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Projeto Urbano Córrego do Antonico

Projeto Urbano Córrego do Antonico
A reurbanização do Córrego do Antonico, na comunidade Paraisópolis, em São Paulo, vai além da proposta de canalização das águas de chuva. Ela sugere o resgate de centenas de vidas dos moradores da favela. Imagens: Divulgação MMBB Arquitetos
Projeto Urbano Córrego do Antonico
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Vida resgatada

Texto: Tais Mello

Parte da comunidade de Paraisópolis – hoje uma das maiores e mais importantes favelas de São Paulo – o projeto do Córrego do Antonico integra o plano de reurbanização do local, a cargo do escritório de arquitetura MMBB. O rio corta a favela na diagonal e cruza as ruas mais importantes da área. O grande desafio era construir um novo córrego, uma canalização que produzisse ao longo de sua extensão passeios públicos, áreas de estar, de encontro e de fruição do espaço livre. “Isso era muito importante, porque uma favela tem muitas carências, mas, talvez, a maior delas seja por espaço livre”, explica o arquiteto Milton Braga.

A solução encontrada foi construir não um grande canal tradicional onde tudo acontece, mas dois. O canal de cima acomoda a água considerada segura. Já o de baixo agrega tudo o que não pode ir em cima Milton Braga

Paraisópolis nasceu em um antigo loteamento, mas o traçado de ruas e quadras é muito irregular, a exemplo da própria topografia. A arquiteta Marta Moreira observa que a impressão dada é a de que quem fez o loteamento nunca esteve no local. “Por isso mesmo ele foi fadado ao fracasso desde o início”.

Desafio sustentável

Hoje o córrego é invisível em boa parte de sua extensão – porque ele corre embaixo das casas – mas antes o local era uma área de risco. Quando chegavam as grandes chuvas de verão, algumas residências eram levadas pela correnteza. “Um dos problemas técnicos enfrentados era como acomodar em um canal um rio com milhares de litros cúbicos de água por segundo – 200 vezes acima de sua capacidade –, quando é assolado pelas chuvas extremas”, conta Milton.

A solução encontrada foi construir não um grande canal tradicional onde tudo acontece, mas dois. Milton explica que o canal de cima acomoda a água considerada segura, onde uma criança pode brincar sem ser arrastada, mesmo com as grandes chuvas. “Já o de baixo agrega tudo o que não pode ir em cima. No canal superior, com profundidade de 70 cm, vão até 2 m³/s de água; no inferior, são 3 m de profundidade e 16 m³/s de água”.

Ao projetar o canal, a maior preocupação era fazer a água encontrar seu lugar, de forma organizada, promovendo uma solução sustentável ao meio ambiente e à comunidade. Por isso há uma intercomunicação entre os dois canais. O resultado esperado de tudo isso é integrar Paraisópolis no tecido urbano, uma vez que hoje ela se encontra configurada e apartada da cidade.

Também faz parte do projeto, margeando o Antonico, o desenho de praças. Trata-se de um parque linear que acompanha o rio e se alarga justamente no encontro com uma das vias principais que cortam Paraisópolis Foto: Fábio Knoll

Desapropriações reduzidas

Com a intenção de remover o mínimo de pessoas possível, os arquitetos argumentam que grande parte das construções existentes serão preservadas porque estão em condições de uso. “Elas são ótimas s e significativas”, atesta o arquiteto.

Árvores acompanharão o percurso do rio nesse trecho, oferecendo sombra e tornando o entorno agradável. Enquanto isso, as raízes dessas plantas representarão um tratamento fitossanitário da água, com a manutenção e qualidade do líquido Marta Moreira

Ao longo do canal, será construída uma faixa que, na maioria das vezes, terá o uso dos próprios moradores. Eles terão entre dois e três metros de chão para implantar uma varanda, uma loja, alguns quartos, uma sala, ou até mesmo para abrir um novo logradouro público. “Com esse planejamento, conseguimos uma linha contínua, sem as quebradas tão comuns nas favelas e tão prejudiciais ao espaço urbano”, explica Milton.

Praça de convivência

Também faz parte do projeto, margeando o Antonico, o desenho de praças. Trata-se de um parque linear que acompanha o rio e se alarga justamente no encontro com uma das vias principais que cortam Paraisópolis. Nesse ponto estão previstas a construção de um equipamento público, de convivência.

A área será dotada de paisagismo. “Árvores acompanharão o percurso do rio nesse trecho, oferecendo sombra e tornando o entorno agradável. Enquanto isso, as raízes dessas plantas representarão um tratamento fitossanitário da água, com a manutenção e qualidade do líquido. Serão várias situações de conforto urbano, desde o barulho da água até o seu contato”, enumera Marta.

Em algumas praças de alargamento, a presença de brinquedos para as crianças – playground, bicicletas, trilhas para o percurso a pé – criará uma nova dinâmica na comunidade.

Fiscalização comunitária

Como uma importante e necessária obra de urbanismo, o Projeto Córrego do Antonico não tem um começo, meio e fim. Sua dinâmica de desenvolvimento é própria e caminha paralelamente a outras dinâmicas impostas pela comunidade local. “Se o espaço livre na favela não tiver valor claro, ele voltará a ser invadido. Se a comunidade não perceber a importância de preservar o que foi feito, eles não preservarão. Será o próprio morador – aquele que todos os dias abre sua janela para esse lugar ou a pessoa que passa diariamente de bicicleta por ali – que garantirá a fiscalização dos benefícios proporcionados pelo projeto. E que também impedirá que, de um dia para o outro, apareça uma nova casa em um lugar indevido”, exprime a arquiteta Marta.

Milton reforça a importância de trabalhar a água em Paraisópolis não só como um elemento intruso, que invade as casas na época de cheias e transtorna a vida das pessoas, mas como um elemento lúdico e até poético. Controlada e limpa, a água tornará as margens do Córrego do Antonico um lugar valioso, que incentivará a fruição da vida. “E passando gente, obviamente terá comércio, tendo comércio terá cerveja, tendo cerveja terá cultura, conversa, namoro. Talvez tenha alguma briga, afinal, espaço público é também um espaço de conflito, mas terá cidade! E é isso o que a gente espera que aconteça nesse lugar”.

Escritório

  • Local: SP, Brasil
  • Início do projeto: 2008

Ficha Técnica

  • Engenharia Estrutural - Estrutura de Concreto: Geométrica
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