Texto: Naíza Ximenes
Harmonia e disciplina, criatividade e precisão, expressão e controle. Observados tanto na música quanto na arquitetura, um não existe sem o outro — e são conceitos que os arquitetos do escritório Reinach Mendonça Arquitetos Associados incorporaram para projetar a nova sede da escola de música Espaço Musical Ricardo Breim.
Entre uma rua movimentada e uma viela de pedestres no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, a escola de música ocupa o terreno que, originalmente, abrigava uma casa. A antiga construção era simples, com uma garagem no nível da rua e área principal mais elevada, acessada por uma escada externa.
A escolha dos arquitetos foi por manter a estrutura principal e adaptá-la. Onde estava a garagem, surgiu uma nova sala (envidraçada e voltada para a rua, para apresentações comunitárias). Onde estava o pavimento principal, entrou o novo destaque do projeto: uma parede inteira de cobogó, que dá identidade ao estabelecimento.
A mureta que separava a viela da lateral do lote foi derrubada e o gradil que limitava a garagem foi retirado, já que o intuito era garantir a integração. Ao invés de manter essas barreiras físicas, a aposta foi em um recuo frontal significativo, que possibilitaria as apresentações públicas em toda a extensão da calçada e garantiria o visual amplo do projeto.
Os caixilhos visíveis da área externa e o design da calçada entram em consonância com um estilo mais moderno, que também caracterizou o paisagismo discreto na fachada. A escada externa à direita foi mantida e ganhou uma das estrelas do projeto: a grande placa com o nome da escola.
Uma vez no topo da escada, há duas opções: atravessar a porta de vidro, à frente, e chegar à recepção, ou virar à esquerda e percorrer o estreito corredor que dá acesso às várias salas de música. Um guarda-corpo de vidro preenche o pequeno hiato entre o corrimão da escada externa e a parede de cobogó.
Seguindo em frente para a área da recepção, um grande corredor atrás do local dá profundidade à construção. O balcão de atendimento fica à direita, e, à esquerda, há várias portas que levam a diferentes espaços de aprendizado musical, com dimensões distintas. Essas células, como descreve o escritório, foram pensadas tanto para experiências particulares, quanto para experiências em grupo.
Todo o pavimento é marcado pelo piso vinílico, conhecido pela performance acústica ao isolar o som. Ele é cinza nas áreas comuns e amarelo dentro das células. Além de absorver impactos e ruídos, o material também tem alta durabilidade.
Essa mesma paleta de cores foi aplicada nas portas e janelas, que, apesar de serem de vidro, ganharam caixilharia central amarela e exterior cinza.
No fim do corredor, a lanchonete é o destaque dos ambientes de apoio. A ênfase, nesse espaço, está no teto, onde foi construído um pergolado de concreto coberto por vidro. A estratégia permite a entrada de bastante luz natural, sem prejudicar a performance acústica do interior do ambiente. Mesas, cadeiras e banquetas estão dispostas ao redor do balcão de atendimento, todos em madeira.
Ao percorrer o corredor formado pela lanchonete, os alunos se deparam com um grande pátio ao ar livre e deck de madeira, voltado para a viela. O espaço preenche toda a área do outro lado das células, que têm duas entradas — uma pela recepção e outra pelo pátio.
Do centro do pátio, é possível observar a parede de cobogó à frente (com um corredor protegido por uma cobertura); uma das maiores salas de aula à esquerda (com portas de vidro de correr e caixilharia amarela que preenchem toda a abertura); o grande auditório atrás (que ganhou portas de vidro de correr com caixilharia cinza tanto para o pátio, quanto para o corredor que leva à lanchonete); e um jardim à direita, que dá o toque de natureza e aconchego do projeto.
Segundo o escritório, todos os ambientes ganharam tratamento acústico especializado para garantir a menor reverberação possível de som e a qualidade do uso de todos os espaços, simultaneamente. “Era uma preocupação nossa muito grande, e, para isso, contamos com a orientação de Marcos Holz, da Harmonia Acústica, que direcionou todo o projeto arquitetônico”, afirmam.
Todo o projeto foi pensado com o maior aprimoramento econômico possível — fazendo com que os arquitetos explorassem ao máximo a estrutura principal da antiga residência. A única exceção se dá pela reorganização de paredes para acomodar todas as salas de aula e pela inclusão de uma plataforma móvel, adaptada para permitir o acesso completo a pessoas com deficiências físicas.
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