbo para as peças estruturais metálicas, e verde-musgo para a alvenaria externa. Assim, a estrutura, feita com toras de madeira e alvenaria, recebeu emboço, reboco e pintura acrílica na cor verde-musgo. Nos fechamentos, as novas esquadrias são de madeira freijó. A automação foi usada para irrigação, para o acionamento dos cenários de iluminação e para os portões de entrada.
Madeira, pedra e aço predominam na construção. O motivo? “A madeira é pelo conforto visual, anímico e térmico que proporciona. Já a pedra, pela perenidade. Por isso, ela estampa pisos nas áreas externas, escadas, forrações das piscinas naturais, caminhos e algumas paredes externas”, revela o arquiteto.
Além disso, peças de madeira usadas no passado para descarga de tratores em terrenos difíceis, bastante marcadas pelo uso, foram adquiridas e desdobradas. Elas forneceram material de textura ímpar e formatos pouco usuais como as toras de seção 30 x 30 cm usadas em grande parte da estrutura. Segundo Simão, nada foi desperdiçado: os casqueiros resultantes da limpeza das peças e outros materiais de demolição foram usados para forrações de alvenaria, mobiliário, portão principal de entrada, rodapés e alizares da Casa em Correas.
O aço, também utilizado nas estruturas, aparece associado a assoalhos de madeira impermeabilizados com manta asfáltica. “Ele está apoiado sobre as toras rústicas de madeira com a finalidade de promover a leveza em contraste com a brutalidade das peças de madeira”, conta Rodrigo Simão. O metal também está presente no grande vão da garagem. Os grandes balanços nas coberturas da academia e da churrasqueira só foram possíveis por causa do uso de perfis de aço do tipo “i” e tubulares.
No interior, a simplicidade das composições reflete o exterior e busca adaptar o mobiliário às obras de arte dos proprietários – como poltronas de Oscar Niemeyer, do antigo Hotel Nacional, e quadros da artista Katharina Welper.
No mobiliário, o arquiteto ressalta as portas antigas de madeira maciça utilizadas nos quartos. “Algumas são de sucupira, outras de canela preta. A experiência tátil da presença da madeira é incrementada pelos aromas que elas exalam no interior da casa”. Bancadas, armário da cozinha, mesa de jantar, aparadores da academia e sofá para o home theater foram feitos sob medida em peroba-rosa e canela-preta.
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