Era 1959 quando o engenheiro franco-brasileiro Humbert Monacelli resolveu projetar e construir sua própria casa no bairro do Campo Belo, em São Paulo. Seu desenho original era um exemplo da arquitetura modernista paulista da época. Mas com o passar dos anos e efetuadas algumas reformas, a estrutura começou a perder seus traços racionalistas. Foi então que, em 2015, o atual proprietário decidiu convidar o escritório Jamelo Arquitetura para uma repaginação.
Batizada de Residência Campo Belo, a morada passou por uma reforma com ampliação. Ganhou uma infraestrutura mais organizada e articulada, tecnologia de ponta, soluções sustentáveis e racionais e, a pedidos dos moradores, um pavilhão externo para recepções.
A casa foi inserida num terreno retangular de 1.500 m² com um aclive de, mais ou menos, 1 m. Seu antigo programa foi organizado e construído em boas dimensões – 780 m² –, porém, a divisão das áreas social, íntima e de serviços não era clara, e os ambientes projetados para a época não se encaixavam nos modelos atuais.
Segundo o arquiteto Lorenz Meili, a residência tinha dormitórios reduzidos e banheiros enormes. “Os banheiros da década de 1950 eram do tamanho de um quarto, e por outro lado, os dormitórios eram pequenos. Então tudo isso precisou ser refeito”, conta.
Os moradores queriam que a área íntima fosse separada do restante da casa, e que as de serviços e de circulação fossem reorganizadas. Além disso, como gostam de receber amigos e organizar festas, pediram também por espaços mais dinâmicos e generosos. Assim, os ambientes existentes foram redistribuídos para melhor organização espacial.
A casa original foi construída em forma de ‘U’, com um extenso jardim na frente e outro na parte posterior do terreno, envolto pela estrutura. A ideia foi manter as duas arestas da construção para encaixar o pavilhão de recepções.
Esse espaço conta com uma planta livre, onde podem ser organizados grandes e pequenos eventos – desde um jantar mais íntimo até uma recepção para 200 convidados, sem, contudo, tirar a privacidade das áreas privadas.
São 20 placas solares que captam a energia solar e a transformam em elétrica. A casa é abastecida por todo esse recebimento natural, e o que sobra vai para a rede pública Giuliana MartiniPor isso, a circulação também foi repensada em função dos usos. “Primeiramente, procuramos setorizar a casa, deixar bem claro o que era área íntima e social. E como apoio ao pavilhão, pensamos que seria importante ter uma área de serviços bem estrutura e articulada com o setor privado e de recepção”, comenta a arquiteta Giuliana Martini.
Recuperar a linguagem modernista da obra original foi o que guiou os arquitetos na escolha dos materiais e revestimentos. Por isso, itens como as pastilhas de porcelana e as pedras do piso e da entrada social foram apenas limpos e recuperados para continuar no projeto.
O restante dos materiais é simples: madeira cumaru, concreto aparente, vidro e granilite. Além disso, cores claras compõem a atmosfera, por isso as paredes são todas brancas e apenas um único piso reveste toda a área social da casa. “Só na parte íntima que colocamos piso de madeira cumaru. Os caixilhos também são bem simples e brancos, tentamos o possível para preservá-los”, expõe o arquiteto.
Os brises de madeira certificada que envolvem o pavilhão mantêm a privacidade quando necessário e permitem flexibilidade para a entrada de ventilação e iluminação naturais.
Na parte de dentro, o espaço de recepção ganhou um toque especial e feito sob encomenda: um mural de azulejos cerâmicos brancos com pintura metálica de platina, assinado pelo artista plástico brasileiro Alexandre Mancini. “A obra se chama ‘O caminho do planalto’. É muito bonita, com azulejos brancos e um desenho de platino”, comenta Meili.
A Residência Campo Belo recebeu soluções sustentáveis, racionais e de infraestrutura.
No lugar da antiga piscina, no jardim posterior, foram implantadas três cisternas de 10 mil litros para a coleta de águas pluviais. Foi feita uma ligação do sistema hidráulico com as caixas dos vasos sanitários e torneiras dos jardins para o reaproveitamento de toda a captação.
A ventilação cruzada foi favorecida em todas as áreas, reduzindo o uso de ar-condicionado. Além disso, todos os grandes panos de vidros receberam películas de proteção contra raios UV, que diminuem consideravelmente a incidência nos ambientes internos, permitindo melhor conforto térmico e economia de energia.
Uma usina solar fotovoltaica de 10,5 kWp, do tipo “on-grid”, foi instalada na laje do pavilhão. “São 20 placas solares que captam a energia solar e a transformam em elétrica. A casa é abastecida por todo esse recebimento natural, e o que sobra vai para a rede pública”, conta a arquiteta.
Na saída da residência tem um medidor bidirecional para que os moradores possam medir a energia que entra e que sai. No final do mês, fazem um balanço de toda a energia utilizada e doada. Se tiver um crédito energético, podem receber de volta ou até usar em outro endereço.
Além disso, também foi instalado um sistema de aquecimento solar de água da casa.
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